
Na Grã Bretanha a eminente falência do
Northern Rock foi resolvida pela “nacionalização” através da injecção de mais 35 milhões de euros para além das verbas astronómicas anteriormente cedidas a titulo de crédito de salvação pelo Banco de Inglaterra. Os adeptos da economia liberal-neocon devem ter corado de vergonha quando ouviram Gordon Brown, essa luminária “eleita” pela monarquia económica global: “
Fizemos a coisa certa, no momento certo e pelas razões certas”. A esperteza
custou a cada contribuinte britânico 4.600 euros sonegado ao valor dos impostos que pagaram para outros fins;
na Alemanha descobre-se uma evasão sistemática ao fisco utilizando off-shores bancários que já soma 3,5 mil milhões de euros. Em França querem fazer pagar a uma única vítima, Jérome Kerviel, a prática fraudulenta habitual da
Société Générale que industriava os seus funcionários a abrir contas ficticias em off-shores para comprar fundos de acções do banco empolando valores inexistentes.
Lucro na forma de Lixo!
Em Portugal desde o principio do ano, neste ano e meio que leva 2008, o
BCP admitiu (oficialmente) ter perdido 35 por cento do seu valor em bolsa. Inicialmente o banco admitiu perdas na ordem de 200 milhões decorrentes dos valores ficticios que se volatizaram nos off-shores. Mas novos desenvolvimentos nas
investigações apontam para mais de 600 milhões! Para compensar os prejuízos, que continuam a ser contabilizados, depois de vender a importante participação na EDP (uns míseros100 milhões de euros), o banco pretende fazer um aumento de capital. Mas quem serão os accionistas que se predispõem a
adquirir mil milhões de euros de papel pardo duma empresa cujo valor continua em queda? – na falta de pequenos otários escaldados o aumento de capital será tomado firme pela
Morgan Stanley e
Merril Lynch.

Mas estas duas entidades financeiras também contabilizaram perdas de biliões na mal denominada “crise dos suprimes” (o maior crash mundial desde 1929) e precisaram, bem como outros grandes bancos como o
Citygroup (ou a
UBS), de importantes injecções de capital: os “buracos” foram tapados com mais dinheiro ficticio emitido pelo FED, e quando o volume de papel impresso se tornou alarmante, com “petrodólares” pela compra de posições por fundos governamentais das monarquias petroliferas, a Arábia Saudita, o Kuwait, etc. – ou seja, com o regresso macisso dos capitais ficticios disseminados globalmente, verifica-se um ingresso nas economias do centro capitalista de “
empresas que não executam orientações politicas necessariamente favoráveis aos paises que as acolhem”.

Troca de perspectivas de lucro que não existem por valores ficticios, o que é certo é que
para o grande público,
apesar da crise,
tudo aparenta permanecer igual – salvo no
desemprego, nas purgas de empregos no Estado, no aumento do custo de vida, da falta de encomendas e trabalho nas pequenas e médias empresas que se precipitam na falência aos ritmos mais altos de sempre – isto é, "a crise" tem uma marca de classe:
afecta fundamentalmente as classes proletárias.

Em nome das mesmas Oligarquias de sempre,
a economia global, aparentemente desregulamentada mas
de facto controlada pelos aparelhos de Estado pró-neocons, gerida em sistema de Subcontratação (
outsourcing) através de Off-shores está a destruir o modo de vida das classes médias no Ocidente.
Para quando a revolta generalizada para que a crise possa atingir também a Oligarquia e os parasitas políticos que a sustentam?
O Vazio na Economia: o Deserto e as Miragens (1)
O vazio está para a Economia neoclássica como a morte se apresenta para o ser humano. A sua existência é um facto, a sua inevitabilidade é um mistério que a Economia é incapaz de desvendar. Por outras palavras, diríamos que a compreensão do vazio parece fugir ao escopo da teoria econômica neoclássica. Que vazio é referido aqui ? O
vazio de consumo, o
vazio de propriedade, o
vazio de rendimentos, o
vazio de expectativas. Há centenas de milhões de deserdados no planeta, centenas de milhões de indivíduos sem rendimentos ou com rendimento insuficiente para a sobrevivência e para o consumo mínimo, centenas de milhões de pessoas sem qualquer expectativa de integração digna do ambiente económico nas nossas sociedades ocidentais (...)
Nesse deserto,
a paz social fica por conta das forças de repressão e por conta das
miragens. A difusão de miragens, se repararmos na recente proliferação de jornais económicos, é
obra dos media e dos legionários ideológicos do grande capital. Os economistas contribuem com mensagens do tipo “o crescimento econômico auto-sustentado exige estabilidade monetária e equilíbrio fiscal”. Ora, estabilidade monetária com concentração da rendimentos e da riqueza, como ocorre actualmente,
só pode tornar pobres os que compunham a classe média, e miseráveis aqueles que eram pobres. É
a política de vampirização. O equilíbrio fiscal defendido propõe-se
alimentar generosamente os financiadores da dívida pública,
sacrificando os gastos sociais com a saúde, educação e habitação. Trata-se aí de um outro vazio - vazio de concretização -, a verdadeira psicose dos economistas neoclássicos, a sua insistência em olhar para um mundo inexistente, virtual, para as miragens do deserto, negando o mundo real do capitalismo selvagem, da luta de classes, do imperialismo caçador de tributos e de rendimentos nas periferias (...) dos
grandes empreendimentos em obras públicas de regime que servem a perpetuação dos privilegios das oligarquias. É deste campo que trata a
macroeconomia uma ciência que parece estar longe da compreensão do cidadão comum. A realidade é apresentada sob forma de modelos nos quais só aparecem os fenómenos considerados relevantes, descritos em linguagem matemática e propositadamente de difícil entendimento.

A teoria económica dominante, neoclássica, não sabe tratar, tecnicamente, os campos vazios, pois ela dá prioridade ao estudo da produção e da oferta relativamente ao consumo, na desacreditada crença de que "a oferta cria a sua própria procura". Na actualidade, a maioria dos economistas neoclássicos concorda com os pressupostos de
Jean Baptiste Say para quem "
o objecto da Economia Política é o de conhecer os meios pelos quais as riquezas se formam, se distribuem e se consomem" [
Léon Walras, 1996], concentrando-se no estudo da escassez e do funcionamento dos mercados.
Ora as falhas de mercado e a
presença de monopólios, oligopólios, cartéis, trustes, etc,
constituem uma justificativa importante para a intervenção do Estado na economia. Por isso, o keynesiano
Paul Samuelson observa que a "análise mais atenta revela que os economistas concordam muito mais vezes do que se pensa. Existe um consenso genérico (sobre) temas de
microeconomia tais como a importância do mercado na alocação de recursos a nivel local, os efeitos prejudiciais de muitas regulamentações governamentais... e os benefícios do comércio e da especialização."
Reconstruindo a utopia : o socialismo civil
É claro que nem todos os economistas, se curvam perante o altar do
Mercado macroeconómico gerido pelas multinacionais e se acomodam ao
pensamento único macroeconómico dominante. São muitas as vozes divergentes, reagrupadas em várias escolas como os
neo- keynesianos,
os Marxistas (que aqui se excluem do debate, a tal ponto o fascismo económico degradou a situação) e
os regulacionistas franceses. O traço comum a todos que se opõem à economia neoclássica
é o respeito pela história, o
enfoque pluridisciplinar, e
a concepção humanista do homem e das sociedades. Apesar de pouco divulgados pelos media, há trabalhos notáveis que são produzidos e levados a debate em reuniões técnicas. Entre eles, destaca-se a obra de
Bruno Théret, da Escola Francesa de Regulação, para quem "
o neoliberalismo é pura ideologia negativa na sua forma doutrinária, e simples prática de desestruturação na sua forma gestionária (e incapaz de propor) um sistema de regras capazes de estabilizar os resultados das mutações em curso. "Para Théret, a superação dos impasses actuais implica reconhecer a necessidade de
superar tanto o capitalismo liberal quanto o socialismo estatal, vinculados, ambos, a um modelo totalitário incompatível com o pleno desenvolvimento das potencialidades do ser humano. Mas tal só é possivel pela
destruição dos actuais parâmetros em que se funda a macroeconomia neoliberal.

É aqui que se fundamenta a necessidade de defender, com todas as suas insuficiências provocadas a partir do exterior,
o pequeno Estado de Cuba, cercado pelo bloqueio capitalista como "um mau exemplo",
realmente um farol de resistência anti-imperialista.
Daí também a afirmação de
L.M.Belluzzo no
Forum Social Mundial, (Setembro/2000), para quem "
o endeusamento do Mercado feito genericamente, não distinguindo entre macro e micro economia,
é a senha de ingresso no clube dos esquerdistas esclarecidos – quase, quase igual aos militantes da direita clássica", cujo discurso em nada se diferencia da social democracia de Mário Soares, das sugestões de liberais como
Joseph Steaglitz ou especuladores "soft" como
George Soros.
Conhecemos muitos militantes assim - no Bloco de Esquerda. Ao aceitar discutir “democraticamente” com o viciado Poder vigente eles são a antítese que legitima por oposição consentida o Poder, a última tábua de salvação das teorias liberais inauguradas nos anos 80 por Milton Friedman, Ronald Reagan e Margareth Tatcher.
nota(1) O titulo do texto e os dois parágrafos iniciais são adaptados da palestra da economista Ceci Vieira Juruá (Rio de Janeiro), que mescla a realidade económica actual com a célebre ficção futurista catastrófica do "Relatório Lugano" de Susan George (
ver aqui)
.