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segunda-feira, outubro 05, 2009

Amália, a artista do regime

Com que voz foi o fado que inaugurou a grandiosa carreira globalizada de Amália Rodrigues, e um documentário com o mesmo título figura agora entre as obras a exibir no DOCLisboa.

Lendo a introdução à obra não haverá muita esperança que fique esclarecido ser Amália uma obra de inspiração judaica.

Alain Oulman (1929-1990), um judeu nascido no seio de uma família aristocrata, compositor de formação clássica, foi o grande responsável pelos maiores sucessos de Amália. Seria também em 1972 o editor do livro "Portugal Baillonné" do então exilado Mário Soares. Oulman foi apresentado a Amália, em 1962 por Luís de Macedo, um diplomata português colocado em Paris pelo regime fascista.

Com a chegada de Oulman uma bastarda nascida num pátio de bairro popular ali para os lados do elevador do Lavra conheceu então a celebridade; tornou-se sua amante, tal como depois do banqueiro Ricardo Espírito Santo Silva, outro notável que adquiriu por casamento responsabilidades na gestão de fortunas oriundas de judeus. Casado com a judia Mary Pinto de Morais Sarmento Cohen, (descendente da família judia Amzlack que colocou o simpatizante nazi Moisés Amzalak na direcção do jornal “O Século”), Ricardo Espírito Santo foi também presidente da Sacor, o monopólio salazarista do petróleo. Por outro lado, et pour cause, foram os homens fortes do regime de Salazar, o ministro Pedro Teotónio Pereira e António Ferro, que por iniciativa individual abriram a Amália Rodrigues as portas da Europa. E o povo pá?

Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura

Após o verso do comunista Ary dos Santos, de quem também cantou letras, no 25 de Abril Amália Rodrigues andava então pelos 55 anos. Alheia à política não se coadunava com o espírito militante da época e era por isso condenada pelo seu conservadorismo. Amália chegou a cantar a “Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, mas não valorizou esta obra pelo seu carácter político mas apenas pela sua mensagem de tristeza. Depois do 25 de Novembro e a partir da década de 80, tal como os grandes banqueiros privados, Amállia ressuscita de novo como grande figura nacional.
Deus é maneta
diz Saramago
só tem a mão direita
à direita da qual todos se sentam

Abrangente, de Manuel Alegre, o outro emigrante "socialista" de luxo, também a fadista cantou diversos poemas. Alegre por enquanto ainda não atingiu a idade das condecorações, mas, Amália viu ser-lhe atribuída a Legião de Honra francesa pelas mãos do Presidente Mitterand após o processo de entronização conduzido pelo então ministro da Cultura Jack Lang, aliás, mais concretamente por Jack Mathieu Émile Lang também ele oriundo de uma aristocrática familia judaica. Amália receberia ainda o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique assim como a Grã Cruz da Ordem de Santiago da Espada instituída por D. Afonso Henriques quando andava a matar mouros (curioso como Dona Mary Cohen, a esposa do fundador do BES se reclamava como descendente de Afonso Henriques). Por fim, Amália é recebida no Vaticano em audiência privada pelo Papa João Paulo II.

Ricardo Espírito Santo Silva por sua vez foi medalhado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1953), a medalha de Ouro da Legião Portuguesa, alcandorado a Comendador da Ordem de Benemerência, a Oficial de Légion d'Honneur (outro louvor vindo de França) e a Comendador da Estrela da Roménia.
Amália apenas uma fadista com talento? Impossivel.
Graças à benemerência do novo Estado saido da evolução do 25 de Novembro, por um destes dias teremos o panteão nacional a abarrotar de medalhas e mitos até ao óculo que espreita para o céu; a brecha por onde entra a luz. Ou seja, até que, atafulhado, fique escuro de vez e não se enxergue mais nada
.

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