Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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domingo, abril 20, 2008
Os Zés-Ninguém
Tradução livre do poema de Eduardo Galeano (Los Nadies)
Sonham as pulgas comprar um cão
e sonham os zés-ninguém deixar de ser pobres
Que algum dia mágico lhes traga a boa sorte,
que chova a cântaros a boa sorte
Porém a boa sorte não choveu ontem,
nem choverá hoje, nem amanhã, nem nunca
Nem a chuvinha cai do céu, nem a boa sorte,
por muito que os zés- ninguém a chamem
Ainda que lhe acenem com a mão esquerda,
ou se levantem com o pé direito,
Ou comecem o ano mudando de escova de dentes
Os zés-ninguém; os filhos de ninguém, os donos de nada
Os zés-ninguém: os nenhuns, os não nomeados,
correndo como lebres, morrendo na vida
Fodidos e refodidos
Aqueles que não são, ainda que sejam
Que não falam idiomas, apenas dialectos
Que não professam religiões, apenas superstições
Que não fazem arte, só artesanato
Que não fazem cultura, só frequentam folclore
Que não são seres humanos, apenas recursos humanos
Que não têm cara, só têm braços
Que não têm nome, apenas um número
Que não figuram na história universal,
só na crónica vermelha da imprensa local
Os zés-ninguém que custam menos que a bala que os mata
.
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