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terça-feira, maio 16, 2006

O "arrastão" Carrilho

"Existirá uma «redacção única» que harmonizaria a opinião pública? Mas será que é composta de jornalistas? Ou temos de procurar os manipuladores de moeda noutro lado? Com este livro acabou a idade da inocência do quarto poder instalado"
José Medeiros Ferreira

Todos sabemos como os Media Corporativos manipulam as opiniões publicas com mentiras para que os Politicos, quase regra geral, possam implementar, na medida em que as legitimam, soluções pretensamente democráticas, contrárias aos interesses da maioria dos eleitores. Por exemplo, este titulo na 1ª página do diário “O Publico” da última sexta-feira, sugere:







para depois começar o artigo assim: “O Presidente da Republica Jacques Chirac poderá estar envolvido no escândalo” (...), etc,etc. Aquela subtil dúvida expressa com o termo“poderá” faz toda a diferença, na medida em que não aponta a culpa definitiva (antes dos tribunais), ao contrário do titulo que sugere, com o afirmativo “estará”, estar Chirac mesmo implicado (subsituindo-se o jornal aos tribunais). Quantos leitores lêem uma 1ª página dos jornais e qual a percentagem deles que compra o jornal e vai depois ler cuidadosamente o conteudo para verificar se este confere com as ideias induzidas numa primeira impressão?,,, óbviamente, a mentira prevalece. Não há uma segunda oportunidade para uma primeira impressão.

“Sob o Signo da Verdade”, o livro de Manuel Maria Carrilho

Posta a questão nestes termos é evidente que o sistema politico e mediático que tal permite, “não está de boa saúde” como diz Mário Mesquita, um dos raros colunistas onde se pode pesquisar nas entrelinhas do que escreve a parte da verdade que nos é constantemente escamoteada. Diz ele: “é por isso que se afigura desejável referir neste comentário as revelações mais importantes do livro (de M.M. Carrilho), contidas no epilogo em que o autor procede à sua própria “autocritica”.

"É sempre muito adiante, que se sabe o que ficou para trás"

“Essas informações dizem respeito à medida programática que Manuel Maria Carrilho considera ter sido o seu “quinto erro”, por sinal “o mais grave: pequeno, quase imperceptivel para muitos, ele foi na verdade devastador nas suas consequências. Vale a pena reter a descrição pelas suas próprias palavras: “consistiu na declaração categórica de que (...) tudo faria para, na duração de um mandato, aumentar o investimento na reabilitação urbana da cidade, tendo como objectivo inverter os valores das percentagens em construção nova e em reabilitação, que eram respectivamente de cerca de 75 por cento e de 25 por cento”. O deputado explica que, sendo a habitação nova a principal fonte de especulação imobiliária, o lobby da construção civil lhe fez “logo” sentir a sua inquietação. Afirma Carrilho que, ao anúncio deste propósito, se seguiu “uma conversa dos maiorais do sector”, que decidiram – segundo o principio de que a prevenção é o melhor dos remédios – fazer uma guerra total à (sua) candidatura” A candidatura adversária não tardaria, aliás, “a anunciar a construção de mais 5000 novos fogos para os primeiros seis meses de mandato” (...). Manuel Maria Carrilho sugere que este lobby da construção civil terá estado na origem da hostilidade com que se deparou na comunicação social.

É verosimil, mas não será fácil demonstrar tal hipótese. As “conspirações”, por definição, são muito dificeis de provar. Seria um bom tema para o jornalismo investigativo, se existisse e gozasse da necessária autonomia. Este “quinto erro” seria suficiente para justificar o livro. Só não se percebe por que motivo o autor o designa desse modo. Porquê “erro”? Não seria preferivel referir a “causa”, quando estava em jogo um dos aspectos centrais da sua politica municipal que ficou tristemente soterrado sob a dramatização mediática do fait divers?”

Um dos aspectos, compreeensivelmente menos focados no caso do “Arrastão Carrilho”, é o livro ter prefácio escrito por José Saramago, o nosso Prémio Nobel, o que pesa sobremaneira na credibilidade e no entendimento que a obra possa vir a ter junto do grande público – Saramago conclui, citando de memória, assim: “Esta é a história de um homem que jogou e perdeu. Está aqui tudo, os factos detalhados e os nomes”.

e vai mais um:
* Paulo Morais, o ex-Presidente da CM do Porto, afirma peremptóriamente, em livro a ser lançado em 30 de Maio próximo no Café Magestic no Porto, com apresentação de Maria José Morgado: "Há corrupção entre urbanismo e Poder local"

* Vasco Pulido Valente, se é sério, deve uma explicação aos seus leitores, quando aceita emprego para aviltar os autores de "livros ignóbeis", branqueando a essência das mensagens que eles procuram transmitir - sendo impedidos de o fazer, por esbarrarem (helas!) sistemáticamente contra a acção concertada dos profissionais da CS.

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