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segunda-feira, janeiro 28, 2008

Cães de guerra

O cidadão comum anda embrenhado em digerir o carnaval das eleições americanas (e o nosso, importado directamente, também já não vem longe, falta pouco mais de um ano e os sintomas da farsa, em que só o Ps e o PSD é que se divertem, já se notam) enquanto a nossa maior preocupação deveria ser a de compreender porquê a crise do défice comercial (até aqui resolvido pela criação financeira de notas de dólar falsas) é presentemente o maior repto à incorrectamente chamada “democracia americana” que despreza as minorias e o senso comum da grande maioria da população e pretende criminalizar quem não se deixe alinhar pelo pensamento único.

O novo documentário de Chalmers Johnson “Acerca da Hegemonia Americana” numa série de episódios intitulados “Falando Livremente” (Speaking Freely) foca e lança a discussão (ver video) sobre o militarismo keynesiano e a bancarrota do Império:

Longe dos palcos mediáticos, “durante o próximo mês, o Pentágono apresentará ao Congresso a sua proposta de orçamento para 2009 (com os “democratas”) que desde já se aposta será maior que o exorbitante orçamento de 2008 (com os republicanos). Como o Exército e os Marines, o próprio Pentágono tem mais obrigações que recursos e estão todos sobre pressão – e como aos serviços que se prevê sejam chamados a prestar, se somarão as despesas de mais 92.000 soldados a recrutar durante os próximos cinco anos (com um custo estimado de 1.200 milhões por cada 10 mil recrutas) a reacção do Pentágono não pode (apesar da chamada crise financeira que corta em tudo que é serviço público) pedir a redução de despesas - ao contrário, como o que se pede é a expansão, pedirá sempre mais dinheiro. É um facto que as desastrosas guerras contra os afegãos e iraquianos continuarão a engolir dólares directamente do contribuinte (sejam eles de esquerda ou de direita) na medida em que nenhum dos candidatos em posição elegivel é contra a guerra. Neste contexto dá que pensar aquilo que os entusiastas da civilização ocidental gostam de chamar “a próxima guerra”, quer dizer, armas cada vez mais dispendiosas, a profusão de aviões ultra sofisticados, barcos e blindados para o futuro, não esquecendo os sitemas tecnológicos de “guerra em redeao estilo de Rumsfeld, os muito populares robots, aviões teleguiados, satélites de comunicação e obstrução radioeléctrica, bombas assassinas inter-espaciais em desenvolvimento, equipamentos e homens arruinados que é preciso substituir, etc.
O secretário da Defesa Robert Gates já disse (não dizendo, mas fazendo-o subentender) que as verbas de financiamento para 2009 foram fixadas em grande parte pelas gigantescas coligações militares- industriais: Lockheed Martin, Northrop Grumman, Boeing, Raytheon – são empresas que têm visto aumentar o valor das acções; para elas os tempos de paz são tempos traiçoeiros; mas agora têm cada vez mais esperança no futuro. Como assinalava Ronald Sugar, presidente da Northrop: “Uma grande potência global como os EUA necessita de uma grande armada, e uma grande armada necessita de uma quantidade adequada de barcos, que devem ser modernos e os mais capazes” – e adivinhe-se ¿ que companhia é a maior construtora de barcos para os Marines?
Os contratos e a subcontratação para a indústria bélica, cuidadosamente distribuidos por tantos Estados quantos sejam possiveis, significam postos de trabalho – e por isso no Congresso quarenta e cinco membros da Câmara advertiram para uma “enérgica reacção negativa” caso o projecto dos C-17 não fosse aprovado. Semelhantes gastos não são só obscenos de um ponto de vista moral, são também e sobretudo insustentáveis sob o ponto de vista fiscal. O problema que volta a ser posto, depois da economia Enron que financiou a subida ao poder de Bush, é como vão os EUA financiar as confabulações de guerras imperialistas de dominação global. Talvez convertendo-se numa espécie de casa de penhores bélicos – quem quiser brinquedos sofisticados de 30 milhões de dólares cada para andar a espatifar aí pelos cantos sem que se saiba propriamente com que finalidade senão a de sustentar as Oligarquia militares nacionais (e respectiva pléiade de serventuários politicos) tem de hipotecar as suas economias na casa de prego Washington Corp.

EUA, bora prá bancarrota!

Nada disto é surpreendente para aqueles que leram o livro de Chalmers Johnson publicado em 2007 “Némesis” (Os Últimos Dias da República Norte-Americana) que já é um clássico sobre o excesso de obrigações e os recursos limitados do Império – tanto mais oportuno quando apareceu no preciso momento em que se desmoronam os mercados bolsistas globais.
A dívida acumulada pelo Governo Federal não ascendeu a mais de 1 bilião até 1981. Quando George Bush chegou a presidente em Janeiro de 2001 era de 5,7 biliões. Desde então aumentou cerca de 45 por cento. Esta dívida enorme pode ser explicada em parte pelos gastos militares em comparação como o resto do mundo. Os dez principais orçamento militares, segundo o Slate.org são:

1. EUA: 623.000 milhões de dólares (2008)
2. China: 65.000 milhões (2004)
3. Rússia: 50.000
4. França: 45.000 (2005)
5. Japão: 41.750 (2007)
6. Alemanha: 35.100 (2007)
7. Itália: 28.200 (2003)
8. Coreia do Sul: 21.100
9. Índia: 19.000 (2005)
10. Arábia Saudita: 18.000 (2005)

Gastos militares totais no mundo (2004): 1.100.000 milhões de dólares
Gastos totais do mundo, exceptuando os EUA: 500.000 milhões de dólares

Porém há muito mais. Com a intenção de disfarçar a verdadeira dimensão do império militar norte- americano, o governo tem ocultado já há muito tempo gastos importantes relacionados com as forças armadas noutros departamentos fora da Defesa.
Por exemplo, 23.400 milhões de dólares destinados ao Departamento de Energia vão directamente para o desenvolvimento e manutenção de ogivas nucleares; e 25.300 milhões adstrictos ao Departamento de Estado são gastos em ajuda militar ao estrangeiro, sobretudo para Israel, Arábia Saudita, Bahrein, Kuwait, Oman, Qatar, Emiratos Árabes Unidos, Egipto e Paquistão.
Não vale a pena dissecar e analisar estas cifras sem uma advertência. As verbas publicadas pelo Serviço de Referência do Congresso e o Departamento do Orçamento do mesmo Congresso não coincidem umas com as outras. Robert Higgs, membro sénior responsável pela economia politica do Independent Institute diz: “um princípio bem fundamentado é pegar no Orçamento básico do Pentágono (sempre bem explicitado) e duplicá-lo. Incluindo, uma leitura ligeira de artigos publicados na imprensa sobre o Departamento de Defesa mostrará importantes diferenças estatisticas sobre os seus gastos. Entre 30 a 40 por cento do orçamento é “negro”, o que quer dizer que essas secções contêm gastos ocultos para projectos confidenciais. Não existe maneira possivel de saber o que incluem e se os seus montantes são exactos.
Por exemplo, visto do depauperado Portugal, haverá maneira de se saber com quanto contribui o governo português, oficial ou encapotadamente para o orçamento de guerra do Império?, (aliás, para engordar a carteira de clientes das supracitadas empresas do complexo político- militar)
Quem pagou pagou, e a partir de agora a intenção é pôr tudo a zeros, para que as vítimas dos governos possam continuar a pagar.


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