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sexta-feira, dezembro 25, 2009

assaltos culturais: "o natal"




Por incrível que pareça, no século VI antes do Messias, ainda anteriores à mitologia greco-romana, já uns caramelos etruscos desenhavam em Itália cenas de presépio com imagem contemporânea em vasos de cerâmica. Seriam bruxos? ou a malta das catatumbas inventou “Jesus” e abotuou-se com os mitos dos povos primitivos?

A história está exposta no Museu do Louvre em Paris. Segundo
os Hinos Homéricos, Hermés nascido filho de um deus (Zeus) e
de uma ninfa (Maia) para comemorar o seu nascimento matou
cinquenta e tal bois e dedicou-os ao seu cunhado Apolónio (ampliar).

Sob a barragem do assalto civilizacional actual também nós nos atrevemos a borrar a pintura, salientando os efeitos do “socialismo neoliberal” aplicados ao Presépio. Se nós não nos salvamos, Deus também deve sair lixado da cena. Personagens e intérpretes:

Pastores – Não há nada mais certo que verificar-se que nos diversos Beléns há mais pastores que ovelhas, parece absurdo, mas sempre foi assim. Por isso seremos obrigados a desfazermo-nos de todos, menos um. Serão instalados “pastores eléctricos” (cercas electrificadas) a fim de controlar as ovelhas; depois da instalação completa planeia-se a possibilidade de substituir o pastor que resta por um cão da GNR com experiência

Personagens das guildas de artesãos – É surprendente a quantidade de operários manuais que pode haver nas re-edições dos presépios de Belém. Ferreiros, padeiros, carpinteiros (fazendo concorrência desleal a São José) tosquiadores, taberneiros … ofícios para os quais é igualmente surpreendente ver os poucos clientes que restam. A decisão a tomar é despedir todos os artesãos; é duro, mas não há outro remédio senão continuar a adquirir esse tipo de bens e serviços nos centros comerciais, a empresas como a Ikeia, a Nike ou a Starbucks que podem livremente e em democracia sub-contratar menores para sacar pechinchas quase à borla na origem que revendem com mil por cento de lucro assalariando no destino escravos pagos a ordenado minimo
















Cabana e Palheiro
– a importar exclusivamente da China e correlativos. Se houver queixas de falhas nas instalações no atendimento a partos de meninos, podem manifestar-se em frente do ministério responsável pelo SNS para que adopte o sistema de cama quente como a maioria dos emigrantes fazem.

Lavadeiras – Há uma mania compulsiva de lavar a roupa no Presépio. Esses postos de trabalho menores, ocupados quase sempre por mulheres, serão suprimidos. Cada um lavará a sua roupa nos intervalos disponíveis do trabalho, contribuindo assim para a equiparação dos sexos na repartição das tarefas domésticas

Anjo da anunciação – Uma vez que os pastores foram todos à vida não faz sentido manter um anjo a anunciar novidades às ovelhas. Será substituído por um reclamo luminoso onde se anunciem também promoções de marcas de outsourcing para a próxima campanha comercial do dia de São Valentim

Castelo de Herodes – Herodes será mantido no seu posto. Não é que mande muito, mas sempre dá despacho a directivas. Soldados ficarão dois, por razões de segurança, porém serão pagos através de externalidades. Serão contratados pela Prossegur-Castelos SA, sem custos fixos e pagos com flexibilidade por tarefa.

Figurantes – É escandalosa a quantidade de personagens que abundam em Belém sem fazer nada. Serão todos despedidos. Já haviam de o ter sido há mais tempo.

Peregrinos com prendas – são um grupo distinto de figurantes, algo menos ociosos, porém não muito mais produtivos, que normalmente se dirigem ao cenário do acontecimento com a mais variada quantidade de objectos. Uns com galinhas, outros com cabritos, outros com cestas ou pastas pretas (que dossiers levarão dentro dos atados estas misteriosas personagens?). Dado que perseguem todos o mesmo destino, organizaremos um serviço de logística para rentabilizar o processo. Peregrinos sem prendas serão todos despedidos. Ficará apenas o mais habilitado, que com a ajuda de um animal de carga recolherá todas as viandas e a cada 5ª feira as apresentará a Deus.

Reis Magos – Supõe-se que um só rei é mais que suficiente, para levar o ouro e incensar os derivados em bolsa, a Mirra. Eliminamos dois reis e também os camelos e os pagens. È melhor ficar com o Rei Negro para que não haja acusações de racismo, além disso jamais se recusará a trabalhar nem a pedir baixa à caixa. Por fim vende-se o ouro; e o incenso será o único activo a preservar para reduzir ao mínimo os custos da empresa organizadora do presépio.

a Mula e a Vaca – a única função destes bichos é fornecer calor. Isso pode ser perfeitamente propiciado por uma fogueira solar. Sob a direcção prévia de um “assessment center”, a Mula é transferida para o serviço de logística atrás citado e o Boi regressa à agricultura, ou vice-versa.

São José e a Virgem Maria – Continuando desconhecido o paradeiro do Espírito Santo, a Trindade ficará representada por uma só pessoa. Desta forma se evitam baixas duplas por maternidade/paternidade. Por razões de quotas de paridade ficamos com a Virgem e despedimos o São José, que aliás, já não exerce as funções de carpinteiro com que entrou para a empresa.

o Menino Jesus – apesar de ser um juvenil dispõe de um potencial muito elevado. Parece que o seu pai controla umas situações com grande valor acrescentado e sempre em grande expansão. Vamos manter o fedelho no berço com um salário de merda até que demonstre o seu valor.

Assim sendo, as imagens de Belém ficarão organizadas da seguinte forma: 1 Pastor com Ovelhas numa cerca, 1 Chinês com uma loja/pousada aberta 24 horas por dia. Herodes e os 2 guardas subcontratados, um peregrino agricultor que se governa com a mula (ou a vaca) fazendo as honras da casa, 1 Rei negro (ilegal), a insuspeita Virgem e o Menino trabalhador infantil. É muito mais austero que nos anos anteriores, porém como se presume, estamos a poupar umas massas ao país... (do qual, como expatriados, teremos de fugir a sete pés!)

(adaptado de uma ideia dos nossos amigos do Kaos en la Red)
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