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quarta-feira, novembro 15, 2006

do ensaio sobre a Cegueira até ao excesso de visão

Na passada segunda feira, ao fim da tarde, aconteceu algo que pode ser considerado paradoxal: José Saramago é convidado da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) para o lançamento de um estudo de literatura comparada, em lingua inglesa, sobre a sua obra. A Fundação é gerida pelo (ex)-barão do PSD Rui Chancerelle Machete, que preside à sessão. Tudo normal; é conhecida a capacidade do capitalismo em tentar assimilar as vanguardas contestatárias, envolvendo-as, jogando com as capacidades de sobrevivência económica das ideias, para as incorporar depois de domesticadas, ou para as destruir caso “não vendam”. Um dos capítulos da obra lançada trata disso mesmo: “How totalitarianism begins at home: Saramago and Georges Orwell” de Christopher Rollason.
Vim aqui, e as pessoas interrogar-se-ão: será que eu me vendi, ou eles me compraram? diz Saramago, “nem uma coisa nem outra, não sou própriamente alguém que possa ser tido como hostil ao povo americano; aliás, segundo creio, serei até tido em muito boa conta: o “Ensaio sobre a Cegueira” vendeu já nos EUA 400 mil exemplares”, o que é significativo e considerado um best-seller num meio alienado onde quase ninguém lê, antes “os consumidores de cultura” se perdem no consumo alienado de doses cavalares de tv; e espera-se, que depois da adaptação do livro em filme que o realizador Fernando Meirelles ("Cidade de Deus" e o "Fiel Jardineiro") está a rodar, as vendas disparem ainda mais. Logo “não estão perante um “inimigo”; “não venho mais vezes a esta casa porque não me convidam” concluiu o escritor.
Tudo normal portanto, tanto quanto logo de seguida Saramago passou o raspanete da ordem em directo a esta Administração: “apesar dos inúmeros convites de instituições que recebo não irei aos EUA enquanto a actual politica se mantiver. Assim não”. A capacidade do capitalismo em tentar assimilar as vanguardas contestatárias, por ora, ficará no limbo do insucesso; o que é notável - que um homem, e logo português, armado de uma ideologia diabolizada sistematicamente por uma máquina gigantesca, possa sózinho (apoiado na força dos seus leitores) questionar o Império exigindo-lhe a obrigação de contrapartidas.
Bem haja José Saramago, em vésperas do seu 84º aniversário, quinta feira 16, quando lançará as “Pequenas Memórias” na Azinhaga do Ribatejo, a terra onde nasceu.

Passou um dia, passaram dois dias, vasculhamos os jornais de referência,,, e nada. Sobre o evento de Saramago na FLAD, nem uma linha. Só o que é visivel existe na lógica da (des)informação dos serventuários dos interesses instalados, portanto toca a esconder Saramago nas catatumbas da indiferença. Como são ridiculos, se acham que o conseguem.

A Banalização da Corrupção
(ou de como aos cegos, agora nos deu para começar a ver)

Ao contrário, no dia seguinte, o lumpén político resolve ocupar as primeiras páginas dos jornais com uma cabala montada do avesso. Ao contrário de Saramago, que se confessa, - “aquilo que fôr meu, às mãos me há-de vir parar – esta gente faz pela vida, para o que conta com a cumplicidade generalizada da imprensa corporativa cujas falsidades já ninguém compra.

A dupla PSL /Portas, em vez de estar a braços com a Policia Judiciária, prestando Santana Lopes contas à Justiça sobre os casos BragaparquesParque Mayer, terrenos da Feira Popular, Vale de Santo António, Epul, Infante Santo, etc; e Paulo Portas sobre o caso, entre outros, das contrapartidas e comissões nos negócios de armamento pouco claros com o sr. Donald Rumsfeld que lesaram o Estado português em milhões – resolve-se mover influências, e com a chancela da Editora Aletheia (propriedade da dissidente Zita Seabra e de Dias Loureiro, outro notável do PSD envolvido no caso SIRESP ), (ver mais aqui) publicam um livro às pressas como manobra de distracção visando desviar a atenção do grande público do acontecimento verdadeiro, que envolve ainda Bagão Félix o ministro-chave do governo de Santana Lopes:

Antes de sermos uma versão mais ou menos consolidada de porta-aviões barato do eixo Atlântico, sabia-se que éramos um país pequeno, pobre e mesquinho - agora, continua cá a caber, incólume, em versão revista e aumentada, a choldra de que falava Eça de Queiroz.





A interacção estratégica entre lobies, leva a um equilibrio precário, a um jogo de ameaças em que a parte oposta nunca sabe o que a outra tem escondida. Assim, o melhor é "procurar a estagnação dos conflitos" (Thomas Shelling, prémio nobel da Economia in a Teoria do Jogo).
Assim - o populismo desavergonhado vai amanhã à RTP em horário nobre ser entrevistado na pessoa de Santana Lopes no piramidal show-off "Grande Entrevista" da inefável Judite de Sousa - E o populismo silencioso vai à SIC ser entrevistado à mesma hora, na pessoa de sua excelência o senhor presidente da república, Cavaco Silva no programa "Diga lá Excelência" da circunspecta Maria não sei quê Avillez.

grafiti fotografado numa rua de Alfama
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