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Khodorkovsky", de
Cyril Tuschi. Exibido em 22 Outubro, repete dia 27. É um documentário que, segundo a sinopse oficial, pretende representar a transformação do magnata russo de "
socialista perfeito em capitalista perfeito e finalmente em mártir perfeito numa prisão da Sibéria". A investigação é conduzida na perspectiva da queixa que Mikhail Khodorkovsky apresentou ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos por achar que é
vítima de perseguição politica pelo "
sistema estatal" de Vladimir Putin, que o condenou a cumprir uma pena de prisão até
2017.
Mikhail Khodorkovsky é um empresário e magnata russo, ex-proprietário da petrolífera Yukos que em 2003 foi condenado por corrupção, fraude contabilística, fuga ao fisco e evasão de divisas. Principiou a carreira na Organização para a
Juventude Comunista (
Komsomol). Depois da
queda do regime soviético em 1989 fundou diversos partidos, entre os quais, um partido comunista (da Federação Russa), o Yabloko e o pró-Kremlin Rússia Unida”, os quais competiam artificialmente uns com os outros. Como sempre acontece com a generalidade dos
Jotinhas (
que nunca trabalharam na vida) a sua esperteza e as circunstâncias da tragédia que estava a acontecer ao povo russo levaram-no a
enriquecer rapidamente enquanto o desmantelamento da antiga URSS fazia cair o produto interno bruto para metade e a população sobrevivia plantando hortas em vasos nas varandas das cidades. Aproveitando a “abertura e transparência” (Glasnost) de Gorbatchev, em 1987 fundou o primeiro banco privado russo, o
Menatep. Tornou-se milionário e filantropo e
as suas aspirações politicas levaram-no a iniciar o movimento populista “
Rússia Aberta”. Ao melhor estilo de Bill Gates, do qual aliás mais adiante se tornaria amigo pessoal, o magnata russo também ajudava os pobres.

Algures por aqui Khodorkovsky começou a frequentar o
Forum Mundial de Davos e as suas convicções na adesão ao Neoliberalismo levaram-no rapidamente a estabelecer ligações com
George Soros e a família de banqueiros Rothschilds – por outras palavras, Khodorkovsky é de ascendência judaica e não teve a menor dificuldade em conseguir financiamentos ocidentais para tentar
instaurar o poder desse grupo financeiro global sobre um grande país como é a Rússia.
Anatoly Chubais um economista simpatizante e com ligações ao neoliberalismo ocidental sob o governo de Yegor Gaidar foi encarregado de proceder às privatizações, tornando-se o mais influente politico e gestor empresarial da presidência de Boris Yeltsin. Na prática era Chubais quem decidia a que amigos eram entregues as empresas propriedade do Estado. Em 1995 Khodorkovsky e outros dois sócios judeus
Platon Lebedev e
Leonid Nevzlin, num leilão gerido pelo seu próprio banco, adquiriram a companhia petrolífera Yukos por uma pechincha de 309 milhões de dólares. Em 2003 a mesma Empresa foi avaliada em 45 mil milhões (US$45,000,000,000) ou seja,
145 vezes o preço inicial de compra, uma exorbitante mais valia decerto não obtida pelo simples
génio do gestor.
A companhia Yukos era de facto o espólio do antigo Ministério dos Petróleos da URSS que fazia a gestão dos campos petrolíferos em função dos interesses nacionais. A Yukos seria a primeira gota de água. A partir de diversas subsidiárias Khodorkovsky organizou um poderoso grupo de individuos que tomaram o controlo accionista de inúmeras companhias russas, usando processos mafiosos, estabelecendo um incalculável império económico-financeiro. Em 2004,
Mikhail Khodorkóvski foi considerado o homem mais rico da Rússia e o 16º do mundo. Até ser preso, era considerado
um dos mais poderosos oligarcas da Rússia. Após a prisão o sócio
Leonid Nevzlin tomou o controlo da Yukos com a criação de uma holding, mas,
igualmente acusado pela justiça acabaria por voar para Israel onde ainda se encontra. O Estado acusou a administração da empresa de ter desviado para a bolsa de valores de Wall Street a quantia de
27 mil milhões de dólares. Para se fazer uma ideia do valor que isto significa (350 mil milhões de barris de petróleo) basta compará-lo com a verba de 108 mil milhões de euros que se pensa ser necessária para resgatar actualmente todos os bancos europeus.
O nada surpreendente caso dos amigos ocidentais
Num artigo recente intitulado “Como a Administração Obama deve
comprometer a Rússia” a extrema direita judaico-americana reunida em torno da “
respeitável”
Heritage Foundation, cujo director é
o judeu Ariel Cohen, brindou-nos com esta bela pérola:
“
A perseguição à Yukos minou a noção de que a justiça possa ser um valor universal, porque selectivamente ela teve por alvo uma corporação politicamente inconveniente. Outros oligarcas russos que estiveram muitas vezes envolvidos em práticas de negócios não legais, mas que eram politicamente leais ao regime não foram perseguidos”.
Ao tempo da sua prisão Khodorkovsky estava envolvido num processo de negociação com o seu amigo do
grupo Carlyle George H.W. Bush, pai do então presidente
George W. Bush, para a venda de 40% da Yukos a outra companhia cuja ex-directora tinha sido
Condi Rice: a Chevron ou à Exxon-Mobil num lanço que teria desferido
um golpe fatal para a débil recuperação económica da Rússia de Putin com o recurso aos recursos petrolíferos nacionais; ou seja, trocar petróleo usando os pipelines para ocidente trocando-o por dólares. A comissão anti-monoplista russa acabaria por forçar a fusão da Yukos com a empresa estatal Sibneft. O Procurador-Geral considerou que
Khodorkovsky e os seus associados tinham sonegado ao Estado mais de 1 bilião em impostos não pagos. A adição ao grupo dos campos petrolíferos da Yukos resultou no consórcio
Rosneft uma das maiores empresas petroliferas e de gás do Mundo.
O governo russo é o maior acionista da empresa com 75% das acções, ao lado das congéneres
Gazprom e
LUKoil. Em 2005 tinha uma capacidade de extracção de 1,69 milhões de barris de petróleo por dia. Face ao roubo, embora aderindo ao capitalismo, apesar de tudo,
o espírito de independência nacional russo não se havia perdido de todo.

Em 31 de Março de 2009 um novo julgamento de Khodorkovsky e Platon Lebedev começou em Moscovo, com mais acusações de fuga de capitais e lavagem de dinheiro. Em 27 de Dezembro de 2010 o juiz determinou-lhes
cumprir 14 anos de prisão, agravando os 9 anos da primeira sentença. E os réus falharam as provas da queixa ao Tribunal Europeu de que teriam existido sérias violações dos direitos humanos num caso que
teria motivações politicas. Mas uma testemunha que foi companheiro de cela de Khodorkovsky acrescentou algo que não era conhecido.
Sergey Mavrodi acusou os réus do assassinio de Vladimir Petukhov, o presidente da Câmara Municipal da região onde se encontram os campos petrolíferos da Yukos. O autarca de Nefteyugansk tinha começado a exigir à administração de Mikhail Khodorkovsky o pagamento dos impostos locais devidos por lei.
Petukhov foi abatido a tiro em Junho de 1998 e, nesse dia, a noticia foi transmitida a Khodorkovsky durante a festa em que comemorava o seu aniversário. Segundo uma investigação conduzida posteriormente o vice-presidente da Yukos
Leonid Nevzlin teria ordenado a uma companhia de segurança dirigida por Alexey Pichugin para tratar dos pormenores da execução. Para contrapor às queixas de violação de direitos humanos,
este crime ainda não faz parte do cardápio das acusações… (nem esta cena nem as ligações explicitas com o lobie Sionista fazem parte do filme de Cyril Tuschi).