Pesquisar neste blogue

terça-feira, outubro 22, 2013

safar os ricos, enterrar a classe média ("os pobres não vão a manifestações")

No “18º do Brumário de Louis Bonaparte” (1869) Marx identificou dez classes sociais e fracções de classe interagindo e lutando entre si pelos seus interesses. Marx previu que haveria uma polarização entre as duas classes principais consoante o processo de concentração da produção capitalista avançasse, entre os detentores dos meios de produção (a burguesia) e o proletariado (aqueles que nada mais possuem para além da sua força de trabalho para venda mediante o pagamento de um salário)

A tendência de declínio das Classes Médias começou na década de 90, quando se agravou o modo de exploração proposto pelo Neoliberalismo e as classes médias foram gradualmente perdendo rendimento real, compensado parcial e artificialmente pelo acesso facilitado ao crédito barato; ao mesmo tempo que se verificou um incremento da riqueza nos escalões mais altos. Esse processo foi colocado em risco com a crise de sobreprodução de 2008. Associado ao modo de desenvolvimento e acumulação capitalista assistimos neste momento a uma efectiva proletarização da pequena burguesia e dos pequenos proprietários. Afinal, com as medidas de salvação da burguesia e dos seus bancos, a polarização social, conforme Marx havia previsto, voltou a reemergir, com os extractos intermédios a empobrecer e a aproximar-se das camadas mais desfavorecidas, a raiar a miséria.

Portugal, uma Sociedade de Classes

Depois do gag governamental que permitiu a Paulo Portas ascender a vice-primeiro Aldrabão, e ao contrário do papel que o homem vinha anteriormente desempenhando irrevogavelmente, há um novo e brutal pacote de medidas de austeridade. E sobre isso, diz a a sua partner, Miss Swap: “não é altura para recuar. A economia portuguesa está a sair da recessão (...) é preciso recordar que a burguesia em Portugal esteve perto de uma situação de "falência desordenada" . Do desempenho orçamental destes pantomineiros, note-se que, estrategicamente, a TSU de Portas não avançou com esse nome, mas as medidas alternativas são tão brutais que a Troica ao pé destes tipos parece uma associação humanitária. Não admira portanto que a malta tente fazer manifestações de apoio à intervenção estrangeira dos credores nas decisões politicas nacionais
660 mil funcionários públicos 1) são atingidos com cortes de 506 milhões de euros. Para 165 mil os cortes duplicam. IRS sobre salários sobe 3,5%. Serviço Nacional de Saúde fica com menos 300 milhões – os cortes nos hospitais em 2012 criaram um buraco de 230 milhões só num ano, porque os responsáveis não são eticamente capazes de recusar assistências aos doentes; em 2013 haverá mais 13,5 millhões de cortes no subsidio de doença. Por contraste, os custos do Estado para pagar às Parcerias-Público-Privadas duplicam para 1645 milhões e o dinheiro pago em juros e amortizações da dívida pública aumenta 7305 milhões. As prestações sociais diminuem em 891 milhões. A idade de reforma aumenta para os 66 anos em 2014 e depois gradualmente nos próximos anos. Aumento para as 40 horas semanais sacam 153 milhões de trabalho que deixa de ser pago. Quem concordar trabalhar menos 1 dia por semana sofre um corte de “apenas 20%” – trata-se de lay-off e as greves do patronato são proibidas constitucionalmente. As transferências do Estado para as autarquias locais diminuem 70 milhões. Cortes na Cultura são de 725 milhões; na Ciência e Ensino superior serão menos 2182 milhões. Em compensação, a Defesa aumenta despesa total em 6,8% (mais 2.138,7 milhões de euros) face a 2013; a Justiça contará com menos 95,4 milhões. Multas nos transportes públicos passam a ser crime fiscal, susceptivel de penhora de bens se infracções não forem pagas: o Estado pensa cobrar mais 8,5 milhões com esta medida. Imposto sobre a circulação automóvel sobe e haverá novas portagens. Estado entregará à RTP mais 26,8 milhões no próximo anos. Numa opção clara da classe dominante, haverá um descida de impostos para a generalidade dos empresários. A ministra das Finanças quer vender 2,5 mil milhões em títulos de divida aos accionistas dispostos a investir na desgraça da maioria dos portugueses. E depois disto, Portas teme que 2º Resgate imponha um Pacto constitucional (ver post anterior) e avisa que existem riscos de ingovernabilidade.

(1) 18 "gestores" ganham tanto como 58.688 funcionários públicos

Sem comentários: