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quarta-feira, outubro 31, 2007

Inteligência Colectiva

(...) "e os milhares de peixes moveram-se como uma enorme besta, revolvendo a água em seu redor. Aparentemente unidos, e inexorávelmente conectados a um destino comum. De onde surge esta unidade?"
Bernard Shaw

Segundo um dos autores do “ultraPeriférico”:
são três as grandes humilhações que a ciência infligiu à megalomania humana: a cosmológica, a biológica e a psicológica. São três bofetadas no egocentrismo da humanidade. A primeira, quando Copérnico mostrou que a terra, longe de ser o centro do universo, não passa de uma insignificante parcela do sistema cósmico. A segunda, quando Darwin, Wallace e os seus predecessores, reduziram a nada as pretensões do homem a um lugar de eleição na ordem da criação. A terceira, quando Freud demonstrou que o Eu não é soberano na sua própria casa, onde sobrevive à custa de uma luta permanente contra um id pulsional e um superego castigador - o efeito Copérnico põe em causa o lugar do homem, o efeito Darwin ofende a sua genealogia, o efeito Freud atinge a sua alma. Actualmente confrontamos-nos com nova humilhação: a manipulação humana dos ecossistemas. Como resultado a natureza mostra que não é propriedade do homem mas sua proprietária, que não é sua súbdita mas sua soberana, ao implicar a destruição do homem na mesma medida em que por ele vai sendo destruida. Às três humilhações do homem pela ciência, sucede assim uma outra, bem mais devastadora, infligida pela própria Natureza que ao ser humilhada exige humildade”.

Concluindo, afirma-se que “a humildade é, para a arrogância humana, a suprema humilhação”; contudo, não se pode agarrar na “espécie humana” e enfiar tudo dentro do mesmo cabaz do universo humano – há quem se arroge o poder de humilhar e biliões de deserdados que são humilhados, ainda que estes não o saibam - Claro que não sabem – porque existe uma quinta humilhação. O leão come a frágil gazela, o homem dizimou bisontes; o cuco come as próprias crias; dizia-se que o extraordinário sucesso da espécie humana (!) sobre a Terra se devia ao facto de não ter predadores que liquidassem o Homem para se alimentar. Mas a espécie atravessa uma crise de proporções nunca antes imagináveis, porque entretanto já temos esses predadores – temos os Americanos Wasp e respectivas elites locais, que, embora não nos comam de faca e garfo, delapidam em gastos supérfluos os recursos necessários para resolver quase todos os problemas do chamado terceiro mundo, no qual, no caso português, sob o tenaz comando do cuco inconformista Cavaco e do tecnocrata Sócrates agora mergulhamos. Integrados em que programa universal (ou global para utilizar o léxico corrente) exercem o cargo estes dois?

Para além de Freud - o regresso das crenças religiosas

Segundo Jung existe uma linguagem comum a todos os humanos de todos os tempos e lugares do mundo, constituida por simbolos primitivos que se espressam no conteúdo da psique e que estão para além da simples razão. Sabendo-se que o cérebro é utilizado pelo homem para as suas funções correntes em apenas 10 por cento, permanecendo as restantes áreas um mistério – é sobre essa área de 90 por cento que de forma organizada pelo marketing e pela publicidade se “bombardeiam” percepções sobre os colossais egos da imensa massa indiferenciada dos homens.
Carl Gustave Jung (1875-1961), discipulo meio-dissidente da psicanálise de Freud, autor da teoria do “sincronismo”, trata da humilhação colectiva de sermos manipulados, utilizando o “Inconsciente Colectivo” das populações e, subsquentemente criados como animais domésticos dentro de recintos vedados chamados Estados. Ainda para mais, humilhação suprema, sob o efeito Jung permitimos, (nós os pobres que conforme sugere a Hiena Matos ontem no Público somos mais estúpidos que os ricos), que se criassem condições (deixando-nos educar) para que os gestores nomeados para as administrações das “animal farms” possam ser psicopatas comuns não monitorizados pelas bases da Sociedade.

Limpando o Cérebro a uma Nação

terça-feira, outubro 30, 2007

"As Cinco Obstruções"
cinematografia 4
análise politica 4

Um ano antes do Maio de 68, o dinamarquês Jørgen Leth realizou um pequeno filme de 12 minutos que desde 1967 permanece como uma obra de culto.

Em "The Perfect Human" trata-se de pegar no produto acabado tal como o conhecemos agora, o “Ser Humano Perfeito”, enfiando-o num espaço vazio. A partir do cenário de um quarto branco sem quaisquer adereços iremos então tentar descobrir o que é o Homem, de que partes se compõe – olhos, orelhas, boca, pele; que funções pode exercer – move-se, corre, salta, cai, dança, porque se move desta maneira?. Surge uma Mulher – olhem para ele agora: tira a gravata, a roupa de marca, as peugas, os sapatos – o quarto é preenchido com um primeiro utensílio, uma cama. Dormem. Mas o “humano perfeito” sente um pontinho no coração que pensa só poder explicar dentro de dias. Existe agora também uma mesa no cenário. Alimenta-se – o que come e como o faz, que utensilios precisa. Pára e medita. Em que pensa ele? Felicidade? Amor? Morte? – porque são as coisas tão breves? Porque se sente só? Porque o deixaram só? Porquê a fortuna é um capricho? – a comida está muito, muito deliciosa. Enigmático, toca castanholas com os dedos, “hoje experimentei algo de novo, espero compreendê-lo dentro de alguns dias”

Trinta anos depois Lars von Triers desafia Jørgen Leth para entender o “Humano Perfeito” – no fim da estrada a que a complexificação dos meios de vida conduziu a sociedade, partindo-se da análise das mesmas questões propostas no documentário inicial, apontam-se cinco Obstruções ao entendimento das necessidades do Homem como individuo desligado da vivência em sociedade.

1ª obstrução - Começa-se por Cuba onde a própria sociedade impõem um regime de contenção, regulando a vida por forma a que esta seja auto-sustentável.
2ª obstruçãoO episódio da refeição é encenado numa rua degradada de Bombaim, na presença difusa dos seus habitantes, na maioria prostitutas e crianças meio criadas ao abandono
3ª obstrução – a rodagem em Bruxelas, com as restrições impostas por um tipo de sociedade pós industrial
4ª obstrução – As questões analisadas assumem a forma de desenhos de animação
5ª obstrução - uma versão livre onde o observador deixa de ser o autor, limitando-se a seguir a narrativa, que lhe parece real, mas escrita por outrem.

segunda-feira, outubro 29, 2007

por que espécie de gente, actores, promotores e figurantes, nos é explicada esta forma de governar o mundo?

a alegada criminosa de guerra Condi Rice
responde perante o Senado sobre as actuais condições no Iraque tendo em vista o financiamento das operações externas a promover durante 2008.

Não sem que antes, tenha finalmente visto, por acção das activistas do CodePink, as mãos sujas do sangue de milhões de iraquianos



No entanto, depois do alarido uma dúvida permanece – as queques do CodePink, do modo que têm acesso a locais tão sensíveis onde irá estar presente uma alta dignitária do regime, não serão admitidas ali por serem um género de “oposição controlada”? – indeed, aqueles que agora controlam as CodePinks controlam também o futuro Governo

Deste lado do Atlântico, o presidente francês, popularmente conhecido por Sarko l`Americain,
dá também a sua contribuição para o espectáculo.

Ao ser inquirido (bem ao estilo americano) numa entrevista para a CBS sobre a situação relacionada com a ex-mulher, Sarkozy deixa a jornalista pendurada.

o Esplendor Americano

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, chegado na grande vaga de judeus importados para a América em meados do século XX prosperou cientificamente com o inicio da aplicação da sua teoria no processo que ficaria conhecido como
The Century of the Self

Um documentário da BBC, em 4 partes, explica os mecanismos do controlo psicológico de massas em prol da pretensa superioridade das opções individualistas – por forma a obter uma alienação passiva de cada um dos indivíduos, transformando cada um per si em “máquinas felizes” (e submissas) na “democracia” controlada . Claro que, como todas as questões que são equacionadas na América, tratava-se de Making Money by Manipulating the Subconscious (fazer dinheiro com as novas técnicas de manipulação do subconsciente) Os episódios até há pouco tempo disponiveis no You-Tube foram retirados devido à invocação dos direitos de autor por parte da BBC. Mas pequenos sketches continuam a estar disponiveis aqui:
Episódio 1 - "Happiness Machines"

Episódio 2 - "Engendrando Consensos"

Episódio 3 - "Existe um Policia dentro de cada Cabeça que precisa ser Destruído"

Episódio 4 - "Oito Pessoas bebericando Vinho (ou Cerveja)"

domingo, outubro 28, 2007

"Cuba, uma Odisseia Africana"
cinematografia 4
análise política 5

Numa altura em que as ameaças do regime bushista a Cuba crescem de tom o documentário de Jihan El Tahri, produzido pelo Canal Arte e pela BBC entre outros, vem relembrar o importante papel de Cuba na libertação dos povos africanos. Exibido agora nas catatumbas do DocLisboa, provavelmente nunca mais será exibido neste mal frequentado canto esconso da Europa

"Com os pobres da Terra quero minha sorte lançar"
José Marti

Como uma das primeiras nações a apoiar o Movimento dos Não Alinhados (com as duas superpotências – USA-URSS), que culminaram na Cimeira de Argel, a Cuba revolucionária desde sempre apoiou os movimentos de libertação africanos visando a independência dos países subjugados pelo colonialismo em África – inserem-se nessas politicas o apoio a jovens revolucionários como Patrice Lumumba, Amilcar Cabral ou Agostinho Neto. Acabaram todos assassinados, Lumumba por um golpe da CIA (como reconheceu o agente Larry Devlin) que entronizou o ditador pró-ocidental Mobutu, Cabral pela policia politica portuguesa, ou mortos em circunstâncias ainda por esclarecer como foi o caso de Ben Barka, o anfitrião argelino na Cimeira onde esteve presente Che Guevara - de onde proferiu o seu famoso "Discurso aos Povos de Todo o Mundo" que continua a galvanizar milhões de pessoas em todo o mundo - apesar das funcionárias comichões da "Hiena Matos"

Há, nos arquivos norte americanos, um documento interessante: os registos de uma longa conversa de Fidel em1978 com dois emissários do presidente Carter. Tinham vindo exigir-lhe que Cuba retirasse as suas tropas de Angola - ameaçada pelos racistas de Pretória - e deixasse de ajudar os movimentos de libertação do Zimbábwe, Namíbia e África do Sul. Se Cuba acatasse, as ordens solicitadas, então os Estados Unidos poderiam afrouxar as suas políticas e levantar o embargo contra Cuba.
Fidel respondeu-lhes: "Estamos profundamente irritados, ofendidos e indignados pelo facto de, durante 20 anos, (presentemente já vão em 40) os senhores terem usado o bloqueio para nos pressionar e exigir coisas de nós (...) Talvez deva acrescentar algo mais. Quero que os senhores não se equivoquem - não nos podem pressionar, corromper ou comprar (...). Talvez, por serem os Estados Unidos uma grande potência, pensem que podem fazer tudo o que lhes dá na gana, contudo, cremos que é profundamente imoral que os senhores utilizem o embargo como uma maneira de pressionar Cuba. Espero que a história seja testemunha da vergonha dos Estados Unidos que, durante 20 anos, não permitiram a venda a Cuba de medicamentos necessários para salvar vidas. (...) A história será testemunha da vossa vergonha"

Fidel tinha enviado os seus 450 mil soldados (um número extraordinário considerando a pequenez do país) porque sabia que a vitória do Eixo do Mal - Washington e Pretória - teria significado a vitória do Apartheid, o reforço do domínio branco sobre os povos da África austral. Quando a guerra chegou a um impasse na Batalha do Cuito Cuanavale, as forças cubanas poderiam se quisessem entrar pela África do Sul adentro e pôr termo de vez ao tristemente célebre regime racista na África do Sul. É neste contexto que surge a aflição de Cárter ao enviar os dois emissários a Havana. Anos mais tarde, as palavras de um amigo, Nelson Mandela, quando visitou Havana em julho de 1991 reconheceram-se o esforço internacionalista: "Viemos aqui com o sentimento da grande dívida que contraímos com o povo de Cuba." Que outro país tem uma história de grande altruísmo como o que Cuba manifestou em suas relações com a África?

Há uma canção de Silvio Rodríguez que diz: "A Nicarágua lhes causa dor porque o amor lhes causa dor" Aos Estados Unidos, Cuba causa dor e muita. Dói-lhes porque os venceu, os humilhou. Por certo, não foram agressões cubanas. A Baía dos Porcos e Angola, foram agressões dos Estados Unidos, contudo o império soberbo nunca a perdoou. E vinga-se como pode, é a vergonha do cobarde: com o infame bloqueio, para destruir as conquistas da Revolução Cubana – o sonho do acesso de todos os povos à saúde e à educação - e tratando de reescrever a história, mentindo, manipulando, a fim de apagar o papel de Cuba – eles não compreendem que exista alguém que possa agir sem ser por interesse em petróleo ou diamantes, consoante alternem no poder republicanos neocons ou democratas, sociais “democratas ou socialistas” ou ambos coligados ao mesmo tempo, em duas palavras: imperialistas e colonialistas - actualizando: neocolonialistas e neoliberais.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Rússia: em que ponto nos encontramos?

Cheney: "ok, vamos lá explicar a "big picture" aos ingénuos deste mundo". Desde o reinado de Clinton, sempre apoiando a Rússia que Yeltsin demolia, foram adoptadas as teses do "ideólogo democrata" Zbigniew Brzezinski, sistematizadas em 1997 em “The Grand Chessboard” – a Nato deveria expandir-se para leste e a UE integrar os antigos paises satélites soviéticos , os EUA deveriam tomar posição no Cáucaso e procurar atrair a Ucrânia e a Geórgia. Assim aconteceu de facto com as “revoluções coloridas”. O último acto dessa estratégia é a extensão do sistema antimissil americano à Polónia e República Checa. O tabuleiro geopolítico desenha-se em torno do petróleo, e do gaz e é em torno do Cáucaso que se têm descoberto grandes reservas ultimamente. A guerra anti-terrorista é para disfarçar; por isso a primeira acção pós 11/9 foi a de invadir o Afeganistão com a intenção de estabelecer uma testa de ponte próxima. Citando,Paul Wolfowitz dizia em 1991: "With the end of the Cold War, we can now use our military with impunity" - alguns anos depois, com a tomada de poder pelos Neocons, o "ideólogo republicano" de serviço é Henry Kissinger, a outra "manu militari" do mesmo Imperialismo.

Durante a infame década de 90, sob o governo de Boris Yeltsin e dos seus conselheiros económicos dirigidos pelos EUA, Anatoly Chubais e Yegor Gaidar, toda a economia russa foi posta à venda por "preços políticos" escandalosamente abaixo do seu valor real. Em meia dúzia de anos a grande potência industrial que era a Rússia converteu-se num país do Terceiro Mundo. O seu PIB (de 144 milhões de habitantes) é mais baixo que o dos Países Baixos (16 milhões de habitantes). A União Soviética retrocedeu economicamente mais de100 anos. No momento da revolução socialista, em 1917, o PIB per capita era de 10% em relação ao dos americanos. Em 1989, apesar do facto de a União Soviética ter chegado ao fim da Segunda Guerra esgotada e praticamente destruída, o PIB per capita alcançava 43% do índice dos americanos. Hoje, o PIB per capita russo é menor que 7% do índice dos cidadãos dos EUA. Depois disto, ler num jornal de hoje que na Rússia existiu ou existe “um milagre” económico capitalista, um quarto segredo de fátima que só contaram para a jornalista Dulce Furtado, é mais hilariante que rir a bandeiras despregadas, junto do túmulo de Yeltsin, com uma excursão de mujiques encharcados em vodka

Depois de casa roubada, trancas à porta. Vladimir Putin, um antigo oficial do KGB, é presidente da Rússia desde 2000. Então, o seu estilo criou, por contraste com o de Boris Yeltsin, a imagem de uma liderança forte e esclarecida. Hoje é visto como um líder autocrata e determinado a fazer da Rússia uma grande potência. Anna Politkovskaya, jornalista e activista dos direitos humanos (fora de Guantanamo, do Afeganistão e do Iraque) alinhada com os pontos de vista ocidentais, foi das primeiras vozes a denunciar, por encomenda, esta deriva autoritária. Mas também, no mesmo livro, ela própria descreveu a situação:

“Nós, os que vivemos na União Soviética, onde quase todos tínhamos um emprego estável e um salário com que podíamos contar, que tínhamos uma confiança inquebrantável e ilimitada no que o amanhã nos traria. Nós, que sabíamos que havia médicos capazes de nos curarem de todas as doenças e professores capazes de nos ensinarem tudo; e que sabíamos também que não teríamos de pagar um tostão por tudo isso. Que tipo de vida pretendemos levar hoje? Que novos papéis nos foram dados?
As mudanças desde o fim da era soviética foram a triplicar. Primeiro, passámos por uma revolução pessoal (em paralelo, claro, com a revolução social), quando a União Soviética se dissolveu durante o consulado de Boris Yeltsin. Tudo desapareceu de um momento para o outro: a ideologia soviética, as salsichas baratas, o dinheiro no bolso e a certeza de que havia um Paizinho no Kremlin que, ainda que fosse um déspota, pelo menos era responsável por nós.
A segunda mudança veio em 1998 com o défice e a bancarrota. Muitos de nós tinham conseguido amealhar algum dinheiro nos anos que se seguiram a 1991, quando a economia de mercado foi efectivamente introduzida e houve sinais de aparecimento de uma classe média. Uma classe média à russa, convenhamos; não uma classe média como a que podemos encontrar no Ocidente (sem dimensão para suportar a democracia e o mercado, tal e qual está a acontecer com a decadência no Ocidente). Da noite para o dia, tudo isto desapareceu. Por essa altura, muitas das pessoas estavam tão cansadas da luta quotidiana pela sobrevivência, que não tinham forças para enfrentar um novo desafio, pura e simplesmente deixando-se afundar sem vestígios”.
(Cerca de 150 milhões de habitantes da ex-União Soviética - isto é, o número de habitantes de França, Reino Unido, Países Baixos e Escandinávia reunido - mergulharam na pobreza nos princípios dos anos 90. Hoje vivem com menos de 4 dólares por dia. O número de pobres que vivem com menos de um dólar por dia multiplicou-se por vinte)

“A terceira mudança veio com Putin, quando embarcámos num novo estádio do capitalismo russo com aspectos neo-soviéticos evidentes. A economia na era do nosso terceiro presidente é um curioso híbrido resultante do cruzamento do mercado livre, dos dogmas ideológicos e de retalhos variados. É um modelo que põe a ideologia soviética ao serviço do grande capital privado. Há uma quantidade aterrizadora de pobres, gente na verdade miserável. Junto a isto, um velho fenómeno está de novo a florescer: a nomenklatura, uma elite dirigente, a grande classe dos burocratas que existia no tempo dos sovietes. O sistema económico pode ter mudado, mas os membros desta elite adaptaram-se. A nomenklatura gostaria de viver a grande vida de uma elite de negócios da “Nova Rússia”, mas os seus salários são pequenos. Não têm vontade nenhuma de regressar ao velho sistema soviético, mas o novo sistema também não lhes serve de forma ideal. O problema é que ele requer lei e ordem, algo que a sociedade russa vem pedindo com cada vez maior insistência, e desta forma a nomenklatura tem de gastar a maioria do seu tempo a contornar a lei e a ordem para promover o seu próprio enriquecimento.
E o resultado disto tem sido que a velha-nova nomenklatura de Putin elevou a corrupção a patamares nunca antes sonhados na era dos comunistas ou de Yeltsin. Está hoje a devorar os pequenos e médios negócios e, com eles, a classe média. Entretanto, oferece aos grandes e supergrandes, os monopólios e as empresas quase-estatais, a oportunidade de se desenvolverem. (Na Rússia, isso quer dizer que estas são as fontes favoritas de suborno da nomenklatura). É o tipo de empresas que na Rússia produz os mais elevados e estáveis lucros não apenas para os seus proprietários e gestores, mas também para os padrinhos que tem na adminstração estatal. Na Rússia não existem grandes negócios sem padrinhos, ou “curadores”, na administração estatal. Toda esta conduta condenável nada tem a ver com as forças de mercado”.

Concluindo: lá como cá, as oligarquias sustentam-se de molde similar, usurpando os meios colectivos geridos pelo Estado em proveito próprio. O modo como a máfia russa tomou as empresas estatais russas não é muito diferente dos métodos dos serventuários das multinacionais ocidentais que tomaram o poder a golpes de assaltos na Bolsa. Mais da metade dos actuais multimilionários no mundo procedem de apenas três países: os EUA (415), a Alemanha (55) e a Rússia (53). As “elites” parabushistas que actualmente governam antidemocraticamente os EUA, a Europa ou a Rússia oligarca de Putin são todos farinha do mesmo saco, são todos filhos da mesma mãe: o neoliberalismo – que deverá a breve trecho, por via da falência, “ser enviado para o caixote do lixo da História” como diria Marx.

Ignoram os déspotas que o povo, a massa sofredora, é o verdadeiro chefe das revoluções
José Marti
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quinta-feira, outubro 25, 2007

Entre a Europa e a Rússia

On Hitler´s Highway
cinematografia: 3
Avaliação politica: 4

Lech Kovalski é um óptimo cineasta, que neste documentário, nos leva para Leste pela A40, a auto estrada mais antiga da Polónia construída por Hitler, que continua a ser uma ligação vital ao Ocidente.

Não são os pobres que fabricam as guerras

O realizador apenas nos mostra o caminho, onde hoje se podem encontrar coisas que nos parecem banais: marginalizados que lutam pela sobrevivência; centenas de imigrantes búlgaras, romenas, ucranianas, moldavas que se prostituem nas bermas; bancas improvisadas onde se vende de tudo; trabalhadores ilegais em trânsito escondidos em abrigos; um velho cigano que recorda como os Nazis não se davam ao trabalho de enterrar os que sucumbiam na construção – era o betão da própria estrada que lhes cobria os corpos para a eternidade. Foi ao longo desta rota de Sinagogas judaicas (onde estão as maiores reservas da força de trabalho é onde se concentram os agiotas) que se desenrolou a carnificina. (impropriamente designada de "holocausto". Houve uma intenção prévia de dizimar de forma sistemática trabalhadores essenciais para o esforço de guerra na rectaguarda?). A auto-estrada, partindo de Berlim e visando atingir a Rússia, passa por Oswiecim (Auschwitz), o que explica a importância do famoso campo de concentração: o centro de um conjunto de estaleiros de materiais extraidos das pedreiras, muitas delas situadas no interior dos campos, e de mão de obra intensiva. Foi a partir destes complexos que se efectuou o fornecimento da A40, uma grande obra do regime Nazi. Que, por curiosidade, foi agora (em 2002) ampliada com fundos da União Europeia em mais umas dezenas de quilómetros.

Kovalski interroga-se: “quando estava a filmar “On Hitler`s Highway” perguntei-me qual seria o meu lugar nesta história. Como posso tornar esta história uma experiência visceral fora da cultura onde foi filmada? Todas as respostas indicavam para mim. Cabe-me a mim (a nós?) preencher(mos) as lacunas e resolver estes problemas
Os caminhos feitos pelos homens não são como os rios, têm sempre dois sentidos, um que vai, outro que vem. A mesma estrada, com objectivos militares, que levou Hitler a virar-se para o Leste, para o Cáucaso em busca das fontes de combustíveis vitais para o esforço de guerra, trouxe à Europa, poucos anos depois, o Exército Russo.
Dois séculos antes, os Czares ávidos de absorverem a cultura Europeia, empreenderam outra cruzada para Leste à conquista das estepes asiáticas. A identidade da Mãe Rússia foi construída com a Cruz, a organização Militar e as inovações tecnológicas vendidas pelo Ocidente, que vincaram a supremacia – a pólvora contra os varapaus e forquilhas dos bárbaros gentios.

"Yermak conquista a Sibéria"
Vasily Surikov, Museu Russo, São Peterburgo

Depois das conquistas, restam os escombros e a desolação. As hordas de vencidos, cossacos e nómadas, judeus, ciganos e tribos semitas em geral, empreendem o caminho de regresso dos vencedores – multidões de imigrantes rumaram para Oeste, o centro onde pressentiam estar o Progresso que proporcionava tanto Poder. Como se sabe, as hordas de esfomeados são dificeis de controlar, o pobre é um bicho, como as pragas de gafanhotos, que comem tudo o que encontram. Culpados de todas as nossas desgraças os “progoms” tornaram-se uma prática habitual – é sobre os imigrantes que se abate a violência. Senão,,,

Tsarkoe Selo, a "aldeia de campo" residência de verão dos Czares

Estamos em 1917. No termo da 1ª Grande Guerra a Alemanha e a Rússia estão ambas derrotadas. Da anarquia saiu a Revolução Russa por um lado, por outro, na Alemanha os judeus açambarcam a economia, prosperam com a penúria. Quando Hitler chega ao poder em 1933 um dos primeiros actos é a celebração do Pacto de Brest-Litovsk que divide os antigos territórios da Prússia – na prática dividia a Polónia em duas. Em 1939 Berlim estava no inicio da estrada.

Em 1989, quando o Muro caíu e o Império Soviético se desmoronou, novamente milhões de imigrantes percorreram o caminho de fuga à fome e à miséria, outra vez em busca do mítico progresso. Que vêm encontrar?

A União Europeia a 25 (no ano de 2003) contabilizava 454,5 milhões de habitantes, dos quais 68,2 milhões, 15 por cento da população, viviam no limiar da pobreza, já depois de terem recebido contrapartidas sociais. Por outro lado 45,5 milhões de europeus em idade laboral enfrentavam o desemprego, entretanto agravado, em vastas regiões onde a totalidade dos habitantes não têm qualquer perspectiva de vir a obter emprego.

Igualdade, Fraternidade e Liberdade,,, eis as lindas palavras chave dos teatrais discursos politicos tornados obsoletos, enquanto a Economia é deixada á rédea solta, sem regulação, ao arbitrio do livre mercado liberalizado, selvagem. Mas existe uma contradição que nega todos aqueles chavões – o “comércio livre” é na prática determinado pelos interesses das cerca de 38 mil multinacionais americanas. A perspectiva económica do neoliberalismo, entretanto construída, tenta matar qualquer utopia, fazendo crer que nada mais é possivel para além da adaptação ao sistema.

Com a Europa em crise, em 2003, quando a Alemanha e a França se recusaram a pagar as guerras do IV Reich de Bush, no fim do mandato o chanceler Gerard Schroeder subiu de patamar e rumou para a administração da Gazprom, a empresa estatal russa dos petróleos e gaz, deixando para traz um governo de coligação com Angela Merkel como centro e motor da economia europeia. Na perspectiva do Império é a partir daqui (do BCE) que tem de se dar de mamar a todos os ressentidos (incluindo aturar a flatulência dos gémeos polacos) que vão sendo excluidos pelo caminho nas grandes cruzadas Ocidentais.
Veremos o que a campanha pelas fontes de energia no Leste nos trará de volta pela estrada de regresso à Europa, particularmente vindo da Rússia.

“a alternativa para contrapôr ao modelo de capitalismo anglo-saxónico é a transição da EU para um Estado Federal Europeu que defenda o Estado Social contra o neoliberalismo”
Pierre Bordieu, Raisons d´Agir, Forum Social Europeu (2004)

mas, ainda haverá tempo para construir o que quer que seja?

quarta-feira, outubro 24, 2007

Estado das Obras de Remodelação no Médio Oriente

Da mesma forma que os imans magnéticos atraem metal, a presença de Tropas americanas atrai Terroristas (de Estado)





O exército Turco entrou esta quarta feira pela fronteira do Iraque em acções de retaliação contra os militantes da Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK)

adenda:
"Os Judeus que controlam o PKK convidam ao ataque da Turquia ao norte do Iraque. Organizações Sionistas Turcas (Jewish Doenmeh) incitam com propaganda o ataque da Turquia aos Curdos. Os verdadeiros Curdos e os verdadeiros Turcos deveriam fechar as portas a esta armadilha que desperta velhas guerras entre tribos biblicas
(para ler aqui)

uma praga - "o Juramento de Spartacus",
Louis-Ernest Barrias, Jardim das Tulherias, Paris

Lembram-se do escravo Spartacus amarrado na cruz para morrer à míngua, servindo de exemplo para os outros súbditos, escravos de livre vontade, passantes da Via Ápia? - é assim que está hoje exposto Robert Mugabe, para aviso de todos os que passam nas auto-estradas da desinformação.

Passados 30 anos após a “independência” da antiga colónia, (a Rodésia de Sir Cecil Rhodes), cansados da situação de monopólio das melhores terras, ainda na posse de apenas 4000 fazendeiros ingleses, os quadros mais influentes do agora “independenteZimbabwe, militares entre outros, resolveram nacionalizar as terras, exigir o fim do desemprego crónico da população nacional (80%) e uma mais justa repartição dos rendimentos pelos 12,5 milhões de habitantes. (80% vivendo abaixo da linha de pobreza; 24,6% com HIV/Sida)
A resposta do antigo colonizador, a Inglaterra, foi, primeiro umas recomendações, depois a imposição de um boicote feroz – a recusa de continuar a vender materiais, a fornecer know-how, por fim, a comprar a produção como até aí sempre tinham feito. Resultado: a economia colapsou, os bens essenciais passaram a ser objecto do mercado negro, a inflação atinge valores exorbitantes. Por outro lado, a Potência que se pretende eternizar como neo-colonizadora faculta o apoio incondicional aos fazendeiros – que se vão transferindo em massa para o vizinho Mozambique (assim mesmo, em grafia inglesa) que, destruído pela guerra, aceitou sem relutância os novos investidores e projectos, aderindo incondicionalmente à Commonwealth.
É assim que funciona. Quem não aceita as condições espoliadoras do Banqueiro na roleta do casino em que se transformou “a economia global”, jamais poderá ser premiado com jackpots de chorudos investimentos. Desde que assine o compromisso em que se obriga à neo-escravatura por um salário de subsistência mínimo, everithing is alright.

Vejamos agora o que se passa no que respeita a Angola,,,

Pierre Falcone, um dos principais implicados no "Angolagate" viu serem-lhe retiradas todas as acusações judiciais, mal Sarkozy foi eleito. O outro cabecilha da quadrilha, o judeu Arkadi Gaydamak, que delapidou milhões ao povo angolano e ajudou a entronizar o ditador Eduardo dos Santos com armamento vendido ilegalmente, fundou um partido político em Israel
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terça-feira, outubro 23, 2007

a Ilusão de Deus

Bem pode Richard Dawkins explicar cientificamente a desilusão aos piedosos crentes,
e os tradutores portugueses tentarem inverter o sentido dos cartazes; de facto,

os santinhos, e os deuses também,
são um fogo que arde para patêgo ver,,,


O padre Jarek Cielecki, amigo íntimo do Papa JP2, partiu de urgência para a sua Polónia, depois que foi avisado que um qualquer crente iluminado fotografou uma chama ardente que retrata fielmente a figura do Santo homem. Louvamos o esforço, mas por favor não lixem a nossa Fátima.

Como não deve existir uma ASAE que fiscalize a Santa Sé, que como de costume monopoliza os milagres da multiplicação das fogueiras, para que conste, Elvis Presley, que para efeito de antiguidade já tem muito mais tempo contado de casa, também pode reinvindicar a parecença

Sir Paul McCartney é outro concorrente de peso para alegar uma fenomenal parecença com "a imagem da pessoa nas chamas" que o padre polaco alega ser " o fiel servidor de Deus o Pontífice João Paulo II" para utilizar o léxico do Convento Central das Superstições Nonsense.

Finalmente, um Tenista famoso, de que a história não reza o nome, pode também ele ser interpretado como a figura milagrosa, tanto mais que tem uma vantagem comparativa importante em relação à padralhada concorrente - a cabeça é representada pela raquete.

(fonte: Vaticani Stazione TV Center, Roma)

segunda-feira, outubro 22, 2007

Guerra Colonial II

A Guerra Colonial caiu nas garras da TVI. Começou a banalização de um tabu, um tema que nunca foi exorcizado de forma séria na sociedade portuguesa. As vítimas dessa guerra, cujos desígnios ainda não foram cabalmente explicados ao povo português, são a partir de agora, a partir da falta de vergonha dos promotores de reportagens como a que passou na TVI, transformadas em realitys shows, vergonhosamente enxovalhadas. Será uma indignidade se alguma qualquer autoridade reguladora não puser termo ao despudor dos comerciantes de emoções rascas sobre um tema que é caro a toda uma geração de portugueses - que desrespeita os muitos milhares de vítimas da ditadura que, de um ou de outro modo, viram as suas juventudes sacrificadas.
A convite da TVI um antigo combatente acompanhando uma equipa de reportagem deslocam-se à Guiné. O convidado enverga uma T-shirt duma companhia de seguros (o patrocinador que decerto pagou o bilhete de avião). Visitam o local onde três soldados portugueses mortos em combate foram sepultados. Um sítio inóspito, abandonado, onde cresce o capim - a mensagem subliminar é a de que "os pretos continuam a ser uns malvados" (que nem uma sepultura condigna sabem dar aos adversários). Em casa a família vê a reportagem e chora em directo para a televisão. Não se percebe bem se choram os entes que lhes deveriam ser queridos, se as condições em que está o sitio onde apressadamente os colegas enterraram os mortos enquanto estavam debaixo de fogo, se as deploráveis condições de luta pela sobrevivência a que ficaram votadas as populações das ex-colónias. As famílias das vítimas e os antigos colegas dos soldados, se calhar não saberão explicar o que se passou - por isso mesmo se deviam recusar a participar, servindo de instrumentos na mão de manipuladores que fazem da morte espectáculo. É indigno.

Aguentem o fardo do Homem Branco
Enviem para a frente o melhor que tenham gerado

mas, Impeçam o mercenários da televisão
De facturar as campas dos nossos soldados
.

domingo, outubro 21, 2007

Enemies of Happiness
cinematografia 2
avaliação politica 0

É uma estórinha passada no Afeganistão, sobre os direitos humanos das mulheres. Mas o que significa isso no Afeganistão patriarcal, onde funcionam ainda, antes das regras a usar no espaço público (“Sociedade” é um conceito estranho), os procedimentos medievais, ancestrais, impostos pelas tradições seculares da família, pelo clã, pela tribo? – todos e cada um em conjunto observando os austeros mandamentos da religião? Para agravar a situação: é um país ocupado por forças estrangeiras.

Dizem que, passados 30 anos em guerra, quem impõe as regras continuam a ser “os Senhores da Guerra”. Como e quem cunhou esta sigla? Como e com quê se faz a guerra? Com armas, munições, meios de abastecimento e comunicação. Que se saiba não existem fábricas de espingardas, bazookas, munições, indústria ou tecnologias apropriadas para o efeito no Afeganistão. Ali aparece tudo feito, porque alguém lhes vende esses meios. Quem terá então interesses no negócio? E, passados seis anos da invasão do país pelos Estados Unidos (acção depois alargada à Nato) quem e com o quê paga o “governo” afegão o fornecimento desses meios?
Estas questões não são equacionadas pela jovem realizadora, a sueca Eva Mulvad (20 e picos anos?) que foi levada ao colo com uma mala de dinheiro para o Afeganistão para filmar a odisseia de Malalai Joya, outra jovem, afegã, que instigada saberá Allá por quem resolve afrontar os poderes tradicionais concorrendo à Assembleia Nacional num arremedo de eleições patrocinado pelos invasores entre uma população de 30 milhões de almas onde apenas 28 por cento sabem ler ou escrever. Que voto consciente (transportado em caixotes por camiões militares americanos) se pode extrair desta gente e dos seus alegados “representantes” à maneira ocidental? onde as estruturas de vida estão praticamente destruídas?. Curioso que os nossos liberais de esquerda não encontrem nada melhor para dizer que isto: “Com tudo contra ela, Malalai foi a segunda mais votada no seu distrito. E, no Parlamento, já deu que falar. Ela lá está. É islâmica, tem tomates e corre todos os riscos” – Azougada, competente, heroína ( o que até nem é verdade, e nem é por causa dos tomates) é o caso típico da deputada que precisa de mudar de povo.
Só na recta final de "Enemies of Happiness" (enquanto o conceito de independência em todo o filme é mandado às urtigas) é que nos é dada uma pista fugaz (involuntária) sobre algo que não seja "a luta pelas liberdades cívicas" – no dia da festiva inauguração da Legislatura os eleitos são transportados num autocarro com a sigla “Military Academy” para a Loya Jirga convenientemente construida numa “green zone”. Por fim, na habitual sessão de perguntas e respostas, a jovem sueca Eva esclarece que não filmou Malalay Joya na sua área de residência por ser muito perigoso. Foi tudo filmado em Cabul na "green zone". Assim como fez com Rahela, outra jovem que foi vendida pela família a um velho “senhor da guerra” pelo valor do dote que a família empochou, recusando-se depois a filha a entregar-se para o casamento (acabou por fugir, refugiando-se no Irão, esse tenebroso covil sob administração de bárbaros). Entretanto Malalay Joya, depois de cumpridas muitas provocações Allá saberá em nome de quem, embriagada pelos “direitos humanos” desistiu do Parlamento (war on terror is a mockery – um esforço em vão, inútil, ridículo, um simulacro, diz) e atravessa dificuldades financeiras. A jovem Eva emocionada pede a quem queira e possa que a ajude através do seu sitio Internet. A bom porto veio ela dar. Num país com 2 milhões de pobres, diz o roto ao nu, porque não nos ajudas tu? É só uma questão de sensibilizar a administração politica do Afeganistão na zona verde resultante da invasão – afinal são eles verdadeiros Senhores da Guerra – para efeito de “quem paga a democracia” - in G.O.D. (Gold, Oil, Drugs) We Trust. Afinal são eles, em última instância, quem zela para que as coisas sejam assim.

sábado, outubro 20, 2007

"Táxi to the Dark Side"
cinematografia: 3
avaliação politica: 2

Citando as palavras de Dick Cheney em 2001, acerca da guerra contra o terrorismo: “Será para nós vital usar todos os meios à nossa disposição para alcançar o nosso objectivo” – foi ao abrigo desta intenção que o taxista Dilawar foi detido como suspeito e enviado para a prisão de Bagram, onde foi torturado “para se obter informações”. Nunca mais regressaria a casa. Acabou por morrer das sevicias sofridas, apesar de mais tarde as autoridades militares reconhecerem que o homem estava inocente. A barragem feita aos meios de informação seria no entanto quebrada, quando estalou o escândalo de Abu Ghraib e se conheceram as práticas de transporte secreto de prisioneiros pela CIA para Guantanamo (e outras prisões secretas) e os processos organizados e sistemáticos de tortura. Já foram presas mais de 80 mil pessoas, sendo o indiciamento de culpados (what ever it is) inferior a 5 por cento.

Donald Glaskoff, o produtor de “Táxi para o Lado Escuro”, um advogado conservador de Wall Street (porque teria ele posto o seu dinheirinho neste projecto?) responde à pergunta: “acha que mortes criminosas como a deste simples taxista podem ser evitadas em tempo de guerra?” – "Os campos de batalha são a forma de legitimar os assassínios patrocinados pelos Estados. Dick Cheney devia ser acusado de crimes de guerra por ter iniciado o terror nos Estados Unidos. Enquanto não pudermos considerar a guerra como fora-da-lei (porque não?), teremos de lutar consoante as suas regras (estabelecidas pela Convenção de Genebra). As mortes por tortura só poderão ser consideradas um acidente raro e isolado, por forma a que os seus responsáveis sejam perseguidos e incriminados, seja qual for o nivel de poder que possuam”. Dois ou três carrascos menores do crime de Bagram foram incriminados com um mês ou dois de prisão (suspensa, porque não tinham antecedentes criminais – no caso “receberam ordens de instâncias superiores”), enquanto os oficiais superiores permanecem livres e mantêm o poder. De facto estas práticas dos “serviços secretos de informações militares” levam já décadas de existência – nasceram com o programa de interrogatórios "MKULTRA" (e outros), que têm vindo a ser aperfeiçoados. “Táxi to the Dark Side” é omisso quanto a esta questão. A ideia com que se fica após o visionamento é a de que tudo estará bem, desde que acabem os “excessos”. Nenhuma condenação ao sistema de combate ao terrorismo, é formulada.

O controlo da informação e a fabricação do Terror

No final o realizador Alex Gibney responde a questões colocadas pelos espectadores: “Acha que filmes como este podem alterar a visão das pessoas sobre o mundo?” – “Sim, não só pode, como deve. Se os cidadãos tolerarem a tortura, em breve serão eles próprios os torturados. Não há saída. Temos de rejeitar, como o “Homem Rebelde” de Camus, a enorme imoralidade que é a tortura”. Gibney conta então uma dessas muitas estórias de experiências psico-sociais feitas nos EUA, esta salvo erro passada em Los Angeles; encenou-se uma situação com um grupo de pessoas no cimo duma colina e, cá em baixo na estrada, inquiriam-se vulgares transeuntes que passavam, aterrorizando-os, dizendo-lhes que os suspeitos eram perigosos terroristas que ameaçavam atacar. Eles realmente lançavam impropérios lá de cima, enquanto ao mesmo tempo se distribuíam armas com balas simuladas aos inquiridos. 60 por cento dos transeuntes dispararam sobre os alegados agressores, mesmo sem ter uma percepção firme sobre o que se estaria a passar.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Guerra Colonial - A Cruz e a Espada

onde outrora estiveram as porcelanas nos nichos das paredes
aninham agora as aves selvagens as suas crias

“Quantos não vi, de 1946 a 1960, trabalhar assim, presos por cadeias nos pés, por culpas irrisórias... No navio que, pela primeira vez me levou de Lisboa à Beira, embarcaram em São Tomé 40 africanos de Moçambique, únicos sobreviventes de uma tribo de mais de duas mil pessoas, depois de dez anos de trabalhos forçados naquela colónia penal, por se terem rebelado contra a lei do contrato obrigatório de trabalho. Viajavam à proa, a descoberto, expostos à humidade do vento marítimo e a todas as intempéries, sem qualquer abrigo, nem à noite, pior que as vacas embarcadas em Lourenço Marques, sob a ponte da segunda classe. Foi no mês de Maio de 1946 e nós, os missionários, viajávamos em primeira classe (...). A viagem no velho “Colonial” durou exactamente 45 dias a uma velocidade não superior a oito nós e com paragens de três a cinco dias para meter carvão. Este era carregado pelos negros ininterruptamente dia e noite. (Cesare Bertulli)

“E então na década de 60, quando se aproximou o vento da liberdade, houve um politico na República do Zaire, chamado Patrice Lumumba. Ele começou a sair nos jornais e nós começávamos a saber o que se passava. Todos nós comprávamos o jornal. Então, foi implementada a Pide. Se fosses encontrado a ler a página dos estrangeiros eras sujeito à perseguição. Quando saísse o jornal, tinhas que ler a página do desporto. Aqui na fábrica, alguns encarregados diziam-nos “tens cara de Lumumba”, “o gajo é dos mau-mau”. Entrava no bar e olhavam para nós “olá bom dia. Você tem cara de Lumumba”. Não podia responder. Se respondesse, pronto, estava mal. (Miguel Alberto Manjate)

A série "Guerra" que a RTP estreou esta semana, da autoria do ex-desaparecido Joaquim Furtado (por ser “muito à esquerda” para o gosto oficial), começou sob o mau augúrio da omissão do enquadramento histórico do colonialismo.

As imagens iniciais focam a revolta da UPA no norte de Angola, em 15 de Março de 1961, que semeou a morte e destruição entre alguns colonos brancos e milhares de assalariados negros que serviam os fazendeiros. Enfatizou-se os instintos de malvadez dos negros através de alguns testemunhos ainda vivos do grupo de Holden Roberto e dramatizou-se o pânico dos colonos. Neste primeiro episódio nada se referiu quanto ao principio da luta armada dos movimentos de libertação organizados politicamente – acções que começam antes, a 4 de Fevereiro com o ataque do MPLA às esquadras de policia de Luanda (um mês antes da carnificina desencadeada pela instrumentalização dos nativos pela UPA, a maioria deles grevistas em clara revolta contra as degradantes condições de trabalho na Baixa do Cassanje sob o chicote da multinacional do algodão Cotonang)

“No dia seguinte realizou-se o funeral dos policias mortos durante os ataques (13 de Fevereiro de 1961). Começaram, entretanto, a circular boatos falsos acerca de supostos planos para um ataque ao funeral, o que serviu de pretexto para um massacre de africanos por europeus. Este massacre não poupou até africanos que trabalhavam nas fábricas vizinhas.Calcula-se que foram chacinadas umas duzentas a trezentas pessoas. O morticinio prosseguiu e os corpos dos angolanos mortos jaziam pelas ruas de Luanda”
(Marta Holnets, no prefácio de “Sagrada Esperança” de Agostinho Neto)

“Aquela cidade viveu momentos de terror para as populações que habitavam os muceques. Os que não tinham bombas de flit e vassouras, mas tinham armas, organizavam-se em milicias e fizeram, durante Fevereiro e Março, um morticínio naqueles muceques. Eu assisti a vários” (Luandino Vieira, entrevista à Vida Mundial em 30/10/1970)

Não te lastimes Negro, da tua cor
Tu não és Terrorista ou saltimbanco
Se à Pátria dedicas teu amor
És português tal qual o Branco
(folheto de acção psicológica do Exército colonial)

“Os soldados portugueses em África defendem um território, matérias primas e bases que não são somente indispensáveis para a defesa da Europa mas do conjunto do mundo ocidental” (General Lemnitzer, comandante chefe da NATO, 1963)

Um terrorista deve combater-se com outro terrorista. Se os senhores padres não têm estômago para ver estas coisas, o melhor que podem fazer é sair de Mucumbura. Na guerra de guerrilhas não há julgamento. Uma morte a tempo pode salvar muitas vidas. Ouçam meus amigos, não se metam em politica. O vosso papel é pregar o Evangelho...
Os direitos do homem, admitidos por Portugal na ONU, do qual os senhores padres me estão a falar, são “books”, coisas escritas, e aqui não estamos para “books”. (Conversa da Pide-DGS com os missionários, citada por Cesare Bertulli, em Maio de 1971)

Nunca houve guerra sem mortandade! O mal é da guerra!... E de mais ninguém!
(Coronel Jaime Neves, em 2 de Abril de 1976)

E assim, se reclama de Joaquim Furtado ou do provedor do telespectador que esta citação, de um dos principais operacionais do golpe de 25 de Novembro, ou outro material informativo aqui referido, possam ainda ser incluidos nalgum dos episódios vindouros da série da RTP.

* Citações extraidas do livro “Ministros da Noite – Livro Negro da Expansão Portuguesa” de Ana Barradas, edição da Antígona, 1995
* Fotos: Fortaleza de Luanda, (Antigo Quartel General) 2007