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segunda-feira, março 17, 2008

Da Democracia lá no Sítio

As reservas de ouro dos bancos centrais já tinham desaparecido há muito. O primeiro banco a falir em 25 de Janeiro, arraia miúda, passou despercebido: o “Douglass National Bank” em Kansas City. O segundo, o “Hume Bank” no Missouri foi obrigado a fechar por insolvência já em Março; subindo dos pequenos, a Carlyle Capital está por um triz: tenta negociar mais de 21 biliões de fundos sem valor com as companhias seguradores, que também começam a falir, sem grande estrondo. Hoje mesmo a J.P.Morgan e o FED acodem de urgência a mais um: o BearStearns
E no entanto continua-se a falar em “crise das hipotecas”, como se se não tivesse depois passado para as “monolines”, os fundos que seguravam os bonds falsificados e depois para o desmoronamento generalizado de todo o castelo financeiro ficticio. As declarações de Vitor Constâncio não são um aviso dos bancos centrais, são uma certeza que a recessão chegou, e com ela um ainda maior nivel de desemprego. Mas para os ideólogos do regime, de cá e de lá, “a América” continua a ser rica; e porque o suporte económico em que se funda a sociedade “para agora não interessa nada”, da mesma forma os EUA continuam, como no século XVIII, a ser o farol da Democracia e da prosperidade, enquanto o Marxismo que nasceu na mesma época é um fóssil. Alguém viu os 4 triliões das reservas de ouro norte americanas?

Tapeçaria do Século XVIII – Alegoria das “Riquezas da América”
época de Louis XIV
Luis Menezes Leitão, um professor catedrático da faculdade de direito de Lisboa, de quem confesso nunca tinha ouvido falar, conseguiu acesso à escrita no Público, o que desde logo o torna suspeito. Como veremos. (Se este Leitão é professor, quem é que teria avaliado um gajo destes?):“peço intencionalmente emprestado a Alexis de Tocqueville

o título da sua obra fundamental, por ordem a exprimir o que me parece ser um flagrante contraste entre a vitalidade da democracia americana, demonstrada pelo envolvimento popular nas primárias para a escolha dos candidatos presidenciais, e a forma como na Europa as mais importantes as mais importantes decisões são efectuadas à revelia dos cidadãos (...)”
Parei na primeira galga – afinal, a meio do artigo, o que o fulano pretende é que se faça desde já lobbying “à americana” junto dos vários paises e grupos parlamentares europeus visando a re-eleição de Durão Barroso na Comissão Europeia. Começa assim: “gostaria de ver nas próximas eleições europeias a dinâmica e o interesse que estão a suscitar as eleições americanas (...) etc.”
O alegado “envolvimento popular dos americanos nas primárias para a escolha democrática”, conforme se chegou à conclusão neste post, não ultrapassa os 6 por cento dos cidadãos filiados nos partidos, num processo exclusivamente interno destes. Não é de agora, sempre foi assim. Mas ninguém melhor que encarregarmos o próprio Tocqueville de pôr o Leitão em pelota:
“É a maioria dos Estados e não a maioria dos membros que decide a questão, de tal modo que Nova Iorque já não influi mais na deliberação do que Rhode Island” (que no século XVIII tinha várias dezenas de vezes menos população). “Esta é uma das estranhezas que apresenta a Constituição federal e que só pode ser explicada pelo choque de interesses opostos (...) Na eleição de 1833 o número de eleitores (em todos os EUA) era de 288 pessoas” (página 174 da edição da Principia). Só assim se compreende “a liberdade” para a emergente formação dos monopólios que estiveram na base do poderio global yankee.
“Pode-se considerar o periodo de eleição do presidente como um momento de crise nacional. Porquê? – por causa das paixões do povo, que passam a ser preocupação do presidente. A calma só advém depois da agitação provocada pela eleição” (pág. 175)
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