A universidade é uma instituição que sucedeu às escolas episcopais (que ainda perduram) – olhem para a pinta de machões destes alunos e professores, são oriundos de boas cepas; em nada que se pareçam com os de agora, quem corre por gosto não cansa, se não fosse por boa não estavam lá. Eles apropriaram-se das sebentas de mestre Aristóteles e foram construindo, lenta mas arduamente, a entidade europeia cristã que depois seria exportada à paulada para todo o mundo. Até ver, muitas descobertas depois, enquanto a filosofia da natureza não destroçe a natureza da teologia – ou seja, a neo-escolástica, técnica de análise de textos religiosos mascarada de Ciência.
Foi Nietzsche quem previu, há mais de 100 anos, depois confirmado pelo padre bruxo distinto médico meta-físico popular de Vilar de Perdizes, que hoje estaríamos nesta situação: “o divórcio tendencialmente completo entre a Sabedoria e a Ciência” – com a preciosa ajuda de muito burro intelectual agravado com canudos viciados. Já a Escola Superior Colonial formava administradores para as colónias. “Tudo pelo Império” era o seu lema. Do que é que estavam à espera? General velho não aprende línguas.
No melhor que estão dão uma lambada no parceiro. Tecnicamente, é uma coisa importada, chamam-lhe “bullying” – uma forma de agressão continuada e sem razão aparente. Parece que, fartos de se xingarem uns aos outros, as novas vítimas são os professores. Estes precisam saber que existem formas educativas alternativas à permissividade e ao laxismo, ao autoritarismo e ao castigo, que, em geral agravam a situação. No Ministério da Educação estaria a resolução de muitas questões que potenciam a indisciplina: turmas mais reduzidas, equipas multidisciplinares, edifícios escolares menos degradados (mas como senhores!? Se as verbas vão prioritariamente para os quartéis) – e que faz o Ministério? Introduz à má fila um sistema de racionalização tecnocrática que transforma os professores em empregados de escritório.
Maria Beatriz Pereira (*), investigadora e autora de vários livros sobre violência escolar e professora na Universidade do Minho cita os números do “Observatório da Segurança em Meio Escolar”; que revelam que no ano escolar de 2006/2007 houve 185 agressões participadas contra docentes em 180 dias do ano lectivo. Em zonas de maior insucesso maior é a incidência do tal de “bullying”, um mal menor. Décadas depois de se conhecer o problema (mais recentemente, em Maio de 2006, passaram imagens violentas na RTP sem que, à semelhança do que agora pretendem fazer, o mensageiro tenha sido levado a tribunal) talvez porque dá jeito às figuras gradas do regime "descobrirem" que há distúrbios organizados por teenagers e gangues organizados nas imediações das escolas. E agravam mediaticamente e de forma previamente estudada o pânico junto dos pais: “há miúdos de 6 anos com pistolas nas escolas!” - A ideia é simples: quem não quiser ver os filhos em balbúrdias puxe pela bolsa e meta-os em colégios privados, que pagam impostos em vez de subsumir verbas do orçamento do Estado.
“É legitimo questionar quais, para lá do discurso politico, as verdadeiras razões da reorganização em curso:
Um modelo importado
Na realidade, o modelo adoptado tem muito pouco de original. Ele obedece ao processo de convergência e normalização na Europa, o qual, iniciado com “Bolonha”, se vem reflectindo na redefinição da filosofia do ensino superior encarado agora mais como um serviço prestado a clientes do que como um direito universal dos cidadãos”
Maria Eduarda Gonçalves, Professora do ISCTE,
in “Le Monde Diplomatique” edição portuguesa Abril 2008. Ler mais, sobre o mesmo problema em França, da autoria dePierre Jourde:
“A Universidade Feudal do Futuro”
(* texto apoiado no dossier sobre Educação do Jornal de Letras que foca duas questões: 1. que causas estão na origem da indisciplina; 2. como enfrentar em concreto o problema no terreno)
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