No virar para o século XXI, os três indivíduos mais ricos do mundo (todos eles norte americanos) tinham uma fortuna combinada maior do que a dos 48 países mais pobres (1). Esquecendo-se disso, porque finge não saber e a situação de acumulação pelos mais ricos ampliou-se de forma fantástica (2), disse Obama no final da Cimeira do Milénio que: “subsidiar é criar dependências, não é isso que pretendemos” (!) – de facto o que se pretende é regular a Pobreza como fonte de oportunidades de negócio; é para esconder esta bricolagem que a direita se farta de tecer loas ao banqueiro dos pobres, Muhammad Yunus, que empresta quantias irrisórias aos pobres para lhes fomentar o consumo, a alma vendida ao capitalismo global (3). Não há artista que não se esfalfe atrás da propaganda à lá angelina jolie (4), madonna ou lula da silva, que em quase uma década de mandato pôs 23 milhões da inesgotável pleiade de pobres brasileiros a consumir um pequeno almoço por dia. (5). Quanto aos ricos, sabemos igualmente por que é que se metem nisto, (6) as “dávidas” de Fundações são isentas de impostos e escondem outras actividades, aquelas que são enormemente mais lucrativas para os “beneméritos”.
Quanto ao papel das “Ongs” que embarcam espalhafatosamente de urgência atrás de cada acto de destruição capitalista, estamos também conversados: por cada dólar ou euro de ajuda, contas finais feitas, chegam aos destinatários 20 cêntimos. O resto, ou seja 80 por cento é para pagar facturas às empresas fornecedoras da ajuda, despesas de transporte e salários aos cooperantes. Como diz a Zézinha, é preciso “o reconhecimento universal de que o combate contra a pobreza é o combate pela paz”. Foi mesmo pela paz que já vimos o candidato Fernando Nobre a almoçar no restaurante Eleven, o mais caro da cidade.
notas:
(1) Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, publicado em 9 de Setembro de 1998. Os três eram, Bill Gates da Microsoft, Helen Walton da WalMart (e ex-empregadora de Hillary Clinton) e Warren Buffett, investidor em fundos de dividas soberanas, com 51 mil milhões, 48 mil milhões e 33 mil milhões de dólares respectivamente. O relatório calculava que uma criança nascida nos Estados Unidos, Inglaterra ou França, irá, durante a sua vida, consumir e poluir mais do que 50 crianças numa das nações mais pobres. Também calculava em 1998 que eram precisos apenas 40 mil milhões de dólares para levar saúde básica, educação, água limpa e esgotos para os mais pobres cidadãos do mundo. Gates sózinho podia pagar a conta e ainda ficaria com 11 mil milhões de dólares; Esta mediática personagem, sózinha, também possui mais do que o total dos 100 milhões de norte-americanos mais pobres. Outras fontes indicam que dentro dos Estados Unidos a proporção entre o salário de um administrador delegado e de um operário cresceu de 39/1 na década de 1970 para 1.000/1 no ano 2000.
(2) “The Collapse of Globalism”, John Ralston Saul, 2004 e “The Inconscious Civilization” (gravura: Malangatana)
(3) Em 2006 os rendimentos dos 500 individuos mais ricos (Segundo a Forbes) equivaliam ao rendimento de 415 milhões de pobres. Segundo o World Wealth Report, em 2007, ou seja, antes do rebentamento da bolha especulativa, havia 94.970 indivíduos multimilionários com activos financeiros superiores a 30 milhões de dólares. A lista nesse ano bateu o recorde ao incluir 946 individuos. Entraram mais 178 nomes, 19 dos quais russos, 14 indianos, 13 chineses e 10 espanhóis, estes últimos numa das regiões PIIG mais aflitas face ao endividamento externo.
(4) Usar os direitos humanos para vender a guerra. Angeline Jolie (na foto) recebe instruções no Conselho de Relações Externas (CFR) antes de partir em "missão humanitária" para o Afeganistão.
(5) Ao contrário do que se possa pensar não é a América Latina, com 8,9%, que alberga um dos maiores números de pobres. A África sub-sahariana detém 44% da pobreza mundial, o Sul e Sueste da Ásia 45,2%, o Sudoeste asiático e Oceânia 7,3%, a Federação Russa 2,5%, o Norte de África 2,4% e os paises do Leste europeu 1,8% (fonte: The Millenium Development Goals Report 2006)
(6) No total, em 2006, 11 por cento dos milionários doaram 7 por cento da sua riqueza a causas humanitárias
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1 comentário:
Os países desenvolvidos promovem a fome e a miséria nos países subdesenvolvidos, mandando para lá umas migalhas de farinha, através de uma ONG qualquer, que servem para manter aquela gente esfomeada numa situação de vivos-mortos, sem trabalho e sem futuro, e a terem bebés com fartura, os quais bebés darão origem a uma intervenção da UNICEF, desta vez com umas migalhas de leite em pó! Assim se fabricam os tão desejados operários-a-meio-tostão que os empresários adoram poder contratar quando fazem auto-estradas ou aeroportos.
O velho ditado que aconselha a dar canas de pesca aos pobres, em vez de dar peixes, é sistematicamente esquecido. É tudo uma grande hipocrisia.
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