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quinta-feira, setembro 30, 2010

Norman Finkelstein em Lisboa

Conferência ontem dia 29, sob a égide da secção portuguesa do Tribunal Russell on Palestine no auditório do Liceu Camões. Sala com metade dos lugares vazios, ninguém do PCP, normalmente tão sensível a esta problemática. Pontos focados por Norman Finkelstein:

Israel é uma potência criminosa que desrespeita o direito internacional e permanece impune graças aos vetos dos EUA a todas as resoluções de condenação da “comunidade internacional” sob a égide da ONU. Assim aconteceu na agressão ao Líbano em 1982 e de novo em 2006 com o ataque ao Hezbollah, em finais de 2008 com a invasão de Gaza e o lançamento de bombas de fósforo branco sobre a população, o assassínio por agentes secretos israelitas de dirigentes palestinianos no Dubai e ainda recentemente com o ataque ao navio de ajuda humanitária Mavi Marmara com comandos armados e lançados de helicóptero a meio da noite matando civis.

Em todos estes casos Israel reclama o direito à sua defesa para fazer a guerra. Mas é um facto que é impróprio chamar-lhe “guerra”, quando não existe inimigo convencional armado, mas apenas populações e milícias civis. Apesar da barbárie, este contudo não é o principal problema, mas sim que Israel não tem, perante o direito internacional qualquer fundamento para proceder ao cerco de Gaza nem o direito de boicotar a sobrevivência de 1 milhão e meio de Palestinianos.
Todas estas operações de agressão têm resultado em derrotas para Israel. Em 2006 no Líbano os militantes do Partido de Deus (Hezbollah) ocultaram-se e quando terminaram os actos de destruição sob o intenso clamor de condenação internacional, o povo saiu dos abrigos e juntos escorraçaram a tropa israelita. O objectivo de destruír a oposição à causa sionista não foi conseguido. Diz Finkelstein que se o Hezbollah não tivesse vencido Israel, a República Islâmica do Irão, com afinidades étnicas com o xiismo, teria intervido ampliando a guerra a toda a região.
Embora Finkelstein tivesse tratado a monstruosidade pelo nome, chora lágrimas de crocodilo sobre as negras perspectivas que se antevêm num futuro próximo. O conferencista lá terá as suas fontes: o Hezbollah será de novo atacado no Líbano (1) e desta vez não será possível evitar a intervenção do Irão – uma desgraça, tanto mais grave quanto terá de se lidar com a famigerada ameaça das “armas nucleares. Fica o aviso. Acaba aqui o diagnóstico dos efeitos do conflito, sem atender às causas profundas do Sionismo às quais se disse nada.

Dizemos nós. No Líbano em 2006, (ou onde quer que seja proximamente), quem de facto perde são os contribuintes da União Europeia, que por alinhamento politico dos seus governos com Israel tem de suportar os custos do envio de tropas “de conciliação”, incluindo um destacamento português, para colaborar na reconstrução e patrulhamento, nesse caso, de uma zona conquistada a sul do rio Litani que permite a Israel roubar esse importante fluxo de água. Por essa altura foi feito prisioneiro o soldado sionista Gilad Shalit o qual continua algures em cativeiro, devido à recusa da sua troca pela libertação de centenas de prisioneiros Palestinianos, incluindo dezenas de mulheres e crianças. Para que não existam dúvidas sobre quem patrocina quem, um enorme retrato de Shalit foi colocado sobre a fachada da Câmara Municipal de Roma (a Itália é um dos principais doadores de soldados para a NATO, pelo que se compreende a solidariedade (1), nomeando Shalit cidadão honorário da cidade, uma espécie de herói da liberdade.

Como nos concertos musicais, no culminar do show off, fazem-se sempre as apresentações dos artistas presentes, no caso no palco que convidou Norman Finkelstein - José Manuel Pureza líder parlamentar do BE na qualidade de membro do Centro de Estudos Sociais da Univ. de Coimbra; Mário Ruivo pela Fundação Mário Soares; Ana Benavente e um raminho de flores para enfeitar a mesa e Alan Stoleroff como moderador pelo TRP – no início do período de debate o primeiro circunstante na assistência a quem é dada a palavra é ao candidato presidencial Fernando Nobre: “Eu estive lá em 1982 e voltei a estar em 2006 e vi bem a destruição…”. (3) Está na altura de sair. No conjunto o evento é uma manobra de diversão que institucionaliza o “fare niente contra o terrorismo do Estado de Israel. O american radical Norman Finkelstein (4), uma desilusão, foi usado na qualidade de “judeu bom”. Fica à imaginação de cada um quem teria pago a deslocação do conferencista e com que propósito.

(1) A fonte das previsões será Michel Hayek, um vidente que todos os 31 de Dezembro aparece na televisão libanesa com as previsões para o ano seguinte?? Hayek, o "Nostradamus libanês" na última passagem de ano previu mais um ataque ao Líbano para 2010 (vídeo)
(2) Uma vez que Israel não conseguiu o mandato da ONU para desarmar o Hezbollah o primeiro ministro Olmert falou ao telefone com o então 1ºministro Romano Prodi e pediu a Itália para tomar a liderança da “força internacional de paz”. A Itália ofereceu-se de imediato para enviar 3.000 soldados, enquanto a França, que tinha ajudado a quebrar o cessar-fogo, reminiscências da partilha da Palestina entre a Grã-Bretanha no final da 1ª GGuerra e ainda a principal fornecedora de armas às facções que apoia, se recusou a enviar mais que 200 soldados (fonte: NYT)
(3) Para uma análise séria do que foi o processo destrutivo perpretado por Israel no Líbano em 2006, ler o livro de Noam Chomski "Inside Lebanon"
(4) False Flag Opposition. Foi feito recentemente um documentário sobre a vida de Norman Finkelstein, intitulado "American Radical"
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quarta-feira, setembro 29, 2010

a mudança que vem

O paradigma Esquerda-Direita acabou. Agora é cada um por si (nem sequer as multidões pontuais de Negri) contra as Corporações, quer sejam multinacionais industriais/comerciais/financeiras, quer sejam jurídico/políticas, sendo certo que são as primeiras que controlam e sustentam as segundas.

Durante muito tempo a Politica foi definida pela dinâmica de grupos Esquerda-Direita, isto é, da constelação de Liberais contra Conservadores servida sob os mais variados modos. A terceira força, o Marxismo foi excluída da hipótese de participação, mas para espanto de muitos mantém-se plena de actualidade, propondo uma economia politica centralizada e planificada contra um crescimento anómalo, especulativo, selvagem e criminoso.
Na solução maniqueísta que se tem perpetuado, assim temos tido: mais investimento vs corte de despesas, movimentos pacifistas vs empreiteiros da guerra, protecção ambiental vs crescimento económico, casamentos gay vs valores da família, livre escolha de escolas pagas vs ensino obrigatório público, regulamentação fiscal vs mercado livre; sindicatos amarelos vs sindicalismo subsidiado pelo Estado, etc.

Na nova dinâmica porém as coisas mudaram. Vivemos numa era de implementação das Corporações monopolistas que espalham influência e impõem autoridade sobre os Indivíduos. O modelo não é propriamente novo, vem sendo forjado durante décadas e tem como referência o contrato Estados Unidos-China dos anos 70 inaugurado por Nixon, cujo exemplo prático é o modelo Wal-Mart de outsourcing (1), de contratação laboral precária e finalmente da transformação das empresas corporativas multinacionais em centrais de compras financeiras, beneficiando da ausência de paridade da moeda mundial (o dólar) face a qualquer valor concreto (p/e o ouro). Não é por mero acaso que a maior corporação saída da crise (a Goldman Sachs) ostentava na sua sede em New York a bandeira da Republica Popular da China (que entretanto ascendeu a 2ª potência global) em conjunto com a dos EUA. No final da actual convulsão prevalecerá uma espécie de social democracia assistencialista global, pela cópia do modelo politico chinês, de economia centralizada para os sectores primários e controlo rigoroso dos cidadãos transformados em meros consumidores dentro das fronteiras nacionais. Neo-trotskismo para o capital, nacionalismo-rectro para o factor trabalho.

Os dois grupos de interesses do bloco central que falsamente se têm oposto durante décadas, reforçam a sua ascendência com a encenação do colapso financeiro e as subsquentes ajudas (bailouts pela emissão de mais dinheiro) às Corporações; nada mais que uma super-concentração capitalista que visa concentrar igualmente o abudo do poder, face à ilusão de democracia – o Individuo foi suplantado no processo politico pelo dinheiro das Corporações e sua influência legislativa, pelas contribuições pseudo-colectivas para campanhas eleitorais (onde os donativos de pessoas são irrisórios face aos milhões doados pelas Corporações) e por fim, pelo impedimento do direito ao livre discurso face ao monopólio dos media pertencentes às Corporações que usurpam o espaço público.

No debate entre Indivíduos e Corporações, obviamente o factor humanidade perde, considerando que:
- A maior parte da regulamentação que os governos publicam sobre os sectores primários, Energia e Banca, é escrita pelas Corporações (vide p/e os 3,1 milhões de euros recebidos a ano passado pelo gestor da empresa pública EDP e ex-ministro António Mexia)
- A maior influência nos processos eleitorais para escolher os agentes legislativos é a dos lobies corporativos e não a dos votos em Partidos que operam a nível nacional mas são completamente ultrapassados pelas directivas emanadas do exterior
- O direito dos Indivíduos a recorrer à Justiça tem vindo a ser atacado e limitado o seu acesso face aos batalhões de advogados com aprovisionamentos milionários que prestam serviço às Corporações, cujos “direitos” obtêm asssim primazia.
- Os direitos de Patentes sobre recursos naturais têm vindo a ser usurpados, sendo as invenções tecnológicas de direito colectivo regra geral roubadas pelas Corporações.

- Os Tribunais asseguram que as Corporações exerçam a “liberdade de expressão” tal como se uma companhia multinacional ou uma rede bancária internacional fosse uma pessoa individual com direitos humanos, que seria a ideia original na defesa das pessoas e não de acção concertada de grupos contra elas. (daí que o discurso seja monopolizado por banqueiros, pelo patronato e seus funcionários políticos nos telejornais).

Apesar destas evidências, o cidadão comum continua aprisionado no debate Esquerda-Direita (nos EUA entre democratas e republicanos) e perde o essencial de uma visão alargada da problemática que opõe as Corporações Multinacionais aos Indivíduos avulso sem organização colectiva. A usurpação do discurso público pelos agentes corporativos impõe o efeito de determinada linguagem na formação de uma concepção do mundo, usando técnicas manipulativas apropriadas que propiciam inclusive a metódica aprendizagem de erros e crenças inadmissíveis como se fossem teorias cintíficas (a impossiblidade Liberal). A grande maioria não reconhece o actual paradigma, porém segundo Thomas S. Kuhn (2) as vanguardas intelectuais em estrita ligação à população “devem examinar o modo pelo qual as bases experimentais de uma nova teoria são acumuladas e assimiladas por homens fiéis a uma teoria incompatível mais antiga universalmente reconhecida”, mas que “durante um certo período colocam problemas para os quais não existem ainda soluções-modelo” – as Comunidades devem rejeitar uma teoria “científica” errada em favor de uma outra que só aparentemente é incompatível com a antiga, caso contrário o actual modelo de crescimento anómalo, segundo critérios estritos de obtenção de lucro, precipitar-nos-á a todos para um abismo sem regresso possível.
(continua)

(1) ver video: "a Wal-Mart e a guerra contra os Trabalhadores"
(2) Thomas Samuel Kuhn "A Estrutura das Revoluções Cientificas"
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terça-feira, setembro 28, 2010

Músicas do Mundo

O primeiro video é um remix de velhas (de 200 anos) músicas Judaicas originárias da parte eslava da Europa de Leste com evidentes conotações russas. O segundo vídeo é uma interpretação de músicas Ciganas da Europa de Leste. Descubra as diferenças…














Ambas etnias semitas, Ciganos e Judeus oriundos da grande família das tribos turco-árabes que se interpenetravam com os Arianos da península do Indústão (Índia), sempre conviveram pacificamente, até que algures na História, chegou a esta zona da Europa a grande vaga de refugiados resultante das invasões das tribos asiáticas que destruiram a vida no Cáucaso (o antigo reino dos Khazares mencionado por Arthur Koestler em The Thirteenth Tribe (1976) onde se descrevem as origens do judaísmo moderno).
Estes novos migrantes viriam a auto-designar-se como “Asquenazes” (o que em dialecto yidish significa “Alemães”), os quais dariam origem à designação de “brancos caucasianos” que até há muito pouco tempo vigorou como classificação étnica nos bilhetes de identidade norte americanos (por oposição aos “coloured” como Martin Luther King e/ou “hispânicos” e “asiáticos” sobre os quais a discriminação económico-racial continua a abater-se). Judeus e Ciganos separam-se aqui, uns ficaram ricos e mediáticos, os outros ficaram pobres e invisíveis…





A criação da expressão “anti-semita” é recente, nada tem a ver com a anterior história, tendo sido o termo cunhado na Alemanha em 1879 por Wilhelm Marrih para dar um “ar científico” ao estigma originado pelos brancos caucasianos que se abateu sobre os judeus em geral, incluindo o racismo latente dos “asquenazes” sobre os judeus de origem sefardita, árabes considerados sub-humanos de terceira categoria.

Em véspera de conferência em Lisboa de Norman Finkelstein, ilustre autor da “Indústria do holocausto”, seria sem dúvida útil recordar que a “dissolução da Judiaria na Europa de Leste” (segundo a encomenda feita a Raul Hilberg (1961) é um assunto envolvido por uma mitologia tornada extremamente complexa pelos judeus revisionistas da diáspora norte americana. Temos também de concordar com a estupefacção daqueles que se interrogam por o grande êxito mundial de vendas A Invenção do Povo Judeu do académico Shlomo Sand (2006) ainda não ter sido traduzido para português

segunda-feira, setembro 27, 2010

Cavaco, o grau zero eleitoral

Já (quase) toda a gente percebeu que a quezília sobre o orçamento é uma encenação e que o “relatório da OCDE” vindo “lá de fora”, com uma "legitimidade" que nenhum governante cá dentro actualmente possui, foi uma encomenda (1) que lhes permitirá inscrever novas medidas de austeridade sobre os insigne-ficantes deste país. Tudo limpo e feito sob a égide do mais alto magistrado da nação de há quatro anos a esta parte.

De facto os promitentes eleitores de Cavaco são mais estúpidos que aquilo que aparentam – são estupidamente espertos, porque pensam delegar a sua representação em alguém mandatado para preferir angariar “lá fora” o produto que os sustente (2), em vez de equacionarem uma solução auto sustentada num trabalho socialmente de acordo com os nossos recursos (e face à escassez destes, os nossos principais recursos são as pessoas… que desde que o “economista” Cavaco se entronizou não têm tido outro destino senão a expulsão para se assalariarem no estrangeiro).

É para não desiludir os seus eleitores que Cavaco se cala por trás da cínica pose de “chefe-de-estado”, ou pouco mais que tartamudeia (embora já não o faça de boca cheia, por caridosa acção preventiva dos seus inefáveis assessores de imagem). Uma imagem de homem-do-povo-que-subiu-na-vida-lá-fora, que apela constantemente ao estúpido colectivo. De facto, a copiar pelos exemplos que vamos vendo, há muita gente a investir “lá-fora” (3) para que Cavaco seja re-eleito.

O papel de Deus na gestão da seita

Tinha ele 26 anos, “a graça de Deus e o bom humor” aqui na vizinha Espanha, dois anos depois do golpe que instaurou o Estado Novo, quando Josemaria Escrivá de Balaguer recebeu “a iluminação sobre toda a Obra",,

, enquanto lia “uns papéis que tinha usado momentos antes”, e não se enganou nem teve dúvidas quanto à origem da ideia: “Comovido, ajoelhei-me – estava sózinho no meu quarto com a virgem Maria no pensamento…” Nesse dia, o Senhor fundou a sua Obra, suscitou a Opus Dei”. O seu objectivo, desde o primeiro momento, era contribuir para “que haja homens e mulheres de todas as raças e condições sociais que procurem amar e servir a Deus e aos outros homens no seu trabalho habitual e através dele. A Obra cresceu, adubada pelo compadrio alternativo da Maçonaria (anda Manuel, vai-te a eles), conta hoje com milhares de membros e tem passado incólume pelas acusações de secretismo, abuso de poder e graves manipulações sobre gente mentalmente incapacitada.

relacionado
(1) Cavaco tinha sugerido que nos dedicássemos ao mar (à pesca, pensou ele) e, muito convenientemente, a OCDE deu-lhe razão, (uma parte) d`o país deve ser imediatamente congelado
(2) Preços do pão, do leite e da carne vão aumentar ainda mais
(3) Negócios da china; para onde vai o dinheiro que não existe? - 138 militares partem amanhã para o Afeganistão
(4) Desta vez Sócrates não precisou de falar... (SicNoticias)
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domingo, setembro 26, 2010

Mentiras e Democracia

O que é que eu disse de errado? Os atentados de 11 de Setembro levaram à morte de milhares de pessoas e à invasão de dois paises. A minha posição é um serviço ao contribuinte norte americano, cujas taxas estão a financiar o homicídio de cidadãos” (Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irão, um país com cerca de 66 milhões de habitantes, em declarações à CNN sobre o seu discurso na ONU”.

Nem se percebe lá muito bem porque é que, apanhando este tipo em New York não agarram nele, acusam-no de ter ligações à Al-Qaeda e enfiam com ele em Guantânamo, a tal base-campo de concentração que era para ter acabado mas ainda não acabou. Se pensarmos melhor (1), afinal percebe-se: Ahmadinejad com a sua central de energia representa “o perigo nuclear”. Equacionando-o com o arqui-inimigo, se como admitiu Benjamin Netanyahu, (o chefe de um país de pouco mais que 5 milhões de habitantes) o 11 de Setembro foi muito bom para Israel”, um 11 de Setembro nuclear seria ainda melhor – logo, há que preservar a ameaça e até provocá-la. (2)

(1) A recente crise entre as cúpulas militares do Pentágono ficou a dever-se aos emails enviados pelo general David Petraeus, então comandante do Centcom, a Max Boot onde relatava a opinião de importantes lideres árabes que lhe diziam que “a incapacidade dos Estados Unidos para forçar Israel a pôr fim à politica dos colonatos, estava a minar e a enfraquecer a posição dos EUA no Médio Oriente e até a espalhar ainda mais os sentimentos anti-americanos na região”. Petraeus finalmente, com Netanyahu de visita a Washington, incluiu a observação: “O endurecimento das hostilidades entre Israel e alguns dos paises vizinhos apresenta desafios concretos à nossa capacidade de avançar com os nossos interesses no Médio Oriente
(2) America’s Loose Nukes in Israel, artigo de Grant F. Smith, director do Institute for Research: Middle Eastern Policy (IRMEP) e autor do livro “O Comércio dos Espiões: Como o Lobie de Israel subverte a Economia Americana

(3) David LaChapelle – “Deluge” (2006), uma espécie de capela sistina onde se criticam os excessos e o consumo que levaram à decadência ocidental.
(4) ver também, "a mitologia dos Judeus de descendência persa no actual Irão"
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sábado, setembro 25, 2010

Já pegou o seu pretinho ao colo hoje?

No virar para o século XXI, os três indivíduos mais ricos do mundo (todos eles norte americanos) tinham uma fortuna combinada maior do que a dos 48 países mais pobres (1). Esquecendo-se disso, porque finge não saber e a situação de acumulação pelos mais ricos ampliou-se de forma fantástica (2), disse Obama no final da Cimeira do Milénio que: “subsidiar é criar dependências, não é isso que pretendemos” (!) – de facto o que se pretende é regular a Pobreza como fonte de oportunidades de negócio; é para esconder esta bricolagem que a direita se farta de tecer loas ao banqueiro dos pobres, Muhammad Yunus, que empresta quantias irrisórias aos pobres para lhes fomentar o consumo, a alma vendida ao capitalismo global (3). Não há artista que não se esfalfe atrás da propaganda à lá angelina jolie (4), madonna ou lula da silva, que em quase uma década de mandato pôs 23 milhões da inesgotável pleiade de pobres brasileiros a consumir um pequeno almoço por dia. (5). Quanto aos ricos, sabemos igualmente por que é que se metem nisto, (6) as “dávidas” de Fundações são isentas de impostos e escondem outras actividades, aquelas que são enormemente mais lucrativas para os “beneméritos”.

Quanto ao papel das “Ongs” que embarcam espalhafatosamente de urgência atrás de cada acto de destruição capitalista, estamos também conversados: por cada dólar ou euro de ajuda, contas finais feitas, chegam aos destinatários 20 cêntimos. O resto, ou seja 80 por cento é para pagar facturas às empresas fornecedoras da ajuda, despesas de transporte e salários aos cooperantes. Como diz a Zézinha, é preciso “o reconhecimento universal de que o combate contra a pobreza é o combate pela paz”. Foi mesmo pela paz que já vimos o candidato Fernando Nobre a almoçar no restaurante Eleven, o mais caro da cidade.

notas:
(1) Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, publicado em 9 de Setembro de 1998. Os três eram, Bill Gates da Microsoft, Helen Walton da WalMart (e ex-empregadora de Hillary Clinton) e Warren Buffett, investidor em fundos de dividas soberanas, com 51 mil milhões, 48 mil milhões e 33 mil milhões de dólares respectivamente. O relatório calculava que uma criança nascida nos Estados Unidos, Inglaterra ou França, irá, durante a sua vida, consumir e poluir mais do que 50 crianças numa das nações mais pobres. Também calculava em 1998 que eram precisos apenas 40 mil milhões de dólares para levar saúde básica, educação, água limpa e esgotos para os mais pobres cidadãos do mundo. Gates sózinho podia pagar a conta e ainda ficaria com 11 mil milhões de dólares; Esta mediática personagem, sózinha, também possui mais do que o total dos 100 milhões de norte-americanos mais pobres. Outras fontes indicam que dentro dos Estados Unidos a proporção entre o salário de um administrador delegado e de um operário cresceu de 39/1 na década de 1970 para 1.000/1 no ano 2000.

(2) The Collapse of Globalism, John Ralston Saul, 2004 e The Inconscious Civilization(gravura: Malangatana)

(3) Em 2006 os rendimentos dos 500 individuos mais ricos (Segundo a Forbes) equivaliam ao rendimento de 415 milhões de pobres. Segundo o World Wealth Report, em 2007, ou seja, antes do rebentamento da bolha especulativa, havia 94.970 indivíduos multimilionários com activos financeiros superiores a 30 milhões de dólares. A lista nesse ano bateu o recorde ao incluir 946 individuos. Entraram mais 178 nomes, 19 dos quais russos, 14 indianos, 13 chineses e 10 espanhóis, estes últimos numa das regiões PIIG mais aflitas face ao endividamento externo.
(4) Usar os direitos humanos para vender a guerra. Angeline Jolie (na foto) recebe instruções no Conselho de Relações Externas (CFR) antes de partir em "missão humanitária" para o Afeganistão.
(5) Ao contrário do que se possa pensar não é a América Latina, com 8,9%, que alberga um dos maiores números de pobres. A África sub-sahariana detém 44% da pobreza mundial, o Sul e Sueste da Ásia 45,2%, o Sudoeste asiático e Oceânia 7,3%, a Federação Russa 2,5%, o Norte de África 2,4% e os paises do Leste europeu 1,8% (fonte: The Millenium Development Goals Report 2006)
(6) No total, em 2006, 11 por cento dos milionários doaram 7 por cento da sua riqueza a causas humanitárias
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sexta-feira, setembro 24, 2010

o Império financeiro

perceber o que não querem que saibamos sobre a "crise da dívida"

legendado em português

quinta-feira, setembro 23, 2010

il Capo, ou o longo mandato de um gangster num país da Europa

O fotógrafo Alberto Roveri descobriu no seu arquivo uma foto de Silvio Berlusconi armado, nos anos 70, "quando ainda era apenas um empresário e tinha medo de ser sequestrado pela Máfia" (segundo L`espresso). Outra redacção que expresse o contrário também é adequada: "Berlusconi, um capo da Máfia anda armado com medo de ser lixado por algum empresário"

Indissociável da imagem pública de qualquer gangster são as miúdas giras e boas como o milho, a quem, inspirados na matriz norte americana chamam carinhosamente de “Legs”. Neste particular Berlusconi não tem deixado os seus créditos por mãos alheias (na foto, Camila Ferranti, uma das musas do harém situado na villa La Certosa na Sardenha, uma das muitas que se prostituem pela ambição de virem a entrar no canal de televisão Mediaset ou outros órgãos mediáticos propriedade do 1ª ministro – Il Cavaliere, a face visível da troupe de palhaços-ricos que, incrivelmente, há mais tempo governa na Europa, não foi parar à Sardenha pela mera passagem pela espuma do espectáculo; há uma evolução natural..

clique no cartoon para ampliar
Sardenha.Nato, a Europa de que não se fala (Entrevista de Ana Barradas à activista italiana Cladinè Curreli. Setembro de 2006).

“Conhecida como destino de férias desde que o príncipe AgaKhan comprou nos anos 50 uma extensa faixa do litoral e a transformou numa fieira de urbanizações turísticas, a Sardenha tem uma outra face menos conhecida – um enorme complexo de bases militares da NATO e polígonos de tiro do exército italiano.
São muitas as bases na Sardenha?
- A concentração de bases e polígonos de tiro na Sardenha (Santo Stefano, Decimomannu, Salto di Quirra, Capo Teulada, Capo Frasca) ultrapassa tudo o que se conhece noutras regiões. Cerca de três quartos do território da ilha estão submetidos a reserva militar.
Que consequências?
- O meio ambiente está afectado, em alguns casos de forma irreversível. Surgiu um deserto onde até aos anos 50 havia bosques, espécies raras foram extintas, a pesca tronou-se impossível na costa leste. O mar, na região de Teulada foi recentemente declarado “irrecuperável” devido à acumulação no fundo de projécteis e mísseis. Numa coincidência mais que suspeita, o Estado italiano tem vindo a criar parques naturais e reservas marinhas nas zonas envolventes das bases, deslocando à força as populações.
E a vida das pessoas?
- Há quem diga que as bases são boas porque dão trabalho e fazem girar a economia da ilha. Mas qual economia? A Sardenha está reduzida a turismo, refinarias e bases militares. É uma das regiões mais pobres da Europa. O lucro vai para o Ministério da Defesa italiano, que cobra 60 a 80 milhões diários pelo aluguer de polígonos de tiro (muitas vezes a comerciantes de armas estrangeiros). Os habitantes dessas zonas estão submetidos ao sequestro e ao bombardeamento contínuo da costa. A única saída que resta aos jovens é continuar a emigrar para Itália, cada vez em maior número.

Que se passa nessas bases?
- Apesar do segredo militar sabe-se que nelas são realizadas experiências de armas tóxicas e radioactivas, como as de urânio empobrecido. É o caso da base de La Maddalena, criada por tratado secreto assinado por Nixon e Andreotti nos anos 70, que nunca foi ratificado pelo parlamento italiano.
A energia nuclear foi proibida na Itália por referendo, mas os submarinos com reactores nucleares sulcam aqui as águas do Mediterrâneo. Nos últimos anos foi oficialmente reconhecida a sua presença. Investigações independentes registaram uma concentração anormal de plutónio e elementos radioactivos em torno das bases de La Maddalena, S. Stéfano e Teulada.
Há prejuízos para a saúde da população?
- A inalação de partículas infinitesimais causadas pela explosão de munições com urânio empobrecido ou ingeridas através da cadeia alimentar está a provocar mutações genéticas, cancros e linfomas. No polígono de lançamento de mísseis de Salto di Quirra, o maior da Europa com os seus 7.200 hectares de terreno expropriado e 500 km2 de mar transformado em reserva militar, são feitas experiências e demostrações promocionais dessas armas a clientes estrangeiros. Uma investigação levada a cabo pelo comité sardo “Gettiamo le Basi” (Fora com as Bases) na zona de Quirra assinala: seis militares mortos depois de ter prestado serviço na base, onze casos de leucemia registados em dez anos entre os 150 habitantes de Quirra, 11 bebés nascidos com malformações em Escalaplano nos anos 80, ainda em Escalaplano catorze casos de tumor da tiróide, mais cinco militares internados em diversos hospitais… Chama-lhes “os números do medo”. O “sindroma de Quirra” é já mencionado em estudos científicos”
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varreram a crise pra debaixo do tapete

A notícia chegou inopinadamente: o National Bureau of Economics Research (uma coisa a que estão ligados os economistas do "Compromisso Portugal") mandaram determinar o fim da actual Grande Recessão (a maior em 80 anos) e logo desde Julho de 2009. Ninguém reparou em tal felicidade, mas o “Público” ilustra a “boa nova” com a imagem de um saldo de carpetes para o lar com 70% de desconto.

No campo político do centro capitalista não há o mais pequeno indício que sustente a tese da “retoma”. Pelo contrário, as análises mais esclarecidas apontam para um agravamento da crise. Se assim não fosse, a popularidade de Obama estaria em alta. Mas é o contrário aquilo que se verifica. Onde está euforia vintecincoabrilesca do principio de Obama? foi-se prás urtigas. Em Julho do ano passado as sondagens indicavam 51 por cento de aprovação ao modo como o presidente está a desempenhar o cargo na área da Economia, um ano depois essa percentagem desce para menos de 44 por cento (38% entre os não filiados em qualquer dos dois partidos-únicos).
58 por cento pensam agora, perto das eleições de meio-termo de mandato, que faz falta um terceiro partido nos EUA. E quem foram os Media desencantar para suprir a insuficiência?... uma coisa que dá pelo nome de “Tea Party”, vagamente inspirado na revolta contra os impostos desmedidos sobre as importações de chá no tempo em que os colonos norte americanos estavam debaixo da alçada do reino de Inglaterra. Uma chávena de chá com a tromba do Elefante a sair para fora (o símbolo Republicano dos ex-Bush/Cheney/McCain foi a imagem encontrada para se lançar a ideia na capa da Time), mas agora liderados numa 3ª via por essa coisa inenarrável que dá pelo nome de Sarah Palin (1) (mais uma agente Sionista) à frente de um grupo de alucinados que chutam slogans tão estúpidos como “Parem de instituir os Estados Socialistas da América”, “Precisamos de um Czar que nos diga a Verdade”, “Temos a Constituição debaixo de ataque”, até ao inevitável “isto não é um assunto de Direita ou Esquerda”. Pois não, é pior.

(1) da próxima vez que considerarem instalar na Casa Branca um pirata intervencionista de bons modos discursivos, os do Tea Party deverão considerar a hipótese de eleger Lady Gagá, a todos os títulos considerada melhor politica que Barack Obama; Vantagens, citando textualmente a dita Lady Gagá: "ser hermafrodita, ter dois orgãos (tipo o nosso PSouPSD) enriquece muito as minhas relações"
adenda
Por toutatis e por Palin com o seu gancho no cabelo apanhado no alto do cocuruto,,, um novo contributo para a emancipação da politica está a causar polémica nos EUA - o novo penteado da nº2 de Obama, Hillary Clinton. Com sondagens de aprovação ou reprovação e tudo... (deitar uma vista de olhos)
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quarta-feira, setembro 22, 2010

as contas do Estado vistas na perspectiva das classes sociais

o orçamento para sustentar a oligarquia "democrática" e respectivas clientelas não pára de subir... enquanto as verbas aplicadas na gestão dos serviços sociais são cada vez menores

enquanto isso, o maduro do ex-ministro Medina Carreira anda por aí a dizer que "não temos feito nada para reduzir a despesa". Note-se bem: "não temos"... A finalidade da bisca do doutor é passar a mensagem de que "é preciso reduzir os salários" (como o FMI manda), quando se sabe que a massa salarial do país em relação ao valor do PIB é de apenas 12,5 por cento (15 por cento incluindo os descontos para a segurança social). Remédio para a crise? e que tal se os doutores cortassem na faustosa verba que lhes vem andando a caber por estes últimos muitos e longos anos? (isto é, se de facto é preciso pagar por dívidas contraídas na obtenção de bens privados mal-adquiridos com que esses senhores vêm enriquecendo)

óbvio: enquanto as pessoas comuns não se insurgirem, continuarão a ser aplicadas as mesmas políticas
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terça-feira, setembro 21, 2010

testemunhas do missil que atingiu o Pentágono no dia 11 de Setembro de 2001

84 - é o número de câmaras video que foram confiscadas - 84

13 testemunhas contradizem totalmente a versão oficial dos acontecimentos. Por isso o que nos contam sobre o ataque ao Pentágono é uma mentira, nunca aconteceu desta forma. Tudo indica que uma aeronave sobrevoou o local e nesse exacto momento aconteceu uma explosão. Deveria ser parecida com a colisão de um Boeing. Atrás da nuvem da explosão, o avião desapareceu (ler o resto traduzido e em detalhe)



Administração Bush. Conquências directas da acções posteriores dirigidas por esse mesmo Pentágono. Omar Khadr tem hoje 24 anos. O "terrorista" caçado no Afeganistão em 27 de Julho de 2002 passou mais de um terço da sua vida sob custódia dos EUA em Guantanamo. Uma entre muitas das histórias de jovens contadas em "The Guantanamo Files" (As Histórias de 774 Detidos na Prisão Ilegal norte-Americana)

Admistração Obama. "A ameaça islâmica" e a respectiva "guerra contra-terrorista" reactualizou-se nos últimos dias com uma onda mundial de advertências contra "ataques terroristas"

segunda-feira, setembro 20, 2010

E Agora?

"Uma Nova República", segundo a visão da tropa do burguês Kerenski

"Precisamos de mudar de vida, de estimular e de afinar o nosso sentido histórico, lamentável e paradoxalmente cada vez mais perdido desde que aderimos à Europa. Temos análises e sugestões poderosas para o fazer nos trabalhos de Vitorino Magalhães Godinho, Eduardo Lourenço, Boaventura Sousa Santos, José Gil, entre outros. Eles ajudam a ligar o que tem andado desligado, deslaçado: o nosso passado e o futuro que ambicionamos. Só assim se conseguirá responder às três chagas do país: a descredibilização dos partidos políticos, a desvitalização da nossa democracia e a desqualificação do país, os outros três "dês" que, ironicamente, se instalaram por trás do desígnio de 1974. (1)

São muitas as ideias que podem ajudar a dar forma a este desígnio: a adopção da moção de censura construtiva, que dê maior estabilidade aos Governos aumentando a responsa- bilidade do parlamento. A revisão da lei eleitoral, no sentido de contratualizar de um modo mais preciso e responsável a ligação dos eleitores com os eleitos e de acabar com privilégios dos partidos. A adopção do voto obrigatório, compreendendo que o voto é a outra face dos impostos que todos pagamos e o mais forte sinal do que, colectivamente, queremos que se faça com eles. A antecipação, aí opcional, do voto para os 16 anos. A reconfiguração do mapa autárquico e do modelo de gestão municipal...

... A criação de um mandato único do Presidente da República (de seis ou sete anos), de modo a libertar o exercício presidencial dos inevitáveis calculismos de um segundo mandato. O reforço da independência dos reguladores, nomeadamente da comunicação social, bem como a clarificação das missões de serviço público neste domínio. O estímulo de uma cultura de diálogo entre as forças políticas, no sentido de tornar mais naturais as formas de convivialidade democrática e as possibilidades (ou necessidades) de coligação que governabili- dade do país exige. A institucionalização de um verdadeiro Conselho de Ministros para a Qualificação, que assegure a permanente coordenação dos vários ministérios neste domínio decisivo. A criação de uma Universidade de referência em termos internacionais. A definição de um desígnio estratégico na política do mar, que ligue o nosso passado ao potencial de desenvolvimento que se encontra dos Oceanos. A inscrição constitucional da obrigatoriedade do equilíbrio orçamental, em nome dos direitos das gerações futuras. A valorização do trabalho, limitando os feriados ao essencial. O reforço do papel de Portugal na lusofonia, e a aposta numa projecção do país no mundo mais estruturada, contínua e eficaz. A criação de um Fórum Europa, de alto nível, em Lisboa, para discussão regular das políticas europeias, potenciando o facto de o nome de Lisboa ter vindo a ficar, com a "estratégia" e com o "tratado", muito associado à União Europeia.


onde está o gato? - "criar um país de projecto"


"Estas são algumas ideias que, entre muitas outras que se podiam avançar, mostram como é possível - se quisermos - colocar Portugal na senda da construção de um projecto colectivo (2). E isso é, neste momento, o mais importante - deixarmos de ser o país onde nada parece possível, que resiste à mudança e à prestação de contas, que desconfia do risco e da inovação, para nos tornarmos num país de projecto. Como recentemente dizia Eduardo Lourenço, em entrevista ao jornal Público (05/04/2010), precisamos de «um projecto de âmbito nacional, não subordinado aos proveitos de ordem quase privada da classe política», um projecto que possa repor «a representação simbólica de Portugal à altura de nossa própria História. Quer na ordem interna, quer na ordem externa. Numa época que resiste aos voluntarismos e já não se ilude com vanguardismos de espécie alguma, chegou a hora do desassombro: estamos num momento em que se vai decidir o nosso destino por muitas décadas. E ou a humildade, o trabalho, a competência, o diálogo e a criatividade se impõem, ou nada nos poupará ao declínio, como povo e como nação"

(Extractos do prefácio do novo livro de Manuel Maria Carrilho, em que o embaixador de Portugal na UNESCO defende várias ideias para resolver os problemas estruturais do País). Apesar do tom genérico e conciliatório sobre uma pretensa unidade de classes que de facto não existe ("o bom povo português"), Manuel Maria Carrilho acaba de ser "informado", tal como o público em geral, pela agência noticiosa Lusa que o seu mandato na Unesco não será renovado. Pela própria escrita do ex-embaixador: "Face à profunda crise em que o mundo vive, crise que é inédita, sistémica e global, será que alguém espera as respostas da UNESCO? Que alguém aguarda as suas propostas? Que alguém se inspira na sua visão?" ("sinceramente, nem sei o que é que andei por lá a fazer, desde que a direcção do P"S" me chutou para cima daquilo")

* (1) A entrevista de MMC ao Expresso
* (2) Construir um país? Antes do mais há que pedir responsabilidades à classe dominante que colocou o país na presente situação. Não será vergonhoso e juridicamente passivel de julgamento e condenação (3) que a soberania de Portugal tenha caído sob a alçada de leilões de especuladores de dívidas internacionais?
* (3) por exemplo: Armando Vara, ex-gestor do BCP cujo saneamento custa muitos milhões ao Estado, e personagem que é arguida no processo "Face Oculta", como uma espécie de recompensa, foi nomeado presidente da administração de uma multinacional que detêm 32,6% da Cimpor (fonte)
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"Pensa mal das pessoas, não te enganarás" (Cesare Pavese, 1908-1950)

1. No processo por fraudes cometidas em 2001 Dias Loureiro, (que anda a banhos com um investimento num resort nos Trópicos) o Ministério Público pediu mais um ano de segredo de justiça "porque até hoje não conseguiu localizar o seu amigo libanês Abdul El-Assir (Sábado, pag. 20). Convenhamos que será dificil encontrar o rasto de uma pessoa no meio do gang de Marbella com a qual um conselheiro do Estado português se envolveu. Mas se o MP pretende efectivamente caçar o homem, que tente a Polónia...
2. Submarinos. Vão gerar 0,6% do défice orçamental, apesar do processo judicial por corrupção gerado pela sua compra se ter iniciado em 2005, a investigação e presumível julgamento ainda estão longe. Em Agosto passado a procuradora Auristela Pereira alegou falta de confiança da parte do PGR Pinto Monteiro e demitiu-se" (Sábado, pag. 62). Para além disso ainda há o aumento do endividamento provocado por este negócio ruinoso...
3. Foi preciso ter-se descoberto um desfalque na Freeport PLC em Inglaterra (que lesou investimentos da Casa Real no projecto em Portugal no principio da década de 2000), para que a PJ abrisse um inquérito-crime em 2005. Esse processo só chega ao DCIAP em 2008. Em 2010 o ministro que assinou o despacho que legalizou ilegalmente a construção do centro comercial numa área ambiental protegida, foi ilibado (das ligações ao esquema de corrupção). (Changes in Question)
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domingo, setembro 19, 2010

90 dias sem Saramago

na literária despedida de Harold Bloom, este esqueceu-se de evocar a obra maior do nosso Nobel: "o Memorial do Convento" (1)
Autor de "O Cânone Ocidental" (1994) , em 2003 no seu livro "Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds", Bloom "named the late Portuguese writer and Nobel Prize winner José Saramago as "the most gifted novelist alive in the world today", and as "one of the last titans of an expiring literary genre" (wikipédia). Concluindo em entrevista no elogio fúnebre: "Um talento que lembrava Shakespeare..."

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(Time Magazine, 5 de Julho)

(1) ..."Como foi, digam-no outros que mais saibam. Seiscentos homens agarrados desesperadamente aos doze calabres que tinham sido fixados na traseira da plataforma, seiscentos homens que sentiam, com o tempo e o esforço, ir-se-lhes embora aos poucos a tesura dos músculos, seiscentos homens que eram seiscentos medos de ser, agora sim, ontem aquilo foi uma brincadeira de rapazes, e a história de Manuel Milho uma fantasia, que é realmente um homem quando só for a força que tiver, quando mais não for que o medo de que lhe não chegue essa força para reter o monstro se implacavelmente o arrasta, e tudo por causa de uma pedra que não precisaria ser tão grande, com três ou dez mais pequenas se faria do mesmo modo a varanda, apenas não teríamos o orgulho de poder dizer a sua majestade, É só uma pedra, e aos visitantes, antes de passarem à outra sala, É uma pedra só, por via destas e outros tolos orgulhos é que se vai disseminando o ludíbrio geral, com suas formas nacionais e particulares, como esta de afirmar nos compêndios e histórias, Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz. (...) Dormiram ainda outra noite no caminho. Entre Pêro Pinheiro e Mafra gastaram oito dias completos. Quando entraram no terreiro, foi como se tivessem chegado de uma guerra perdida, sujos, esfarrapados, sem riquezas. Toda a gente se admirava com o tamanho desmedido da pedra, Tão grande. Mas Baltazar murmurou, olhando a basílica, Tão pequena"

relacionado
João Teixeira Lopes: "o Ódio. A recusa da actual maioria da Câmara do Porto em atribuir o nome de uma rua a Saramago é da mais elementar cegueira"
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sábado, setembro 18, 2010

visita do Papa atrai peregrinos (poucos) e protestos (muitos)...

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Aproveitamento da mitologia judeo-cristã na construção do Poder. Este é o momento simbólico em que o fedelho é adquirido para a consciência, como um reflexo ao espelho da sua própria imagem, a qual permanecerá intocável em si, de cada um como único ao colo da sua Mãe; imagem que é dada a reproduzir magicamente e reconhecida, fora de si, nos Outros. É um Evento de Autoridade, imposto pela linguagem, pela arte, pelo sistema de pensamento, pela lei, enfim, pela sociedade. O Diptico de Wilton (1395) representa o bébé que haveria de ser coroado como Rei Ricardo II apresentando o reino à Virgem; à esquerda do acto está a bandeira de São Jorge empunhada por um Anjo. Quando São Jorge venceu o Dragão, isto é, quando a Inglaterra conquistou a supremacia dos mares, essa mesma bandeira haveria de ser implantada no alto do castelo de São Jorge em Lisboa

manifestantes anti-Papa usando asas de anjo, ontem em Londres,
contra as explosões não negociáveis de declarações "cristãs"

Winchester Psalter (Século XII). Grã-Bretanha. Pelo senso comum do "spirit of Britain" cedo se tinha começado a caricaturar as esotéricas lendas importadas por pagãos, charlatões diversos que peroravam pelas feiras medievais; particularmente visados e ridicularizados foram os Judeus que relatavam as mitológicas tretas fundadoras do "cristianismo"

sexta-feira, setembro 17, 2010

MRPP comemora 40 anos

Just in case, agradece-se a presença amanhã Sábado dia 18
aos que quiserem comparecer a este piedoso acto

As revoluções, como os vulcões, têm os seus dias de chamas e os seus anos de fumaça” (Victor Hugo 1802-1885)

Após o desmantelamento da ideia de democratização iniciada em Abril de 1974, poucos anos depois, já com Mário Soares de papo cheio de funções em ministérios, a conversa era a mesma – “a gravíssima crise que punha em causa a Nação… o problema da dívida que por “nossa” honra tinha de ser paga”, embora a maioria do povo, a viver em condições pouco menos que miseráveis, não tivesse sido ouvido nem achado sobre o endividamento, a falta de produtividade assente numa indústria inexistente, ou o parasitismo das classes possidentes em fuga a quem se pretendia restituir bens que haviam sido nacionalizados. Por esta altura, o então secretário-geral Arnaldo de Matos explicou qual era o caminho a seguir: (Esta conversa é um embuste)… “analisemos então o problema da dívida pública na perspectiva dos comunistas marxistas-leninistas, na perspectiva do proletariado consciente e do povo trabalhador. A dívida pública externa do Estado português não é, nem de perto nem de longe, o principal problema do nosso povo. O problema fundamental do povo trabalhador é derrubar o capitalismo e edificar o socialismo. Tudo o resto é música”

Arnaldo de Matos, a este propósito e a solicitação do jornal Expresso escreveu o artigo O Repúdio da Dívida que foi publicado no semanário “Expresso” com cortes censórios no dia 7 de Abril de 1982, que seria republicado na íntegra no jornal Luta Popular, órgão central de informação do MRPP, do qual se transcreve, pela sua inegável actualidade, algumas passagens:

“A dívida pública foi assim catapultada não apenas à categoria de signo sob o qual deveria realizar-se o sufrágio do próximo dia 25, mas, pior ainda do que isso, à categoria de chantagem sobre o cidadão eleitor: o eleitor só poderá escolher com o seu voto os deputados que apresentarem a “melhor” proposta para o pagamento da dívida… O que é mais curioso é que esta manobra chantagista, digna dos melhores gangsters dos velhos tempos de Chicago, é imposta ao cidadão eleitor em nome da verdade. “É preciso falar verdade ao povo português” (…)

“Ter-se-á uma ideia mais concreta do endividamento externo do país, se dissermos que cada trabalhador português, ao valor do salário mínimo da indústria, terá de trabalhar vinte e oito meses seguidos, sem comer nem beber, para pagar o calote do Estado a Washington, Bona, Londres, Paris e alguns outros. Sucede que a dívida do Estado não é apenas a dívida externa, medida da exploração do nosso povo e do nosso país pelo imperialismo estrangeiro e seus lacaios locais. A dívida é também a dívida interna, que em termos globais ultrapassa o dobro do valor da dívida externa. Para pagar aos exploradores estrangeiros e aos lacaios nacionais a dívida total do Estado, o povo português teria de trabalhar continuamente durante oito anos, sem receber um só tostão de salário
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