Primo Levi
Pouco antes de estalar a guerra, Hitler encomendou uma análise da população portuguesa a um casal de antropólogos, Georg e Vera Leisner, que, “vindos da Europa” visitaram o país, fizeram o trabalho de campo e concluiram que metade dos portugueses eram semitas, e grande parte da outra metade bastante mesclada. Conforme vem mencionado nos "Diários de Goebbels", a partir de então o Fuhrer começou a referir-se a Salazar como “esse judeuzinho”; paranóias àparte, na verdade o “nosso semitismo” é em grande maioria de origem árabe, como aliás o são também indiferenciadamente muitos judeus. Por exemplo, o ex-presidente Jorge Sampaio é oriundo de uma familia semita que se refugiou na costa do norte de África fugindo do decreto “Malleus Maleficarum”, um autêntico manual de caça às bruxas, cujos éditos ordenados pela facção católica da Igreja de Roma correram a partir do ano de 1486. Fugiram, educaram-se esmeradamente nos Estados Unidos e voltaram e a ICAR também ainda por cá anda. Não há “raças puras” embora por motivos religiosos se abstinem em auto segregar-se num grupo específico. Como, negócios oblige, nos antigos guetos medievais. Apesar disso, ou por causa disso, uma pequena minoria étnica de fundamentalistas judeus continua a reclamar-se de vítimas em exclusividade de toda a omnipotente violência universal e a reclamar o enviesado direito de erigir monumentos no espaço público que perpetuem mistificações. Esta política é tão velha quanto o falso massacre dos varões no Egipto 1850 anos antes de Cristo - o Faraó ordenou que matassem todos os bebés do sexo masculino, mas o próprio Livro desmente o mito: “embora fosse uma ordem dada a partir de cima, as parteiras, movidas pelo temor do Senhor, preferiram sofrer qualquer castigo a cometer aquele crime” (Êxodo 1.15-22). Porém o mundo ficou em dívida, agravada depois do fim da 2ª grande guerra quando Israel adquiriu o direito de possuir armamento nuclear e subsidios financeiros milionários canalizados através da principal potência vencedora. Do mesmo modo, 300 judeus portugueses mortos durante a guerra, extraditados (?) sem que ninguém conheça os pormenores do evento, engrossam a mística “lista dos 6 milhões de vítimas gaseadas do holocausto”

“o Lixo, a Cidade e a Morte” (Der Müll, die Stadt und der Tod” – 1975)
“Por estranho o que pareça, nem o assassínio de Roma pelo Judeu Rico, nem a Pietá de FranzB ao colo de um travesti Nazi, são cenas blasfemas ou escarnecedoras da visão cristã do mundo, mesmo que tenham uma remota inspiração no cristianismo. Fassbinder evitou qualquer baixa polémica, preferindo criar uma poesia macabra, surrealista e embebida em sangue, reminiscente da cena da ceia em Viridiana, de Luis Buñuel.
O Judeu Rico também ainda não encontrou qualquer alegria na sua existência. Apesar de toda a sua riqueza, começa a perceber que deve haver algo mais, para lá dos valores de que dispõe e aos quais está sujeito. Deixa o mundo dos negócios e desaparece na vida nocturna da cidade, onde conhece o nazi Müller, cujo travestismo exemplifica que nem o nazi consegue viver com os seus próprios valores. As sua roupas femininas conferem aos seus slogans um efeito algo invulgar, quando afirma: “Ser um assassino de judeus não é um fardo, para quem tem as minhas crenças (...) não estamos a morrer e todas as mazelas que nos são infligidas tornam-nos mais fortes e mais livres. O fascismo triunfará”. É tão triste! “aquele que ama perde os seus direitos”, mas como o chefe da Polícia é amigo do Judeu Rico, afirma fleumaticamente: “Porque é que alguém responde quando nenhuma pergunta foi feita? a vontade de um homem é o seu paraíso”.

Seria impossivel retratar adequadamente em palco o nacional-socialismo, se fosse interdito mostrar os nazis a fazerem comentários anti-semitas. Acusar Fassbinder de ter uma visão preconceituosa da personagem do Judeu Rico é ainda mais absurdo, porque ele revela que a identidade de todas as personagens – incluindo o judeu – está oculta por detrás dos preconceitos que os outros têm sobre elas e por detrás dos clichés em que as personagens acreditam em si próprias. O judeu é um cliché, tal como toda a gente na peça, enfrenta problemas insuperáveis, ao tentar fugir ao seu papel para criar uma existência individual”

* Rainer Werner Fassbinder morreu (ou auto-destruiu-se) aos 37 anos em circunstâncias invulgares. Esta última parte do texto foi condensada a partir do livro de Christian Braad Thomsen publicado pela Cinemateca Portuguesa por altura da exibição do ciclo completo de obras do realizador em Fevereiro de 2008
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