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quarta-feira, abril 23, 2008

a "esquerda", o Sionismo e o espirito censório

Não se pode andar a carpir lágrimas de crocodilo pela má sorte do povo Palestiniano e depois fingir que não se vê a aliança dos extremistas de Israel com o imperialismo financeiro militarizado dos Estados Unidos.

Um pequeno resumo do post anterior foi censurado no Arrastão. Tudo bem, a casa é do militante do Bloco dito “de Esquerda” e só lá entram assuntos e convidados inertes, seleccionados consoante determinados desinteresses. O comentário nem sequer era ofensivo, nem o seu modesto autor tem o mau génio do reputado Ken oVermelho de Londres. Já a Kiki Anahory pode comentar as inanidades próprias do acto de homenagear o “massacre dos judeus” e despedir-se com beijinhos e um estridente shalom. Que estranhas ligações justificam um tal secretismo quando se trata de trazer o melindroso assunto dos judeus à praça mediática? Quem não deve não deveria temer. Em jeito de direito de resposta (a uma pergunta que não foi admitida), aqui vai mais uma achega sobre outro tabu, aguardando-se, no caso de ser falso, o desmentido de quem de direito, especialmente da comunidade judaica sempre tão solicita a reclamar o espaço público para defender os seus interesses.

O Segredo da Rua do Século

Ligações perigosas de um dirigente judeu com a Alemanha Nazi (1935-1939), um livro de António Louçã e Isabelle Paccaud, Edit. Fim de Século

“Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa durante mais de meio século, desde 1927 até à sua morte, Moses Bensabat Amzalak (1892-1978) é uma figura marcante da história da comunidade judaica portuguesa. Amigo, e mais tarde, conselheiro de Salazar, responsável de um dos maiores jornais portugueses, de uma poderosa associação patronal e de um prestigiado instituto universitário, ele é, também, deste ponto de vista, uma personalidade de peso na história politica do país, durante o século XX, especialmente durante os anos da ditadura.” Deu até uma ajuda aos militares na revolução de 28 de Maio, como se poderá ver noutro post um destes dias.
“O embaixador alemão em Lisboa, o Barão Oswald von Hoyningen-Huene pede às autoridades de Berlim, em carta datada de 19 de Fevereiro de 1935, que Moses Bensabat Amzalak seja distinguido, pelo seu trabalho a favor da Alemanha Nazi, com a Cruz de Mérito de Primeira Classe da Cruz Vermelha Alemã. Nesta data, a colossal organização, com mais de um milhão e meio de filiados, encontra-se já completamente sob o controlo do partido nazi e directamente subordinada ao Ministério do Interior do Reich”.
A primeira razão para a condecoração que virá a ser atribuida é o papel politico determinante enquanto proprietário do jornal O Século, um dos mais lidos no país, “que tem influido a favor de uma atitude pró-germanófila nazi”. O número especial, dedicado à Alemanha, de 18 de Fevereiro de 1935, que teve repercussões internacionais, é a prova dessa dedicação e de compromissos que até hoje permanecem na obscuridade. A 8 de Fevereiro de 1937, dois anos depois de ser agraciado, Amzalak confirma a aceitação da medalha, solicitando uma cópia da sua Cruz de Mérito, que lhe é enviada pela legação alemã com as seguintes palavras: “Permita-me que lhe envie em anexo a miniatura, pedindo-lhe que a aceite como recordação da nossa colaboração”

“Em 1939, Moses Amzalak deixa definitivamente O Século. Cerca de 40 anos mais tarde, a publicação do diário será suspensa. Na sua última edição, de 17 de Fevereiro de 1977, são entrevistadas várias pessoas ligadas à história do jornal, entre os quais o dirigente judeu. Evocando aqueles anos, ele não hesita em gabar o carácter independente e profundamente republicano de O Século no período em que esteve à sua frente. Assim, ele recorda que “o jornal, durante o tempo em que foi seu administrador, das nove da manhã até às tantas, nunca esteve subordinado a nenhum grupo, quer político, quer financeiro, e uma das razões do seu êxito foi “manter intransigentemente as tradições republicanas”. Amzalak afirma também ter sido por razões de saúde que, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, teve de deixar O Século, com a morte na alma. Finalmente, e sempre na mesma entrevista, o ainda presidente da Comunidade Israelita de Lisboa considera sobre o período passado à frente de O Século: “os melhores anos da minha vida passei-os lá”.

Esta nostalgia de Amzalak pelos anos 30 só pode surpreender-nos. Desde a chegada de Hitler ao poder, em 1933, as perseguições anti-semitas não cessam de ampliar-se de maneira dramática: boicotes e violências quotidianas, que culminam, em Setembro de 1935, nas Leis de Nuremberga. Às dezenas de milhares, são obrigadas a fugir da Alemanha as pessoas consideradas “não arianas”, em estado de carência e desespero. Em Maio de 1936, um ilustre contemporâneo de Amzalak, o escritor Stefan Zweig, escreve do exílo londrino à sua mulher, Friderike: “Dá vontade de nos meternos pela terra dentro e de não voltarmos a ler um único jornal”. Esta época, descrita por Zweig como “odiosa”, “assustadora”, “insuportável”, é aquela em que o professor Moses Amzalak, à frente de um jornal claramente germanófilo, foi condecorado pelos Nazis. (a biografia traçada e protegida pela guarda mediática judaica na wikipedia é um mimo de omissão)
Zweig, na sua breve passagem por Lisboa, residirá temporariamente na casa do próprio Amzalak, mas obviamente sem lhe ter transmitido a sua repulsa contra o nazismo ou a sua amargura sobre aquela “meia noite do século”. O escritor procurará a morte alguns anos depois, por se sentir impotente perante a barbárie hitleriana, que marca esta época a ferro e fogo. Quanto ao dirigente judeu, 40 anos mais tarde ainda guardará essa mesma época na memória como “os melhores anos da [sua] vida”
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