Helena Garrido, no “Jornal de Negócios” (where else?) descobriu que não há crise: “A palavra crise não nos deixa desde o início do século XXI” (é verdade, desde o golpe da tanga do Barroso). “Hoje, ainda sem estarmos em crise, já nos desesperamos com a crise que vem aí, do outro lado do Atlântico”; Claro, a aldrabice consiste, por omissão, em fazer passar a mensagem que a crise dos “subprimes” norte americanos já não alastrou a todo o sistema financeiro mundial. Sé em Espanha prevê-se que fechem 42 mil empresas ligadas ao sector da construção e do imobiliário. Camilo Lourenço resume melhor a situação em que vivemos: “O dr. Oliveira Salazar, do fundo da sua tumba, deve estar a rir às gargalhadas. Quase 40 anos depois da sua morte, o país continua a pensar dentro do quadro mental que nos deixou. Apesar do 25 de Abril. Apesar da União Europeia. Apesar da abertura de fronteiras”
Entre a desilusão de um 25 de Abril que não mais regressará numa manhã de nevoeiro, e um ditador competente, o Zé não hesitou, não hesita, nem hesitará na escolha e no apoio incondicional a um caudilho que cínicamente ostente cara-de-boa-pessoa. Compreenda-se a nossa história recente, dando atenção ao que dela se diz visto lá “de fora”.
Este artigo do New York Times dá-nos uma perspectiva do significado do “voto no Botas para o maior português de sempre” quando dá voz a Idalina da Conceição, uma velhota de 75 anos, que vê o Portugal depois da queda do ditador da cadeira deste modo: “Se o Salazar era mau, a gente que dirige hoje o país consegue ser ainda pior” – naquele tempo (na evolução do fascismo na continuidade,1964-1974) o país conheceu até um boom económico por via da guerra, quando se combatiam “terroristas” (a que os populares, cuja iliteracia à época rondava os 70%, chamavam em tom convivial de “turras”) que lutavam nas colónias pela ideia de independência nacional. Quase todos os que se safaram vieram a ser figuras proeminentes nos novos paises. Encerrado esse capítulo, sempre nos fará espécie porque não foi desmantelada de imediato a desmesurada e insustentável máquina militarista utilizada no combate contra a independência das colónias, antes a tropa saíu reforçada depois do 25 de Novembro de 1975. Parar a guerra seria parar o negócio e isso significaria o desemprego da improdutiva clientela fardada. Rei morto rei posto, se não há inimigo inventa-se - hoje as Forças Armadas, postas às ordens de interesses privados estrangeiros, combatem novamente “terroristas”, desta vez os “turras” internacionais, em guerras da Nato (ou nem tanto) pagas pelo orçamento de Estado, contra militantes pela liberdade anti-imperialista e anti-capitalista por esse mundo fora, onde se luta pela emancipação dos povos. Amanhã, esses que hoje são vítimas da repressão, serão novamente figuras importantes na nova ordem que inexoravelmente ultrapassará esta época de mentiras, manipulações e agressões “democráticas”. Na mesma reportagem do NYT, outro português, Miguel Arriaga, um puto de 17 anos que estuda engenharia, diz que votou duas vezes em Salazar no tal concurso, porque o Portugal de hoje é “despido de valores e propósitos” (apesar de a iliteracia se ter resolvido; hoje 70% já lêem os jornais de Futebol e as legendas das Televisões) – abre bem os olhos Miguel: as intenções e os propósitos estão aí, bem à vista de quem os quiser ver
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