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domingo, junho 30, 2013

do Materialismo Dialéctico Marxista

Descartes, no Discurso do Método, propusera já regras para a Análise de uma coisa (atingir os elementos do objecto estudado) e a Síntese (reconstituição do conjunto onde se integra a coisa estudada). Kant, Auguste Comte e muitos outros tinham já insistido na exigência básica da pesquisa científica e da razão humana: não isolar o objecto considerado, investigar as suas ligações, as suas relações constantes e regulares com outros fenómenos. O que acrescenta de novo o método marxista inspirado em Hegel? - a análise aprofundada de toda a realidade atinge elementos contraditórios, o ser e o não ser (ignorada na filosofia de Descartes, Comte e Kant) - a realidade a atingir pela análise e a reconstituir pela exposição (sintética) é sempre uma realidade “em movimento”. É preciso atingir os elementos por abstracção, declarando o método marxista possivel a reconstituição do todo e dos diversos movimentos que o constituem. Cada objecto estudado tem incorporado em si o seu devir (pela sua dialéctica). Em toda a parte, em todas as coisas, existem contradições que serão resolvidas pela sua superação, elevando-as a um nivel qualitativo superior e à aparição de novas contradições.

O método dialéctico teorizado por Marx superou a dialéctica hegeliana, que apenas distinguia a contradição de forma abstracta e de forma geral aplicada à Natureza e à História. Marx afirma que o método dialéctico não dispensa a apreensão e o conhecimento em si de cada objecto, o seu movimento interno, a sua qualidade e as suas transformações bruscas. A lógica do estudo deve pois subordinar-se ao conteúdo da matéria estudada. As ideias que fazemos das coisas – a nossa mundovisão – são apenas o mundo real, material, expresso e reflectido na mente dos homens, isto é, edificam-se com base na prática e no contacto activo com o mundo exterior, através de um processo complexo onde entra toda a cultura (sociologia cientifica). De Adam Smith a Durkheim, a divisão de trabalho foi objecto de diferentes estudos, mas não sendo dialécticos perdiam de vista a relação das contradições nos modos de produção, de circulação, consumo. A concepção materialista da Sociedade e da História está ligada à descoberta do papel do Trabalho, da produção, no fabrico de bens materiais necessários à vida. Na organização da sociedade tendo em vista um tal fim, só uma classe não vive da exploração das outras, antes é ela pròpria a criar, pelo seu trabalho produtivo todos os bens e valores e pode reconhecer o verdadeiro papel do trabalho (1). “O modo de produção da vida material, escreveu Marx, é que condiciona o processo da vida social, politica e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, é o seu ser social que determina a sua consciência”


Para os prisioneiros da caverna de Platão, as sombras que se reflectem nas paredes do fundo é que são únicas realidades existentes, isto é, as coisas são apenas sombras das ideias (2).

Do mesmo modo, em certos sectores obscuros contemporâneos subsistem forças sociais que têm interesse numa inversão idealista do mundo. Sob influência primitiva de pontos de vista de crenças religiosas, Platão declarou que os conceitos pertenciam a “um mundo mais elevado”, o das Ideias, às quais atribuiu existência independente – assim, o Idealismo é a orientação fundamental da filosofia que parte do princípio de que a existência, pensamento, espírito, vontade, logo, qualquer coisa de ideal, de imaterial, é primário, fundamental, determinante; e de que a matéria, a Natureza, o mundo material, são produzidos por “pensadores” ou factores deles dependentes. Neste contexto, as classes proprietárias e dominantes sempre detiveram o monopólio da actividade intelectual, defendendo a ferro e fogo a divisão artificial entre trabalho corporal e espiritual. Apoiada na submissão pela ignorância, trata-se de uma intrujice intencional das classes dominantes, reaccionárias, para subjugarem intelectualmente a maioria do povo que aspira a trabalhar para seu próprio beneficio (3)

A oposição entre Materialismo e Idealismo, a luta contraditória que opõe as duas mundivisões, integra uma lei fundamental da história da Filosofia. Na disputa entre sistemas filosóficos não existe nenhum conhecimento verdadeiro nem nenhum progresso, de tal forma que qualquer pensamento é válido como progressista? Se assim fosse não valeria a pena estudar filosofia. E de facto é isso que o Poder das classe dominantes determina, ao privilegiar a alienação das massas oo estudo em cursos de gestão tecnocrata em detrimento do estudo das Humanidades. A Filosofia expressa de forma mais geral os interesses, anseios e ideias de classes sociais. A luta entre posições filosóficas é, por conseguinte, totalmente explicável. Ela é o reflexo da luta económica e politica entre as classes, é uma das formas por que as classes se consciencializam dos seus objectivos e anseios, é uma componente importante da luta ideológica de classes. A filosofia do Materialismo foi, a maior parte das vezes, a expressão ideológica dos anseios das classes progressistas, que têm por objectivo a transformação da sociedade. O Idealismo, pelo contrário, foi frequentemente a visão das forças de classe reaccionárias, que ainda estão interessadas na defesa das situações sociais existentes.

Que concepção defende a filosofia materialista?

Muitas pessoas ainda continuam a acreditar que o Materialismo é uma concepção que enaltece as vantagens e os prazeres materiais e menospreza anseios e ideiais espirituais mais elevados. Desde Platão e de já há cerca de dois mil anos que ele é aasim apresentado pelos adversários da filosofia materialista: “o filisteu entende por materialismo o comer, o prazer dos olhos, o prazer da carne e a soberba, a cobiça, a avareza, a avidez, a sede de lucro e as fraudes da bolsa, isto é, todos os vícios sórdidos a que ele próprio secretamente se entrega; e, por Idealismo, a crença na virtude, no universal amor ao homem e num “mundo melhor”, em geral, que gosta de alardear perante outros mas em que ele próprio não acredita – quando muito – enquanto passa pela ressaca ou pela bancarrota que necessariamente se seguem aos seus habituais excessos “materialistas” e canta o seu estribilho favorito: “o que é o homem – meio animal, meio anjo” (4)...


na realidade o Materialismo e, por maioria de razão, o Materialismo dialéctico e histórico nada tem a ver com uma tal visão. O nome “materialismo” designa uma concepção filosófica e não uma ideologia moral.

O principio fundamental do Materialismo em todas as suas várias formas históricas, consiste em observar o mundo objectivo tal como ele realmente é, sem recorrer a hipóteses fantásticas. Dito de outro modo: o Materialismo explica o mundo a partir dele próprio, das suas conexões regidas por leis. Em primeiro lugar porque a matéria é a realidade objectiva e existe fora da nossa Consciência e independentemente dela. Em segundo lugar, porque a matéria é a fonte última de conhecimento assente em aceitar ou rejeitar a confiança do homem no testemunho dos seus orgãos dos sentidos (5). Mas a visão materialista da natureza não é mais que a simples apreensão da natureza, tal como ela se dá, sem acrescentos estranhos... (6). A concepção materialista coincide, assim, totalmente com a experiência prática dos homens, com o são raciocinio humano, mas também com a ciência. No fundo, qualquer pessoa sensata enfrenta desta maneira as coisas e os acontecimentos da vida prática, qualquer pessoa se comporta espontaneamente de forma materialista. Mesmo o mais emperdernido dos idealistas intui que não é produto de nenhum espitiro supranatural, vai ao dentista quando tem dores de dentes, como e bebe e não se esquece de respirar (7)

notas:
(1) As Classes (Karl Marx, Livro III de “O Capital”, no Marxists.Org)
(2) Platão, a Caverna
(3) "E na mesma medida em que se desenvolve a burguesia, isto é o capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos modernos operários, os quais vivem só enquanto têm trabalho e só têm trabalho enquanto o seu trabalho aumentar o capital. Estes operários, que têm de se vender a retalho, são uma mercadoria como qualquer outro artigo de comércio e estão, assim, igualmente sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência e a todas as flutuações do mercado." (Manifesto do Partido Comunista)
(4) Friedrich Engels: “Feuerbach e o Fim da Filosofia Alemã
(5) Lenine em “Materialismo e Empiriocriticismo”, 1919.
(6) Engels, Dialéctica da Natureza
(7) Curso Básico de Filosofia Marxista Leninista, de Erich Hahn e Alfred Kosing, 1984.

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