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sexta-feira, agosto 04, 2006

5 minutos de história

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Havana, final dos anos cincoenta. Cuba era então uma colónia para satisfação de vícios dos abastados parasitas do rico regime do continente a norte. Noventa por cento da área agrária era propriedade de multinacionais dos Estados Unidos. Na grande cidade proliferavam os bordéis, os casinos, as casas de penhores, joalharias luxuosas para adereçar prostitutas, traficantes de tudo o que é possivel e imaginário - enfim, toda uma fauna de agiotas e proxenetas que as economias de corrupção são férteis em produzir. Nem vamos mencionar o flagelo da droga, de que existem, e se arrastam por décadas os tristes exemplos dos paises das redondezas. Se a degradação atingia os niveis de prosperidade para alguns, poucos, que os comentadores ocidentais tanto apreciam, enquanto isso, os camponeses definhavam na mais negra das misérias no interior, sem terras, como ainda hoje, passados cincoenta anos, os brasileiros estão. Sem trabalho, como muito bem o sabem os milhões de "garotas de programa" do rico Brasil e não o sabem os meninos de Cuba, onde não há uma única criança sem habitação. Sem educação, como não o sabem os mais de 50 milhões de analfabetos que subsistem em toda a América Latina. Sem cuidados médicos, ainda por cima gratuitos, para desespero dos lobies farmacêuticos mundiais. A mortalidade infantil é de 0,7%, uma das mais baixas do mundo. Fidel Castro foi o primeiro Chefe de Estado a receber a medalha da "Saúde para todos" da OMS, em 12 de abril de 1988. Com os bens alimentares, embora que racionados, acessiveis a preços irrisórios para todos, como gostariam de poder usufruir, por exemplo, os 3000 sem-abrigo da cidade de Lisboa só para referir a zona do nosso país onde o nivel de vida é mais elevado, omitindo, por piedade, a miséria encapotada que vai por aí. Aquilo a que Vasco Pulido Valente alcunha de "antiga economia de sucesso" foi exemplarmente retratado na obra de Francis Ford Copolla "O Padrinho" (III) quando a máfia de Don Corleone, em vias de legalização, coligada com os politicos e os habituais enxames de consultores empresariais transferiram a gestão do jogo de Las Vegas e dos negócios clandestinos para Havana. Mau negócio. No dia 1 de Janeiro de 1959 em Havana apoiado por centenas de milhares de cubanos pobres e excluidos, como diz a velha canção "llegou el Comandante y la "brincadeira" se vaya a parar"!

Monróvia, 2006. Cincoenta anos depois a azáfama persiste. O tipo de sociedade pária onde falta tudo e as carências são criminosas mas onde , por contraste, os exportadores de bens de consumo arrecadam fortunas, fazem as delícias de intelectuais inebriados pelos vapores de "cubas livres" como Vargas Llosa. Barracas, amontoados de carros, carrinhos e carrões, estropiados da vida coexistindo com as indispensáveis televisões de plasma com locutores competentes incluidos no preço e enxergas de palha onde se dorme, bicicletas, micro-ondas , penicos Philip Starck, côcos, ipods, peixe seco infecto, fotos de gajas da Play-Boy, frigobares, tachos de aluminio encardido, telemóveis, preservativos anti-sida e restaurantes com estrelas Michelin. Para usar em perfeitas condições, condimentado pela inevitável liberdade (do mercado, essa entidade etérea), a facilidade de imprimir cartões de plástico que possam dar crédito às vítimas do consumo imbecilizadas por promessas mirabolantes,,, é a coroa de glória de qualquer troupe de economistas de sucesso, à custa da desgraça do endividamento alheio - Executivos que, à semelhança de qualquer pindérico ministro, vestem Armani e defecam em sanitas de design Villeroy&Bosh, vinte andares mais acima do chão onde os esgotos correm a céu aberto, o mesmo, onde correm velozes os jactos dos administradores da iniciativa privada.

Tal como no nosso 25 de Abril, os militares revoltosos que derrubaram a ditadura corrupta de Fulgêncio Bautista, eivados pelo espirito ético de "dar tudo ao povo sem lhe pedir nada em troca" - palavras então proferidas por Ernesto Guevara, apressaram-se a entregar o poder aos civis. Os orgãos da sociedade civil designaram Presidente, Manuel Urrútia. Em Abril, convidado por Roosevelt, Fidel Castro efectua a sua histórica viagem a Nova Iorque onde discursa nas Nações Unidas. Os norte-americanos cujos "empresários" tinham fugido a sete pés e abandonado aflitivamente à pressa e desordenadamente as "propriedades", ainda pensavam que estariam perante um tipo de regime passivel de ser "democratizado", onde ninguém fosse julgado nem condenado pelos crimes de lesa-pátria cometidos - enfim, como no nosso pós PREC, onde os interesses da Finança, da Banca e da agiotagem pré-existente se pudessem recompôr, quiçá ainda mais viçosos. Ninguém melhor do que nós, portugueses, para sabermos muito bem disso.
Em Cuba, perante os indícios de cooperação com os antigos exploradores do governo de índole social democrata, não tardou um ano que a população em massa nas ruas não exigisse que Fidel Castro assumisse as rédeas do Poder, em prol dos mais desfavorecidos.
Das primeiras medidas então levadas a cabo, a principal foi a mobilização geral de todos os professores do Ensino organizados em brigadas a todos os niveis, que partiram para os cantos mais recônditos da ilha em campanhas de alfabetização intensiva. Ao fim do 2º ano, o analfabetismo -incluindo a pior versão dele, como dizia Brecht - o analfabetismo politico - foi oficialmente dado como extinto. A Revolução ia começar.

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