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segunda-feira, setembro 17, 2007

Ode ao Economista de Esquerda

Se podes analisar, sem que os modelos te dominem
Se podes pensar sem que a álgebra seja o teu objectivo
Se não consideras que as palavras comuns são um desastre
e tratas por igual as palavras, as cifras e os símbolos
Se podes falar a multidões e manter a virtude
Ou passear com econometristas sem perder o sentido comum
Se os factos e as teorias não te alteram
Se todos os custos contam para ti, porém nenhum em demasia
Se podes comparar o minuto inexorávelmente
com o valor da distância que percorres em sessenta segundos
Teu é o Mundo e tudo o que nele está contido
E, o que é mais importante ¡Vais-te divertir à brava!

Este poeminha, que não está livre de alguma exigência de pagamento de royalties por parte de algum tetraneto do tio Rudyard, cumpre a função de apresentar o novo sítio internet Alter Economia.Org. - um projecto de um grupo de economistas espanhóis que se propõem “pensar e divulgar os factos económicos segundo outro ponto de vista
O seu objectivo é apresentar uma análise económica “mais crítica e interessada principalmente pelas facetas da actividade económica que mais afectam o bem estar humano” que, na sua opinião, “são as que têm a ver com o dinheiro e as finanças, com a distribuição de rendimentos, com a comunicação e, em geral, com o Poder e a Política”.
Trata-se de aproveitar a imensa influência da internet para distribuir conteúdos que normalmente não se difundem através dos meios de comunicação, precisamente, porque são eles que melhor ajudam a entender a realidade económica, a descobrir como actuam os grandes poderes económicos, e a sonegar aquilo que se pretende que se mantenha oculto da imensa maioria dos cidadãos”

Como intróito, Juan Torres López, Professor adjunto de Economia Politica e Fazenda Pública na Universidade de Granada, traz-nos 10 ideias para entender a actual crise financeira, as suas causas, os seus responsáveis e as suas possiveis soluções:
1. É uma Crise Hipotecária – a crise iniciada em Agosto é grave, muito mais profunda do que estão reconhecendo as autoridades económicas e, sobretudo, nada mais que uma antecipação de situações piores que estão para chegar.
2. Mas não é sómente uma Crise Hipotecária: é uma Crise Financeira – o crescente não pagamento inicial das hipotecas afecta de seguida a segurança e rentabilidade dos grandes bancos e fundos de investimento internacionais
3. Além do mais é uma crise que afecta a Economia Real – o mais provável que esteja a ocorrer é que muitos desses bancos nem sequer saibam de ciência exacta, concretamente, em que grau estão a ser afectados pela crise.
4. É uma Crise Global – é surpreendente a falta de informação, a opacidade e a falta de transparência com que as autoridades económicas estão a manejar a crise.
5. E quem sabe, seja algo mais que uma crise hipotecária, financeira e global – cada vez que os bancos centrais sobem as taxas de juro, o que se produz directamente é um transvase de rendimentos desde os bolsos das familias e empresas endividadas para os bolsos dos banqueiros.
6. É uma crise que tem gente prejudicada – na medida daquilo que as autoridades económicas vão fazendo, não fazendo, ou deixando fazer; são elas que fazem com que uns e outros sejam prejudicados ou beneficiados
7. Porém é também uma Crise que tem claramente Beneficiários – o nível de endividamento que hoje existe na economia norte americana, na europeia, ou em muitas outras (como a espanhola e a portuguesa) é simplesmente insustentável. Há muita gente que vai ver desaparecer-lhe as pequenas propriedades penhoradas pelos senhores da finança e da banca.
8. É uma Crise que talvez não seja facilmente passageira – o sector imobiliário, em primeiro lugar, rebentará proximamente pelos ares nos paises, como a Espanha, onde se geraram grandes bolhas especulativas
9. É uma Crise avivada e consentida pelos Bancos Centrais – como os desenvolvimentos da crise têm demonstrado, os Bancos Centrais (com a injecção de biliões de valores) vêm sendo meros instrumentos ao serviço da manutenção do “status quo” bancário e do poder monetário e financeiro global
10. É uma crise que se poderia evitar com outras políticas e com outros objectivos sociais – para evitar as crises hipotecárias é preciso evitar que a habitação se converta num activo criado para gerar beneficios através da acumulação especulativa.

(Estes são apenas os tópicos de cada um dos dez capítulos. A totalidade do artigo, em espanhol, pode ser lida aqui)

Como se disse aqui, depois do crash das Dot.Com em 2001 (facto que esteve na origem da decisão de avançar com o 11/9), a acumulção capitalista reconverteu-se literalmente enterrando os activos remanescentes em tijolos – até a economia rebentar de novo, na actual crise imobiliária.

Noutros artigos Alter Economia.Org. traça paralelos com o que se passou noutras crises financeiras do passado, e que lições se puderam aprender com elas que sejam hoje aplicáveis.
Steve Schifferes, da BBC, analisa o colapso das Dot.Com em 2000, a falência do Mercado de Acções de Longo Prazo em 1998 (quando Cavaco fez a famosa comunicação televisiva, que fez precipitar o desabamento entre nós, lembram-se?), o crash de Outubro de 1987, o escândalo das Caixas de Aforro Prestamistas em 1985, a Grande Depressão de 1929, recuando até às derrocadas dos bancos Overend & Guerney; Barings 1866, e novamente em 1890.
(ler aqui)
Enrique Javier Diez Gutierrez escreve sobre a mentira do Mercado Livre: o novo “Socialismo para os Ricos”
(ler aqui)
Michael R. Krätke, sobre a crise dos mercados financeiros, pergunta: “Vem aí um Grande Crash?
(ler aqui)
USA: a recessão eminente afundará o Casino arrastando consigo os seus Loucos, diz Alfredo Jalife Rahme
(ler aqui)
A dívida das famílias espanholas alcançou 115 por cento dos seus rendimentos em 2006
(ler aqui)
A crise Bolsista de 2007 inicia a era do socialismo para os Ricos e do capitalismo para os Pobres. Juan Hernández Vigueras pensa que de futuro existirão dois pesos e duas medidas
(ler aqui)
e claro, a crise hipotecária afecta fundamentalmente as familias latinas e negras, imigrantes, etc
(para ler aqui)
Antes que a crise se resolva pelos métodos tradicionais da História, Paul Streeten analisa o ¿Que está mal na economía contemporánea? Elaborando um resumo de estudos interdisciplinares.
(ler aqui)
E, para finalizar, temos aqui, no apuramento das causas e consequências do terramoto financeiro mundial, leitura que vai dar para uns dias largos. Claudio Testa: Socialismo ou Barbárie
(ler aqui)

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