“Vós graduados da M.P., nunca vos esqueçais disto: o vosso posto na organização impõe-vos uma vida de constante combate, sois a tropa de choque na luta pela perfeição, estais na primeira linha de ataque a todos os defeitos e vícios que degradam os homens e perdem as nações! Nesta guerra só triunfam os fortes; eu quero que sejais fortes, para contagiar aqueles que entrego ao vosso comando e criar neles o mesmo anseio de perfeição! É só para isso, é só para ajudar os outros a serem melhores no corpo e na alma, que recebeis o poder de comandar!"
46 anos e três meses depois, alheio ao debate e livre aceitação de regras consensuais definidas de forma generalizada pelas comunidades escolares “desbufascizadas” (afinal é isso a Educação, não?), um jornal de referência dá guarida a uma carta do leitor Santana-Maia Leonardo (repare-se no hifen: o pedantismo vai acabar com o novo acordo ortográfico) a propósito do episódio do telemóvel, cujo uso nas aulas aliás defende, nos seguintes termos:
(...) “Tenho 1,92 de altura, sou cinturão negro de karaté, castanho de judo e fui 1º classificado do curso de oficiais milicianos. Ou seja, tenho autoridade. Porque a autoridade não é nada mais nada menos do que ter meios para impor, se necessário for, pela força, a ordem na sala de aula. Isto é que é autoridade. É óbvio que uma pessoa de 60 anos, com 1,60m de altura e 50kg de peso também tem o direito de ser professora e de ser respeitada.
Só que os alunos sabem que ela não tem meios para se impor, nem há ninguém na escola que a socorra. Este é que é o problema”
Ou seja, em meia dúzia de linhas o Público dá voz à versão doméstica daquilo que se pratica actualmente na política de direito internacional: o direito do mais forte à liberdade, sem quaisquer hipóteses de defesa para as vítimas, que sabem que não têm ninguém que as socorra. É isto que os adolescentes vêem na televisão e na internet a toda a hora, e este é que é o problema: o fim, não da história, mas da moralidade.
Prisão do Forte de Peniche. Painel evocativo da Repressão; está aqui tudo, a carga policial da GNR sobre "a malta do reviralho", os bufos, as prisões arbitrárias, a tortura. Globalizando, decalcando e reactualizando os métodos, exactamente como actualmente se procede em relação aos prisioneiros que são encarcerados no campo prisional X-Ray na Base Aérea americana em Guantanamo, e em alguns outros locais mantidos em secretismo.
o Parlatório. Núcleo museológico no Forte de Peniche reconstituindo os guichets onde os presos politicos, sem culpa formada nem julgamento, eram autorizados (se tivessem bom comportamento) a falar às familias durante as visitas.
(...) Artigo 309
As conversas terão lugar por forma que o funcionário
que a elas assistir as possa ouvir e compreender."
Decreto-lei - nº 26643 de 28 de Maio de 1936
"Para quê remexer no passado, abrir de novo a ferida?
Para lembrar os mortos e vivos. Para lembrar os
que não vergaram e também os que fraquejaram mas afrontaram de novo. Para soltar com esta voz antiga um grito"
António Borges Coelho, in "Mar Oceano"
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