Pesquisar neste blogue

domingo, julho 20, 2008

"Standard Oil Company"

Este poema de Pablo Neruda foi escrito nos anos quarenta; pertence ao épico “Canto General”. Enquanto naquela época era a Standard Oil da familia Rockefeller, hoje pode ser qualquer uma dessas míriades de companhias petrolíferas (afinal apenas 4 grandes) em que aparentemente se pulverizou o negócio que saqueia o mundo inteiro. Essas que agora ambicionam o petróleo iraquiano e afegão e para as quais o presidente Bush pôs a trabalhar os seus soldados. Normalmente os povos resistem a este tenebroso poder, algumas vezes com sucesso, porém a maior parte das vezes com grandes custos para eles mesmos.

Quando o barro se abriu passou
através da superficie pedregosa
e despejou o intestino implacável
vindo das reservas subterrâneas
de milhões de anos mortos, sem olhos,
sem idade, imersos nas raizes
das plantas encarceradas
e dos sistemas estratificados
agitaram-se estractos de água,
subiu o fogo pelos tubos
convertido em líquido frio,
nas alfândegas das alturas e
à saída do seu mundo
de profundidade tenebrosa
encontrou um pálido engenheiro
e um título de proprietário

Embora se bifurquem os caminhos
do petróleo, embora as ventosas
mudem silenciosamente de sítio
e movam a sua soberania
entre os ventres das terras
enquanto prepara o operador
as brocas com parafina
antes chegou a Standart Oil
com os seus contratos e as suas botas
com os seus cheques e seus fuzis
com os seus governos e os seus presos

Os seus obesos imperadores
vivem em Nova Iorque, são polidos
e meigos, assassinos sorridentes
que compram seda, nylon, charutos,
tiranetes e ditadores

Compram paises, povos, mares,
polícias, deputados,
de longinquas comarcas onde
os pobres guardam o seu trigo
como os avaros guardam o ouro.
a Standart Oil desperta-os
veste-lhes uniformes, designa-lhes
qual é o seu irmão ou inimigo
e o paraguaio faz a sua guerra
e o boliviano desfalece
com a sua metralhadora na selva

Um presidente assassinado
por uma gota de petróleo,
uma hipoteca de milhões
de hectares, um fusilamento
rápido pela manhã
mortal de luz, petrificada,
um novo campo de presos
subversivos, na Patagónia,
uma traição, um tiroteio
durante um patrulhamento,
uma mudança subtil de ministros
na capital, um rumor
como uma maré de azeite
e logo a debandada, e verás
como brilham, sobre as núvens,
sobre os mares, sobre a tua casa,
as letras da Standart Oil
iluminando os seus domínios

* Pablo Neruda, escritor Chileno, Prémio Nobel de Literatura.

Sem comentários: