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segunda-feira, outubro 27, 2008

Doc Lisboa 2008 (IX) Hunger

Fome” (Hunger), de Steve McQueen, Grã Bretanha, 2008

Dramatizando a vida dentro da tenebrosa prisão de Maze e os altamente emotivos eventos em torno da greve de fome dos militantes do IRA (Exército Republicano Irlandês) em 1981 em luta pela segunda independência, o documentário ficcionado pelo artista plástico Steve McQueen ganhou em Cannes o prémio para a melhor primeira obra na secção “Un Certain Regard”.
Michael Fassbender, 31 anos, representa magistralmente o papel de Bobby Sands, um activista do IRA que entra em greve de fome, depois de condenado a 14 anos de prisão em 1977 por posse de arma de fogo, que depois de 66 dias sem comer morreu na prisão de Belfast aos 27 anos de idade. Estes acontecimentos foram ferozmente censurados nos media da época por pôr em estado de choque a corrupta “democracia de sua Majestade”, que se recusava a reconhecer estatuto politico aos prisioneiros - durante a greve de fome Bobby Sands foi eleito como deputado ao Parlamento de Westminster – um facto extremamente importante que, 30 anos depois, é de novo “esquecido” nesta obra por McQueen. Embora com extrema eficácia em mostrar o clima de violência dentro das prisões da Irlanda do Norte (afinal isto passa-se na moderna Europa dos “direitos humanos"), o realizador está mais interessado em questionar a moralidade da decisão individual de morrer por uma causa colectiva. Politicamente ficamos na mesma?, talvez não. Sands morreu porque ele pensou em consciência que tinha razão, e essa decisão ecoará para sempre dentro das nossas cabeças; muita gente que chegou agora à história não fará ideia do clima que se vivia então em Belfast contra a invasão do governo britânico (o brutal “Domingo Sangrento” em Derry, ou incidentes como o de Bombay Street), mas o que é um facto incontornável é que mataram um deputado eleito.

Margareth Tatcher, a primeira ministra diria 2 dias antes da morte (a 5 de Maio) em comunicação no dialecto televisivo do costume : “o sr. Sands é um criminoso convicto; agora resolveu assassinar-se a si próprio. Essa é uma escolha que a sua organização terrorista não consentiu a muitas das suas vítimas”.
Estando a história feita, sabendo-se que as autoridades britânicas torturavam os presos na SUA PRÓPRIA TERRA (SteveMcQueen encena a violência da tortura numa perspectiva estética), décadas após serem tratados como cidadãos de segunda classe, descriminados a todos os níveis, incluindo por segregação religiosa, o único momento de felicidade para o espectador é a cena em que o polícia torturador leva um valente tiro nos cornos. O que deixa a escolha feita: Bobby Sands é um herói na verdadeira acepção e em todos os sentidos da palavra e a Madame Tatcher que presidiu a um governo terrorista tem uma estátua dourada no Parlamento neocon. Agora que muita gente (como o conceituado escritor árabe residente em Londres Hanif Kureishi) começa a apontar o dedo a Margareth Tatcher (a sósia de Reagan na politica de desregulamentação imposta pelo Consenso de Washington) como a verdadeira autora da crise económica actual que devastará milhões de vidas, o mínimo que se poderá exigir é que a criminosa seja julgada rapidamente antes que morra
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