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domingo, abril 08, 2007

são às dezenas, cinquenta, cem, ou cento e cinquenta,,,

nas crónicas sobre a era bush, Eliot Weinberger no livro “What Happened Here” traduzido entre nós por "O que aconteceu na América" (Edit Âmbar, 2006) conta o seguinte episódio:

“Um “consultor sénior” de Bush, cujo nome não foi revelado, declarou recentemente ao jornalista Ron Suskind que pessoas como ele eram membros ‘do que nós chamamos de comunidade baseada na realidade’: aqueles que acreditam que “as soluções emergem do estudo judicioso da realidade discernível”. Contudo, explicou, “esta já não é a forma como o mundo realmente funciona. Nós agora somos um Império e, quando agimos, criamos a nossa própria realidade. E, enquanto você estiver a estudar esta realidade (...) agiremos mais uma vez, criando outras novas realidades, que você poderá analisar também, e é assim que se organizam as coisas. Somos os actores da História, e você, todos vocês, serão encarregados apenas de estudar aquilo que nós fazemos”.

Teria António Barreto lido o livro de Weinberg e reconhecido o estilo do nosso governo?, vejamos o que ele diz na edição do Público de hoje (pag 41):

“São às dezenas, Às centenas. Aos bandos. Assessores, conselheiros, consultores, especialistas, tarefeiros e avençados. São novos, têm licenciaturas, mestrados e MBA, talvez até doutoramentos. Sabem tudo de imagem e apresentação. Vestem fato escuro de marca, mas alguns, mais blasés, deixaram de usar gravata. São os gestores de produto. O produto, no caso, é imagem e informação. Informação do governo para o exterior e a informação sobre os cidadãos e a sociedade. Apesar da idade, já tiveram múltiplas experiências nos jornais, nas televisões, nas agências de informação e nas empresas de imagem. O sistema vive em grande parte destes profissionais reciclados. Estudam o inimigo e fazem dossiers. Elaboram estratégias de apresentação ao público de medidas. Organizam a informação do Governo, controlam os actos dos ministros e dos secretários de Estado, centralizam os contactos com a imprensa. Telefonam, enviam SMS, escrevem mails, convidam para um copo e deixam cair umas frases. Conhecem intimamente os jornalistas a quem dão recados. Sabem quais são os jornais que se prestam. Têm mapas e organigramas. Seleccionam frases assassinas, escolhem os locais para as oportunidades fotográficas, ocupam-se da vestimenta dos governantes e designam os que serão privilegiados com a informação criteriosamente racionada. São especialistas em apanhar de surpresa as oposições, sobretudo quando estas são incompetentes. Alimentam os jornalistas que se portam bem e seguem as regras do seu jogo. Gabam-se de fazer a agenda politica do país e da imprensa. Têm orgulho na centralização dos serviços de informação, para que contribuíram, assim como no controlo da informação do Governo, que exercem. Trabalham na espuma e no efémero. Organizam o passageiro. Prezam as aparências. Provocam impressões e sensações. Obtêm resultados imediatos e passam à frente. Para a guerrilha, para os raides e para as operações especiais, são excelentes. Os socialistas, especialmente os da subespécie dos pragmáticos, perdem-se de amores por esta gente e este sistema".

continua Barreto: "O problema é que, na politica e na vida pública, nem tudo se resume à agenda. Há vida para além dos governos e dos gestores de imagem. Há cidadãos, instituições, empresas, associações, partidos políticos e autores de blogues. Há memória, concorrência e luta de classes. Há ressentimento neste mercado imperfeito de imagem e agenda. Existe alguma imprensa que não segue o calendário do Governo. Também há jornalistas que não se conformam com a posição de veículos de mercado. E há sobretudo o funcionamento normal da sociedade e das instituições que não se compadece com este universo artificial e manipulado" (...)
A VERDADE E QUE ESTE SISTEMA FORJADO E TREINADO para a encenação mostra as suas debilidades à primeira oportunidade. Como se tem visto”.






Concluindo:
“A CONDENAÇÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS A ESTE GOVERNO E À MULTIDÃO DE GENTE A MAIS NOS GABINETES DOS MINISTROS E DO PRIMEIRO MINISTRO deixa-o em muito mau estado. Aconteça o que acontecer, estes factos revelam simplesmente um estilo de governo clientelar e subdesenvolvido”.
E agora? que fazer?, voltar ao PSD? esperar que Bush (ou a América) “democratize” o neoliberalismo? é evidente que, aconteça o que acontecer, habilmente manipulado (ou nem por isso), o Zé votante papa tudo como se fosse novidade,,,

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