O paradigma Esquerda-Direita acabou. Agora é cada um por si (nem sequer as multidões pontuais de Negri) contra as Corporações, quer sejam multinacionais industriais/comerciais/financeiras, quer sejam jurídico/políticas, sendo certo que são as primeiras que controlam e sustentam as segundas.
Durante muito tempo a Politica foi definida pela dinâmica de grupos Esquerda-Direita, isto é, da constelação de Liberais contra Conservadores servida sob os mais variados modos. A terceira força, o Marxismo foi excluída da hipótese de participação, mas para espanto de muitos mantém-se plena de actualidade, propondo uma economia politica centralizada e planificada contra um crescimento anómalo, especulativo, selvagem e criminoso.
Na solução maniqueísta que se tem perpetuado, assim temos tido: mais investimento vs corte de despesas, movimentos pacifistas vs empreiteiros da guerra, protecção ambiental vs crescimento económico, casamentos gay vs valores da família, livre escolha de escolas pagas vs ensino obrigatório público, regulamentação fiscal vs mercado livre; sindicatos amarelos vs sindicalismo subsidiado pelo Estado, etc.
Na nova dinâmica porém as coisas mudaram. Vivemos numa era de implementação das Corporações monopolistas que espalham influência e impõem autoridade sobre os Indivíduos. O modelo não é propriamente novo, vem sendo forjado durante décadas e tem como referência o contrato Estados Unidos-China dos anos 70 inaugurado por Nixon, cujo exemplo prático é o modelo Wal-Mart de outsourcing (1), de contratação laboral precária e finalmente da transformação das empresas corporativas multinacionais em centrais de compras financeiras, beneficiando da ausência de paridade da moeda mundial (o dólar) face a qualquer valor concreto (p/e o ouro). Não é por mero acaso que a maior corporação saída da crise (a Goldman Sachs) ostentava na sua sede em New York a bandeira da Republica Popular da China (que entretanto ascendeu a 2ª potência global) em conjunto com a dos EUA. No final da actual convulsão prevalecerá uma espécie de social democracia assistencialista global, pela cópia do modelo politico chinês, de economia centralizada para os sectores primários e controlo rigoroso dos cidadãos transformados em meros consumidores dentro das fronteiras nacionais. Neo-trotskismo para o capital, nacionalismo-rectro para o factor trabalho.
Os dois grupos de interesses do bloco central que falsamente se têm oposto durante décadas, reforçam a sua ascendência com a encenação do colapso financeiro e as subsquentes ajudas (bailouts pela emissão de mais dinheiro) às Corporações; nada mais que uma super-concentração capitalista que visa concentrar igualmente o abudo do poder, face à ilusão de democracia – o Individuo foi suplantado no processo politico pelo dinheiro das Corporações e sua influência legislativa, pelas contribuições pseudo-colectivas para campanhas eleitorais (onde os donativos de pessoas são irrisórios face aos milhões doados pelas Corporações) e por fim, pelo impedimento do direito ao livre discurso face ao monopólio dos media pertencentes às Corporações que usurpam o espaço público.
No debate entre Indivíduos e Corporações, obviamente o factor humanidade perde, considerando que:
- A maior parte da regulamentação que os governos publicam sobre os sectores primários, Energia e Banca, é escrita pelas Corporações (vide p/e os 3,1 milhões de euros recebidos a ano passado pelo gestor da empresa pública EDP e ex-ministro António Mexia)
- A maior influência nos processos eleitorais para escolher os agentes legislativos é a dos lobies corporativos e não a dos votos em Partidos que operam a nível nacional mas são completamente ultrapassados pelas directivas emanadas do exterior
- O direito dos Indivíduos a recorrer à Justiça tem vindo a ser atacado e limitado o seu acesso face aos batalhões de advogados com aprovisionamentos milionários que prestam serviço às Corporações, cujos “direitos” obtêm asssim primazia.
- Os direitos de Patentes sobre recursos naturais têm vindo a ser usurpados, sendo as invenções tecnológicas de direito colectivo regra geral roubadas pelas Corporações.
- Os Tribunais asseguram que as Corporações exerçam a “liberdade de expressão” tal como se uma companhia multinacional ou uma rede bancária internacional fosse uma pessoa individual com direitos humanos, que seria a ideia original na defesa das pessoas e não de acção concertada de grupos contra elas. (daí que o discurso seja monopolizado por banqueiros, pelo patronato e seus funcionários políticos nos telejornais).
Apesar destas evidências, o cidadão comum continua aprisionado no debate Esquerda-Direita (nos EUA entre democratas e republicanos) e perde o essencial de uma visão alargada da problemática que opõe as Corporações Multinacionais aos Indivíduos avulso sem organização colectiva. A usurpação do discurso público pelos agentes corporativos impõe o efeito de determinada linguagem na formação de uma concepção do mundo, usando técnicas manipulativas apropriadas que propiciam inclusive a metódica aprendizagem de erros e crenças inadmissíveis como se fossem teorias cintíficas (a impossiblidade Liberal). A grande maioria não reconhece o actual paradigma, porém segundo Thomas S. Kuhn (2) as vanguardas intelectuais em estrita ligação à população “devem examinar o modo pelo qual as bases experimentais de uma nova teoria são acumuladas e assimiladas por homens fiéis a uma teoria incompatível mais antiga universalmente reconhecida”, mas que “durante um certo período colocam problemas para os quais não existem ainda soluções-modelo” – as Comunidades devem rejeitar uma teoria “científica” errada em favor de uma outra que só aparentemente é incompatível com a antiga, caso contrário o actual modelo de crescimento anómalo, segundo critérios estritos de obtenção de lucro, precipitar-nos-á a todos para um abismo sem regresso possível.
(continua)
(1) ver video: "a Wal-Mart e a guerra contra os Trabalhadores"
(2) Thomas Samuel Kuhn "A Estrutura das Revoluções Cientificas"
.
1 comentário:
Foda-se!Faça-se a Revolução e toca a foder os banksters!!!
Enviar um comentário