Desde sempre as vítimas acidentais das guerras não fazem parte dos esculpidos enredos principais da História. Graças porém ao enorme refluxo de saber e compreensão das massas para a pequena tribo de informadores oficiais, a crua percepção dos crimes vem-se tornando cada vez bem mais visível e inquietante.
Um destino anónimo estaria decerto também reservado à pequena Gulmakay, de 14 anos de idade, atingida a semana passada por um disparo de morteiro norte- americano na localidade de Marjah, Afeganistão. Ferida mortalmente, a criança foi levada para se tentar socorrê-la, mas nada havia a fazer. Os familiares, que levam a cama de casa porque o hospital não as tem, recolheram o corpo e depositaram-no em câmara ardente à porta. (ver vídeo - mas por uma questão de higiene façam skip da promoção publicitária do automóvel de luxo)
Perante a ameaça do potencial bélico destes perigosos (e andrajosos) inimigos (a al-Qaeda, pois claro) e do fausto com que sacodem o nosso bem-estar, vem a propósito o episódio de Ghandi quando visitou Londres e viu os seus bairros miseráveis na década de 30; perguntado sobre o que pensava da civilização ocidental respondeu: “acho que seria uma boa ideia”
Averiguando se a invasão/ocupação do Afeganistão provocou ou não um movimento de libertação nacional, no sentido clássico da expressão
Depois da retirada das tropas soviéticas em 1989 permaneceu no terreno uma luta entre facções tribais. A 27 de Setembro de 1996 os Talibans entram em Cabul alimentados por fortes apoios do ISI (os serviços secretos) paquistaneses. Quem eram estes novos senhores?
Quase em simultâneo instala-se no país o hóspede Osama bin-Laden e a agenda da al-Qaeda, muito diferente da agenda dos Talibans. Em 11 de Setembro de 2001 é posto em marcha o Projecto neoconservador para um Novo Século Americano (PNAC na sigla em inglês). Impressionante, nesse mesmo dia as televisões de um modo geral culpam todas imediatamente a Al-Qaeda. Em Outubro os EUA começam os ataques aéreos, surgem os primeiros testemunhos da matança de civis, famílias inteiras, etc; e começa a oposição armada ao invasor. Os senhores da guerra criados desde então não são melhores que os Talibans (lembremo-nos sempre disso)
Como os Estados Unidos criaram a Al-Qaeda
Passou a ser dado como certo que a administração Carter promoveu os Talibans utilizando-os para o combate contra os Soviéticos (Operação Cyclone) e que o seu secretário de Estado Zbigniew Brzezinski se deslocou na época ao terreno para supervisar a utilização dos fundos prometendo liberdade e independência aos combatentes. "Deus estará do vosso lado", disse. Mas ao contrário da percepção corrente destes dados, os Estados Unidos já trabalhavam na criação e ajudavam o movimento ainda antes da entrada das tropas russas no Afeganistão. Foi a criação e ascendência dos Guerreiros de deus Talibans que provocou a invasão da URSS e o subsquente descalabro politico-militar soviético …
Esta inversão de dados – foram os Talibans-Al-Qaeda quem provocou a invasão soviética, e não o contrário - faz toda a diferença para se compreender a actualidade: a formidável máquina militar instalada precisa de um inimigo para funcionar. A Al-Qaeda não existe. Precisa de ser fabricada para...
... continuar a aparecer no jornais como factor de indução de medo. (a foto é do Guardian da semana passada). E a Al-Qaeda continuará a precisar de ir sendo reinventada, tanto mais que Zbigniew Kazimierz Brzezinski (um natural da Polónia que funciona como falso-polo "democrata" antagónico ao judeu "republicano" Henry Kissinger), autor de "Le Grand Chessboard", é agora conselheiro de Barack Obama para a geo-estratégia do Império
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