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segunda-feira, outubro 02, 2006

“first we take Manhattan, then we take Berlin”

Confesso que sempre me tinha intrigado a estrofe da canção de Leonard Cohen, um judeu nascido na América; até que um dia me topei com outro dos seus poemas:

“Bem vindo a este livro de escravos
escrito durante o teu exilio
afortunado filho-da-puta...
enquanto eu tinha de lutar
com todos os flácidos mentirosos
da Idade do Aquário”

O gigantesco monumento em memória dos judeus mortos na Europa durante a 2ª Guerra, erigido em Berlim, tem uma dimensão despropositada e obedeceu a critérios de propaganda. Não é apenas arquitectura pervertida. Encomendado ao arquitecto judeu-americano Peter Eisenman a obra ocupa a área total de um enorme quarteirão (20.000 m2) na zona mais nobre da cidade, paredes meias com as Portas de Brandenburgo e o Reichtag (o edificio do Parlamento, remodelado em 1999 segundo projecto do arquitecto judeu Norman Foster). No próprio centro de informações do memorial, (a) curiosamente construido aproveitando o abrigo subterrâneo do gabinete do Marechal Hermann Göering, se reconhece a importância de outros holocaustos similares, nomeadamente de militantes comunistas alemães, emigrantes russos, grupos de etnia cigana, homossexuais, etc. Nos anos que precederam o fim da guerra havia, só na Alemanha, 3 milhões e 500 mil soldados russos que estavam detidos como prisioneiros em campos de concentração. Quando o Exército Alemão começou a sucumbir ao avanço do Exército Vermelho fácil se torna perceber, na carnificina gerada, quem teria tido o maior número de vítimas, quando em desespero de causa os Nazis se decidiram pela “solução final”.

Finalmente, a coroar a monumental remodelação urbana depois da queda do Muro,,, nos terrenos a norte do “Memorial Judaico” (ele há com cada coincidência !?) está em construção a maior embaixada dos Estados Unidos no estrangeiro, com inauguração prevista para 2008, com a qual só rivaliza a que está simultâneamente a ser edificada em Bagdad como centro nevrálgico de controlo de todo o Médio Oriente.

“Quem não olha para os erros do passado, está condenado a repeti-los”
Berlim 1918-2008

O confronto entre as potências imperialistas, pela conquista de espaço económico vital, teoricamente tinha acabado (1914-1918), a Alemanha tinha perdido e estava sujeita ao pagamento de humilhantes indemnizações de guerra às potências aliadas. O esbulho, fixado por ultimato de 1921 em 132 mil milhões de marcos foi reflectido em cortes abruptos das condições de vida dos alemães e provocou uma tremenda crise interna, afinal ditada do exterior pelos vencedores. Era necessário pagar anualmente uma dívida de 3500 milhões de marcos-ouro. Os governos conservadores devem então ter tentado passar a mensagem “de que era preciso cortar nas despesas para equilibrar o défice
Contudo a responsabilidade da declaração de guerra tinha partido da oligarquia monárquica – o rei da Prússia Wilhelm II e Imperador da Alemanha foi o responsável pela declaração de guerra à Russia e à França – mas agora a situação económica de muitas famílias é que era desesperada. Mais de 200 mil soldados tinham sido mortos em combate. A principal indústria, a do armamento, tinha sido colocada sob alçada militar. O desemprego generalizou-se. Heinrich Mann, (cujo primeiro nome era Luiz) um judeu socialista de Berlim futuro prémio Nóbel, depois de “o Professor Lixo” (1) escreve “Os Pobres”. Mais tarde depois de tomar o caminho do exílio para os Estados Unidos publicaria a sua obra bibliográfica “Uma Época em Exame” (1945) considerada de grande importância para se conhecer a Alemanha da primeira metade do século XX. As greves e as manifestações sucediam-se. Era necessário recorrer à mobilização geral das forças policiais para reprimir as grandes manifestações de desempregados. O clima geral era de insurreição e de guerra civil, tanto mais que a Revolução Russa tinha triunfado em Novembro de 1917 e em Berlim tinha sido fundada, ainda no seio do Partido Social Democrata (USPD), a Liga Spartakus, com a militante judia-polaca Rosa Luxemburg à cabeça, que congregava o movimento comunista em redor de um programa de acção preconizando a formação de conselhos (sovietes) de Operários e de Soldados.

Em Novembro, o rei Wilhelm II abdicava, pondo fim ao II Reich, e cada uma das facções politicas em palco proclamava à sua maneira a República Alemã; era a Revolução.
Foi desta varanda do Stadtschloss (hoje, depois de vicissitudes várias, a fachada foi remontada no Lustgarten) que Karl Liebknecht em 9 de Novembro de 1918 proclamou a República Socialista Livre da Alemanha.

(1) celebrizado no cinema como argumento para o filme “O Anjo Azul” realizado por Joseph von Sternberg.
Os grandes Banqueiros e os patrões da Industria cedo se aperceberam da importância da manipulação das massas populares e de como estas poderiam ser neutralizadas e vendidas ao Poder através da criação de ilusões. Na época as obras de Sigmund Freud e Carl Jung causavam grande polémica, e tiveram leitores atentíssimos. Sob a égide de Hindenburg, e financiada por magnatas como Ludendorf, Kirdorf, Thyssen e Krupp foi criada a UFA, (Universum Film Aktiengesellschaft), que ainda hoje existe, virada principalmente (como é óbvio) para a produção televisiva. Hoje o Dresdner Bank é o principal accionista dos estúdios; a sua filial hi-tech berlinense na Pariser Platz, concluida em 2001, situada paredes meias com a embaixada americana foi projectada pelo arquitecto judeu-americano Frank O`Ghery.
A inauguração dos estúdios da UFA em 1917 em Babelsberg, nos arredores de Berlim, constituiu um padrão de inovação que trouxe fama mundial para o cinema alemão. Aí foram produzidos muitos filmes famosos: “O Gabinete do Doutor Caligari” de Robert Wiene, “Madame Dubarry” do judeu Ernst Lubitsch, “Nosferatu” de Friedrich Murnau, “A Morte Cansada”, “Matou M”, “Doutor Mabuse” e “Metrópolis” do judeu antinazi Fritz Lang, “Diário de uma Mulher Perdida” de Georg Pabst, entre muitos outros. Com a chegada do Nazismo nos anos 30 (Hitler considerava a UFA infestada de realizadores, argumentistas e actores judeus, o que até era verdade), a maior parte dos realizadores deixou a Alemanha a caminho do exilio nos Estados Unidos, onde continuaram a trabalhar. A hegemonia de Holywood estava garantida.

De autoria de um dos que ficaram - Werner Kraus - surgiu uma obra premonitória dos tempos que aí viriam - o filme considerado o mais anti-semita de sempre: “O Judeu Süss”. Se fosse nos dias que correm, a personagem terrível seria o Bin Laden.
Porém, se a élite cultural judaica abastada e a burguesia rica e próspera tinham conseguido escapar-se para a América, as classes dos judeus mais desfavorecidas tiveram um destino bem mais trágico.

concluindo:
o III Reich foi anti-semita porque perseguiu e matou judeus,
o IV Reich é anti-semita porque persegue e mata árabes, (mas nem todos)

,,, pelo caminho, da ala esquerda da Social-Democracia alemã,
tudo o que resta hoje é este pedestal vazio na nóvel Potsdamer Platz
onde antes estava a estátua de Karl Liebknecht.
Reza uma competente placa em aluminio que a estátua
foi desmontada por deliberação camarária tomada por maioria
da Assembleia Municipal. Têm vergonha da sua História,
(ou medo?) mas estão enganados nos simbolos, que
desmontam por um lado, mas que edificam por outro.
Aliás, a História da Alemanha deixou de ser escrita por alemães.

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