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quarta-feira, julho 30, 2008

o Maestro

“a hipótese politicamente incorrecta do Bloco Central pode ser a mais adequada às dificuldades que o país atravessa”
Jornal de Negócios

com violinos e fagotes se quedam os tolos enganadotes. Miguel Graça Moura (Público, 14/Julho) faz a sua declaração de interesses: “apesar de não pertencer a nenhum partido” afirma que já colaborou com todos os partidos institucionais, do PS ao PSD passando pelo PCP (na divulgação de música erudita na Festa do Avante) isto é, os partidos são todos clientes e encarados como uma fonte de receitas (exactamente o mesmo acontece com as empresas de construção civil; e então Graça Moura sugere: “um governo que integre o PS e o PSD corresponderia aos anseios de 75 a 80 por cento dos portugueses e a uma formidável legitimidade governativa” (e então? por que é que não experimentam concorrer coligados?). Mas no entanto no final do artigo MGM declara que “é óbvio que o PS e o PSD devem concorrer às eleições legislativas sózinhos”. Porquê o embuste?

“o que toca a todos deve ser aprovado por todos”
Edward I, rei de Inglaterra (1239-1307)
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terça-feira, julho 29, 2008

o Soares marxista

Desde que o Tim-Tim assumiu a presidência, Mário Soares transfigurou-se no Rom-Rom, uma obra de arte do desenho animado. Retórica e anti-retórica, não há que ter dúvidas entre o que é de “direita” e o que é de “esquerda”. Neste cantinho do sonho europeu é fácil de ver qual das duas faces do mesmo governo nos conduziram às políticas de desigualdade, insustentabilidade e injustiça social.

o capitalismo financeiro, especulativo e dito de casino, do século XXI, e o descalabro a que está a conduzir o Ocidente, suscitam uma nova reflexão sobre a obra de Marx
Mário Soares, no DN, 23/Julho/2008

Referindo-se à “revolução cultural Obama”, Soares “acha que estamos perante um daqueles momentos da história em que a América (presume-se que estivesse a pensar na do Norte) se pode voltar a erguer a favor do Bem” (Teresa de Sousa, Público 23/Julho) “como aconteceu com a eleição de Roosevelt quando o mundo vivia os dias negros que se sucederam à crise de 1929 para lançar o New Deal e liderar o combate contra o Fascismo”.

Como na crise que conduziu à grande confrontação entre potências na IIGrande Guerra, o fascismo está instalado nos governos; Onde mais poderia estar? – Soares não reflectiu o suficiente, como quando Deng Xiao Ping em 1987 assumiu o comando na modernização da China optando por confrontar o capitalismo no seu campo com as suas próprias armas.

Deng, decidiu-se por expurgar de cena o radicalismo esquerdista do Bando dos Quatro – ou seja, como os tempos e os lugares mudam, Soares deveria ter estudado a dialéctica marxista depois do up-grade filosófico maoista – no actual contexto deveria ter sugerido o saneamento de Bush, Hillary, Obama e McCaino bando dos 4 conluiados na persecução da tenebrosa ditadura dos bilionários da nova ordem mundial – estes são, sem dúvida, os co-autores da revolução cultural de que o pobre Soares fala. (pobre no sentido em que os milhões dos gloriosos anos mencionados no “caso Mateus” já não fluem como outrora)
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domingo, julho 27, 2008

para quê ,e a quem serve a guerra?

Como cristão, Bush deveria saber que não devia ter invadido o Iraque; o velho testamento oferece numerosos exemplos dos ódios perpétuos entre as tribos. Claro que Bush sabia, e a intenção declarada para criar desordem em redor dos invasores enquanto as tropas se resguardam nas ilhas-quartéis, foi provocar a guerra entre sunitas e xiitas, uma etnia que “entra” pelo Irão adentro. Dá jeito, e decerto está a ser objecto de aturado estudo.

Depois de Freud e de Lacan (entre outros) a nossa visão do ser humano não ficou igual..."no seminário do ano de 1964, Lacan fez da transferência um dos quatro conceitos fundamentais da psicanálise, ao lado do inconsciente, da repetição e da pulsão. Definiu-a como a encenação, através da experiência analítica, da realidade do inconsciente. Esta perspectiva levou-o a ligar a experiência à pulsão."
(E. Roudinesco e M. Plon,"Dicionário da Psicanálise", Ed. Inquérito, 2000, p. 755).

Agora que Obama (e com ele as boas intenções dadas a emocionar meio mundo) já foram a Bagdad e voltaram, (e no intermezzo pediu mais tropas à Europa) quais são as novidades acrescentadas para compreensão do problema? Para que é que serviu, serve e servirá a invasão e a guerra do Iraque?

Para deitar mão ao petróleo? para proteger o dólar? Para mudar de regime?
Provavelmente para todas estas coisas - quando se vai para a guerra, a América chama-lhe Negócios, mas é preciso não esquecer, cada dia que passa representa sofrimento para milhões, mas também é dia de receber os salários do século para a corja tripulada pela administração Bush – é esta a verdadeira razão porque eles não cortam de imediato com a situação insustentável e desaparecem.

“Os do contra, como este pândego que apelida a revista New Yorker de esquerda" escandalizam-se com os desenhos escabrosos do Osama muçulmano, mas não reparam na mesma palhaçada feita com o neo-neocon McCain. Não reparam que ambos são “vaipes” do mesmo género lançados para entreter multidões enquanto, distraídas, as questões objectivamente importantes lhes escapam.
Por especial cortesia de um spot publicitário da Halliburton, a empresa onde pontificou o ex-administrador Dick Cheney, trazida até nós pela administração Bush, desvenda-se neste video o modo como esta dupla de criminosos, com o beneplácito do Congresso, apoia as tropas que enviam para as privatizadas missões de ocupação – dos próprios soldados nacionais americanos aos da coligação Nato – todos são envenenados pela água que bebem fornecida por contrato exclusivo pela KBR, uma subsidiária da Halliburton – é preciso facturar e receber o dinheiro, claro. No Iraque isso não é problema. Mas a segurança sanitária não faz parte das preocupação deste tipo de empresas mercenárias. Ou “os desinfectantes adicionados” são simplesmente um processo de guerra biológica para neutralizar quimicamente os desgraçados armados que são enviados como alvo para acções militares com as quais nada têm a ver?

A chusma de boçais cobardolas do Congresso norte americano devia preocupar-se com o problema, mas se calhar andam demasiado ocupados com a preparação do ataque ao Irão – assim, sobram apenas as declarações dos soldados zé-ninguém imbecilizados pelas pulsões medievais do drapear de bandeiras,

sexta-feira, julho 25, 2008

Cui Jian: é verdade, já levamos 100 anos de Revolução; a politica é uma coisa muito perigosa, pode destruir-nos - Sinal de abertura e modernização da sociedade chinesa, o antigo trompetista na Orquestra Filarmónica de Beijing que virou pop-star, actua de venda vermelha nos olhos à procura da Felicidade. Apesar disso ser a única coisa que o homem diz, dá azo às mais variegadas interpretações. Hoje a fechar a noite em Sines no Festival Músicas do Mundo. Depois da vedeta bollywoodiana Asha Bhosle, o festival encerra amanhã com uma barulhenta algaraviada de marados que dizem pretender recriar Jimi Hendrix – pobres ratos, se comparados com o virtuoso papa-hamburguers do Village que esteve aqui há um par de anos – daí que o melhor deste ano seja mesmo o franguinho assado na tasca da Dona Edite comido à mão em bancos corridos ao som do "estralajar" do fogo de artifício.

Popa Chubby - Hey Joe(8min.49seg.)

o filão da obamania

lamentavelmente, teremos a construção civil de novo como motor do capitalismo:
"Obama defende em Berlim "menos muros e novas pontes"
e olhem que sagaz:
"um especialista em marketing diz que Obama poderá ser o novo Kennedy" e uma curiosidade:
Obama ficou alojado no Hotel Adlon uma hospedaria judaica de 7 estrelas junto às Portas de Brandenburgo nas traseiras da embaixada americana e inglesa que em tempo configurei aqui

Obama em cima de um T-34 soviético fala ao proletariado

No outro lado da multidão, a verdadeira história:
à entrada do Tiergarten, 2 tanques russos T-34 no monumento que
celebra a libertação da Alemanha pelo Exército Vermelho

quinta-feira, julho 24, 2008

Terramoto de Longa Duração

Boaventura Sousa Santos

"A miragem das elites tecno-políticas europeias muitas delas formadas em universidades norte- americanas é que a Europa só poderá competir globalmente com os EUA na medida em que se aproximar do modelo de capitalismo que garantiu a hegemonia mundial deste país durante o século XX.
Trata-se de uma miragem porque concebe como causas dessa hegemonia o que os melhores economistas e cientistas sociais dos EUA concebem hoje como causas do seu declínio, fortemente acentuado nas duas últimas décadas.
A transformação do trabalhador num mero factor de produção e a transformação do imigrante em criminoso ou cidadão-fachada, esvaziado de toda a sua identidade cultural, são as duas fracturas tectónicas onde está a ser gerado o terramoto social e político que vai assolar a Europa nas próximas décadas.
Vão surgir novas formas de protesto social desconhecidas no século XX. A vulnerabilidade do Estado será visível em muitas delas, tal como aconteceu com a greve de camionistas, vulnerabilidade reconhecida por um primeiro-ministro cuja eventual ignorância da história contemporânea foi compensada pela intuição política: foi a greve de camionistas que precipitou a queda do governo de Salvador Allende.
A quem beneficiará o fim de um sindicalismo independente e o agravamento caótico do protesto social? Exclusivamente ao Clube dos Bilionários, os 1125 indivíduos cuja riqueza é igual ao produto interno bruto dos países onde vive 59% da população mundial".

(artigo completo aqui)
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quarta-feira, julho 23, 2008

os assombrados mortos vivos da ex-Jugoslávia

Fugitivo como ínfima parte de uma constelação internacional de assassinos, formado em psiquiatria na Universidade Estatal de Moscovo e especializado na China em medicina alternativa, entregue pelos novos dirigentes do seu país (liderados por Boris Tadic e empossados a 18 de Julho) como moeda de troca no negócio de acesso ao mercado da União Europeia, o Dr. Dragan "David" Dabic tinha um site na Internet. Ali se podem ler dez dos seus velhos provérbios chineses favoritos, como prática pessoal aconselhada, sob o lema “cure-se interiormente: controle as necessidades crescentes para que tenha pontos de vista alternativos no mundo moderno”,

- Por trás de cada homem capaz, há sempre outro homem capaz.
- O professor abre a porta, mas és tu que deves entrar por ti mesmo.
- Um homem sábio toma as suas próprias decisões, um ignorante segue a opinião pública.
- Aquele que não consegue concordar com os seus inimigos, é controlado por eles.
- Se a tua força é fraca, não carregues fardos pesados. Se as tuas palavras não têm valor, não dês conselhos.
- Um diamante danificado é melhor que uma pedra comum perfeita.
- Aprender é um tesouro que deve seguir o seu possuidor para todo o lado.
- Se planeias para um ano, semeia arroz; se planeares para uma década, planta árvores; se planeias para a vida inteira, ensina o povo.
- Não podes impedir os pássaros do agoiro de voarem sobre a tua cabeça, mas podes impedi-los de fazerem ninhos nos teus cabelos.
- Aquele que desiste de si próprio, deverá cavar duas sepulturas
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terça-feira, julho 22, 2008

Capitalismo de desastre: Estado de extorsão

Invadir países para apoderar-se dos seus recursos naturais é ilegal, segundo a Convenção de Genebra. Isto significa que a gigantesca tarefa de reconstruir as infra-estruturas do Iraque é responsabilidade financeira dos invasores. Em vez disso, o Iraque está obrigado a vender 75% de seu património nacional para pagar as contas da sua própria invasão e ocupação ilegais. Os capitalistas do desastre têm estado ocupados. A análise é da Naomi Klein (traduzida em brasileiro para a Carta Maior 18/7),

Desde que o barril de petróleo ultrapassou os 140 dólares, até os interlocutores de direita mais furibundos são forçados a demonstrar o seu credo populista dedicando uma parte dos seus programas a massacrar as companhias petrolíferas. Alguns foram tão longe a ponto de convidar-me para uma conversa amigável sobre um insidioso novo fenómeno: “o capitalismo do desastre”. A coisa marcha bem... até que se começa a torcer.

Por exemplo, o interlocutor “conservador independenteJerry Doyle e eu mantínhamos uma conversa perfeitamente amigável sobre as turvas companhias seguradoras e a inépcia dos políticos, quando ocorreu o seguinte: “Acho que há um sistema para baratear rapidamente os preços”, anunciou Doyle. “Investimos 650 bilhões de dólares para libertar uma nação de 25 milhões de pessoas. Será que já não é hora de reclamarmos um pouco de petróleo em troca? Deveria haver uma fila de caminhões-tanque, um atrás do outro, formando um congestionamento em direção ao Túnel Lincoln, o malcheiroso Túnel Lincoln, bem na hora do rush, cada um deles com um bilhete de agradecimento do governo iraquiano... Por que não vamos e simplesmente pegamos o petróleo? Nós o ganhámos libertando um país. Posso resolver o problema do preço do petróleo em dez dias em vez de em dez anos.”
O plano de Doyle tinha alguns problemas, é claro. O primeiro é que estava descrevendo o maior latrocínio da história mundial. O segundo é que chegava tarde demais: “nós” já estamos roubando o petróleo do Iraque.

(ler o original completo aqui)
relacionado (no Médio Oriente Vivo):
"O Envolvimento dos Curdos e de Israel no Iraque"

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segunda-feira, julho 21, 2008

CPLP, Commonwealth, Ditadores

“É tempo de olharmos mais para Oriente, para onde o sol nasce, em vez de olharmos para o Ocidente, onde o sol declina e por fim desaparece”
Robert Mugabe

Porque é que a postura politica do Ocidente perante Angola é diferente da do Zimbabwe? – e porque é que Angola merece todas as deferências e atenções, desde Sócrates (uma nova linha de crédito) a Sarkozy (a absolvição do “Angolagate”), passando pela visita de vassalagem de Jerónimo de Sousa?petróleo e ditaduras friendly, amigas e subservientes ao parlamentarismo burguês, parecem ser dois factores que casam sempre muito bem. Até sectores insuspeitos, assumidos como de esquerda, como “Le Monde Diplomatique” branqueiam a ditadura angolana: na resenha da história recente de Angola, publicada (na caxa “A paz conquistada a alto preço”) os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 desapareceram da cronologia! E aí morreram dezenas de milhares de pessoas, demasiadas para serem apagadas da memória.
clique nos recortes para ampliar
Hoje Mugabe, ao aceitar conferenciar com a oposição, voltou a trocar as voltas aos comentadores comprometidos com a ingerência no país. Um dos países que apoia Mugabe é Angola, e aí, por outras razões, pois em Angola aproxima-se um período eleitoral. O país vai pela primeira vez enfrentar eleições que deverão ocorrer em 5 e 6 de Setembro de 2008. O edificio da Comissão Nacional de Eleições, construido em Luanda por portugueses, está quase pronto.

Em Angola, existe na prática uma situação de partido único e o homónimo de Mugabe, José Eduardo dos Santos, bem como o partido de governo, MPLA, não escondem que a “democracia na economia neoliberal” é um vento que desagrada profundamente aos dirigentes angolanos instalados no poder. A queda de Mugabe, poderia ser vista em Angola como um prenúncio do que está para vir. Há 16 anos, as eleições angolanas despoletaram o reacender de uma cruel guerra civil. Será natural que não seja possível, com ardilosas manipulações de papelinhos, alterar a Constituição que consigna a independência nacional. No Zimbabwe, o presidente nacionalista avisou claramente que se não ganhasse as eleições, o seu partido pegaria em armas para ganhar se necessário na ponta das espingardas o que não conseguísse com o voto – uma astuciosa arma financiada pelos interesses estrangeiros.

Em Angola, a situação não é muito diferente.

O MPLA, como a ZANU de Mugabe não sairá do poder, não sairá de Luanda, não deixará os lugares na administração pública, que justificam a sua existência com facilidade. Luanda quer a todo o custo que o Zimbabwe seja um bom exemplo. Se Mugabe perdesse as eleições, isso poderia afectar o MPLA em Setembro. Os dois partidos têm raízes idênticas e as mesmas referências históricas. Os dois partidos transformaram-se em organizações que vivem do Estado e sugam o Estado. E sem esse poder suportado pelo completo controlo da comunicação social e da economia (tanto em Harare como em Luanda), o futuro não estará garantido para as elites governantes do MPLA e da ZANU. Embora ligeiramente diferente, em Angola o caminho será o mesmo. O regime corrupto do MPLA dificilmente sairá do poder, enquanto houver dinheiro para comprar a oposição. Não é previsível que o partido que governa em Luanda perca as eleições de Setembro de 2008 (porque a vitória está garantida pelo completo controlo da máquina de comunicação social), não é dificil prever que à medida que as desigualdades sociais forem aumentando em Luanda e no resto do país, e à medida que o povo começar a perceber de que a sua miséria não tem nada a ver com questões externas ou com a exploração dos brancos, mas sim com a corrupção que grassa como uma doença incurável no partido do poder, então o MPLA terá problemas sérios. O partido de Eduardo dos Santos, não teria outra hipótese que não seja a conseguir à bala, o que está condenado a perder nas urnas. A vitória de Mugabe, dita fraudulenta pelo Ocidente ávido de ingerência e dos lucros pelo controlo económico, garante para já que o «exemplo» está garantido, intimidando os angolanos. Mas a procissão ainda vai no adro, e o que vier a ocorrer no Zimbabwe, é da maior importância para o futuro dos países vizinhos.

dados adaptados de “Mugabe, o Zimbabwe e Angola”
publicado na “Revista Militar.net”

domingo, julho 20, 2008

"Standard Oil Company"

Este poema de Pablo Neruda foi escrito nos anos quarenta; pertence ao épico “Canto General”. Enquanto naquela época era a Standard Oil da familia Rockefeller, hoje pode ser qualquer uma dessas míriades de companhias petrolíferas (afinal apenas 4 grandes) em que aparentemente se pulverizou o negócio que saqueia o mundo inteiro. Essas que agora ambicionam o petróleo iraquiano e afegão e para as quais o presidente Bush pôs a trabalhar os seus soldados. Normalmente os povos resistem a este tenebroso poder, algumas vezes com sucesso, porém a maior parte das vezes com grandes custos para eles mesmos.

Quando o barro se abriu passou
através da superficie pedregosa
e despejou o intestino implacável
vindo das reservas subterrâneas
de milhões de anos mortos, sem olhos,
sem idade, imersos nas raizes
das plantas encarceradas
e dos sistemas estratificados
agitaram-se estractos de água,
subiu o fogo pelos tubos
convertido em líquido frio,
nas alfândegas das alturas e
à saída do seu mundo
de profundidade tenebrosa
encontrou um pálido engenheiro
e um título de proprietário

Embora se bifurquem os caminhos
do petróleo, embora as ventosas
mudem silenciosamente de sítio
e movam a sua soberania
entre os ventres das terras
enquanto prepara o operador
as brocas com parafina
antes chegou a Standart Oil
com os seus contratos e as suas botas
com os seus cheques e seus fuzis
com os seus governos e os seus presos

Os seus obesos imperadores
vivem em Nova Iorque, são polidos
e meigos, assassinos sorridentes
que compram seda, nylon, charutos,
tiranetes e ditadores

Compram paises, povos, mares,
polícias, deputados,
de longinquas comarcas onde
os pobres guardam o seu trigo
como os avaros guardam o ouro.
a Standart Oil desperta-os
veste-lhes uniformes, designa-lhes
qual é o seu irmão ou inimigo
e o paraguaio faz a sua guerra
e o boliviano desfalece
com a sua metralhadora na selva

Um presidente assassinado
por uma gota de petróleo,
uma hipoteca de milhões
de hectares, um fusilamento
rápido pela manhã
mortal de luz, petrificada,
um novo campo de presos
subversivos, na Patagónia,
uma traição, um tiroteio
durante um patrulhamento,
uma mudança subtil de ministros
na capital, um rumor
como uma maré de azeite
e logo a debandada, e verás
como brilham, sobre as núvens,
sobre os mares, sobre a tua casa,
as letras da Standart Oil
iluminando os seus domínios

* Pablo Neruda, escritor Chileno, Prémio Nobel de Literatura.

sábado, julho 19, 2008

Michael Parmly

No dia 19 de Maio o governo de Cuba revelou no programa de informação Mesa Redonda da Cubavisión copiosa documentação comprometendo o diplomata chefe da Secção de Interesses dos EUA em Havana (USIS) Michael Parmly acusando-o de ter participado directamente na transferência e procedimento de pagamentos aos dissidentes em Cuba.
O mesmo Parmly ex-responsável da SINA nos Estados Unidos foi “apanhado” em escutas telefónicas com a conhecida dissidente cubana Martha Beatriz Roque que vive em Havana e se tornou famosa por apelar à “intervenção armada (dos norte- americanos) para restituirem a liberdade democrática a Cuba”. Esta é uma das frases dadas a ouvir na gravação transmitida no Domingo dia25 de Maio no programa “Mesa Redonda” da televisão cubana. Noutra parte da conversa Martha pormenoriza instruções para que através da Secção de Interesses norte americanos com escritório no Malecón em Havana “sejam transferidos meios financeiros e aí colocados colaboradores de grupos privados” que se infiltrariam potenciando a oposição interna através de actividades pseudo comerciais.
As verbas procederiam de uma Fundação encabeçada pelo cubano-americano Santiago Álvarez residente em Miami, a quem as autoridades da ilha não hesitam em apelidar de mercenário, indiciado por acções terroristas tendo inclusivé cumprido pena pela posse ilegal de armamento com o qual planeava atacar alvos em Cuba à revelia das ordens concertadas com Washington. Cuba tolera dissidentes que obedeçam ás leis do país, porém aqueles que são pagos em “dólares terroristas” transferidos pelos Estados Unidos não são “dissidentes”, são mercenários.
Com a colaboração activa de Parmly, que enviou cartas ao Juiz James Cohn, a sentença de Álvarez foi reduzida de 46 para 30 meses de prisão. Assim o mercenário, passado algum tempo de bom comportamento pode continuar a operar. Os “dissidentes mercenários”, alguns dos quais violaram o código penal de Cuba em 2003 foram detidos por actividades subversivas servindo um Estado estrangeiro prejudicando deliberadamente “a independência e a integridade territorial do Estado cubano”. O que é que isto tem de estranho? - se desde os primórdios da Revolução as relações entre Estados EUA-Cuba estão inquinadas pela Máfia de Miami?

Este estado de coisas dura há décadas, porém a nossa imprensa continua a ditar sempre a mesma cartilha. Mais uma vez a interpretação viciada veiculada foi a de que foram os “dissidentes que se preparavam para comemorar o 4 de Julho dos Estados Unidos”

O governo de Cuba exigiu que a administração norte-americana se pronuncie sobre as actividades da Secção de Interesses em Havana, tome medidas imediatas para que se cumpram os acordos entre Cuba e os EUA firmados em 1977, e não se violem grosseiramente as disposições da Convenção de Viena sobre relações consulares, as quais ditam expressamente que o conteúdo da bagagem diplomática só pode incluir material destinado ao serviço da embaixada, e nunca, em caso algum, outro cujo objectivo seja a promoção de acções hostis contra o país onde se situa a representação diplomática.

Noutra componente do notável trabalho dos serviços de informações de Cuba que evitam há décadas a ingerência externa nos assuntos internos do país, um jornalista cubano enviado a Washington na habitual conferência semanal confronta o porta voz Sean McCormack com estas evidências: Instado a comentar as denúncias, o porta-voz do Departamento de Estado, repetiu, evasivo, que os EUA na sua prática diplomática não violam leis internacionais, resposdendo: “eu não estou informado sobre os mecanismos de ajuda externa dos nossos serviços diplomáticos”. O jornalista insiste: “Michael Parmly é um responsável oficial no vosso Governo; enviar pessoas com o fim declarado de destabilizar internamente um país vai contra os principios de não ingerência universalmente aceites”. Resposta de McCormack: “Eu não estou aqui para investigar isso!”. Jornalista: “Mas isso viola a lei internacional...” – “Nós não violamos leis!” – o jornalista exibe um fac-simile do email relacionado com a gravação inicial directamente enviado por Martha Beatriz Roque apontando com o indicador para um endereço electrónico da Secretaria de Estado dos Estados Unidos. Não obteve resposta; acabou o tempo. A conferência está encerrada.

sexta-feira, julho 18, 2008

Sombras de 1929

as implicações globais do colapso bancário americano -
3 palestras de Nick Beams, secretário nacional do Socialist Equality Party (SEP) da Austrália. Traduzido para português no World Socialist:

Parte 1 - Tudo tinha de estar pronto impreterivelmente antes de segunda de manhã quando abririam os mercados asiáticos; senão seria o desmoronamento de Wall Street; a componente principal do plano de resgate do Bear Stearns (que depois seria "comprado" pela JP Morgan), era a garantia de que o Federal Reserve Board assumiria a responsabilidade por 30 biliões de dólares em títulos de dívida controlados pelo banco falido — uma decisão sem precedentes nos anais do banco central dos EUA.

Parte 2 - O “Choque Volcker” (1979), como ficou conhecido, assistiu ao aumento das taxas de juros a níveis record. A política de Volcker tinha dois propósitos relacionados: elevar o valor do dólar americano e garantir a sua posição de predominância global como moeda corrente (com as decorrentes vantagens que isto traz aos EUA), e eliminou os sectores não lucrativos da indústria americana, forçando uma reestruturação da economia dos EUA para restabelecer a taxa de lucro. Essas medidas envolveram uma ofensiva impiedosa contra a classe trabalhadora americana, pelo estabelecimento das redes de produção globais, capazes de utilizar a força-de-trabalho mais barata disponível.

Parte 3 - Existe uma contradição fundamental bem no cerne do mercado que nenhum tipo de regulamentação é capaz de prevenir - isto é, a contradição entre a racionalidade individual e a irracionalidade do sistema como um todo. Os indivíduos sobre - endividados ou as empresas cada uma por si têm apenas três opções: cortar gastos, vender acções ou declarar falência. Timothy Geithner o presidente do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque explica: O presente episódio tem uma dinâmica em comum com todas as crises passadas. Os participantes do mercado pisaram no travão para reduzir a sua exposição às perdas futuras, mas o travão virou acelerador, aumentando os riscos de colisão. O risco mensurável tem aumentado numa velocidade muito maior do que boa parte das instituições têm sido capazes de reduzí-lo, e as tentativas para o reduzír aumentaram a volatilidade e pressionaram os preços para baixo, aumentando assim a exposição ao risco.

curiosa a forma como a comunicação social pretende (DN de ontem)
fazer crer que as "autoridades andam a tratar da besta" quando
afinal o problema reside num negócio de Estado irresoluvel,
na perspectiva capitalista das élites neoliberais instaladas no Poder.

a Morgan Stanley (uma financeira mainstream judaica) tinha avisado que haveria “um evento catástrofico” se o Banco Central Europeu insistisse em combater a Reserva Federal norte americana. Trichet aumentou os juros para 4,5 por cento, enquanto do lado de lá do Atlântico eles descem, estando actualmente nos 2 por cento. A taxa Euribor já subiu mais de 100 pontos desde que a crise do crédito se tornou visivel em Agosto do ano passado. A mesma empresa financeira notou que Portugal e Espanha, com 10,5 por cento de défice em relação ao GDP e a Grécia com 14 por cento, com tais níveis extremos de endividamento nunca deveriam ter estado habilitados a fazer parte da zona Euro. A Alemanha, cuja moeda forte, o Marco, foi substituida pelo Euro, tem actualmente um superhavit de 7,7 por cento do GDP.
Entretanto o êxito relativo deste centro financeiro europeu deve-se ao crescimento exponencial do nível de endividamento dos paises do Leste, desde o Báltico até ao Mar Negro, cuja dívida cresce entre 40 a 50 por cento ao ano. O nivel de endividamento da Lituânia é de 23 por cento, da Bulgária 22%, na Hungria e na Roménia ultrapassa os 55 por cento. Há aqui um imenso potencial de crescimento, até estes novos paises embebedados com os beneficios do capitalismo se transformarem em "petits portugais". Claro que dentro em breve, mais ano menos ano, retira-se-.lhes o tapete bancário, o boom do crédito estoira e os cobradores vão aparecer que nem piranhas para recolher o pagamento coercivo mais juros infacionados, tudo em bom proveito do reembolso dos bilionários que controlam a Reserva Federal (FED) e da retoma nos Estados Unidos.
Deve ser a contar com as migalhas saqueadas militarmente através do pacto com os Neocons americanos que o abominável professor César das Neves, que vive opíparamente à sombra da bananeira de Belém, disse hoje à Antena1 que em Portugal (com uma dívida externa de mais de 100%) "comparado com os outros paises lá de fora" não existe crise e não há razão para alarme.
(fonte)

quinta-feira, julho 17, 2008

um herói fabricado pelo IV Reich

Direitos Humanos?: para que não se diga que isto não aconteceu

É a primeira gravação pública relacionada com interrogatórios e torturas nos sinistros “gulags” norte americanos criados na sequência da famigerada “guerra ao terrorismo”. Os advogados de um prisioneiro de nacionalidade canadiana enclausurado na Base Naval de Guantanamo divulgaram dia 15, através do jornal “TheStar”, um video dos interrogatórios realizados a um suposto terrorista, um jovem de 15 anos capturado em Julho de 2002 por soldados norte-americanos na zona tribal de fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão , local de onde a família de Omar Khadr é originária. No vídeo podem apreciar-se os efeitos de um cativeiro prolongado. O adolescente chora convulsiva e desesperadamente, enquanto mostra feridas feitas ainda durante a captura e no período de torturas que se seguiu, queixando-se da falta de assistência. A gravação foi realizada furtivamente por um membro do Serviço Secreto do Canadá, convidado a visitar a base ilegal em território cubano, ao abrigo do mesmo programa de lavagem de imagem que tem levado vários jornalistas e politólogos estrangeiros a Guantanamo, entre os quais Nuno Rogeiro – enquanto este “não viu nada de especial”, o canadiano viu. Tal e qual o procedimento adoptado pelo governo que concertou a visita do “spin doctor” português, o 1º Ministro do Canadá, o pró-neocon Stephen Harper descartou solicitar aos Estados Unidos o repatriamento do prisioneiro, tal como têm feito outros paises que em algum momento tiveram cidadão nacionais encarcerados no controverso campo de concentração.
Originalmente qualificado “secreto” pelo Pentágono, o video dura 7 horas e resume “quatro dias de trabalho sobre o detido” – um dos 270 encarcerados na instalação prisional sob o rótulo de “combatente inimigo”, onde os detidos permanecem anos sem processo judicial – a administração Bush atribui a Omar Khadr a morte de um militar norte-americano na operação que terminou com a captura deste adolescente (podia ter sido outro qualquer). Fica por explicar a legalidade das forças invasoras - tratando-se de ladrões, embora fardados à ordem de facínoras instalados em governos de aparência legal, que actuam furtivamente sobre propriedade alheia, é questionável que os intrusos não possam ser legitimamente abatidos invocando o estatuto de legítima defesa.

o Citigroup obtém 1,1 triliões de dólares de activos e receitas misteriosas que não constam dos livros de contabilidade (Bloomberg) enquanto declara 7 biliões de prejuizos

quarta-feira, julho 16, 2008

Manuela e a Banca yankee


Provocas, inconsciente,
olhando de alto, escarninha
sorrindo ironicamente
na mal aberta boquinha

Envaidece-te pequena
que fartos motivos tens...
mal entras agora em cena
e gozas os maiores bens

Tão facilmente adquiridos
que nem quasi dás por tal!...
são mistérios desta vida,
bem mentirosa, afinal!

poema popular inspirado no quadro "a Provocante" de José Malhoa, publicado na revista "Ilustração Portugueza", corria o ano de 1913;
and now, vindo da pátine dos tempos da decadência monarquica, algo de velho completamente novo:

Manuela Ferreira Leite mantém silêncio sobre contrato com o Citigroup.

Correio da Manhã: “o Ministério das Finanças está a estudar a forma como irão ser repartidas as próximas cobranças de créditos fiscais cedidos ao Citigroup – o que acontecerá assim que este grupo financeiro norte-americano receba do Estado português a verba de 1,76 mil milhões de euros correspondente ao valor que pagou em 2003.
Dos 9,68 mil milhões de euros de créditos fiscais e da Segurança Social que estão por cobrar, Teixeira dos Santos terá de apurar o valor que ficará para o Estado e a parte que será transferida para o Citigroup. Para já o Estado transferiu cerca de 1,71 mil milhões, valor que cobre quase o preço inicial pago pelo Citigroup. A Portaria 1375-A/2003, de 18 de Dezembro, prevê esta repartição de verbas após o pagamento dos 1,76 mil milhões de euros ao Citigroup.

Os partidos da esquerda parlamentar vão avançar em Setembro com pedidos de esclare- cimento sobre o contrato de cedência de créditos fiscais e da Segurança Social ao Citigroup – uma operação efectuada em Dezembro de 2003 por Manuela Ferreira Leite enquanto ministra das Finanças do Governo PSD-CDS/PP. Como 33% dos créditos fiscais cedidos foram substituídos por serem incobráveis, PS, BE e PCP querem que a líder do PSD e o Governo esclareçam o País sobre a data em que serão transferidos créditos para o Citigroup.

15,2 mil milhões de euros é, somando os 3,74 mil milhões de euros de créditos fiscais substituídos, quase o valor total dos créditos cedidos ao Citigroup. Sem a substituição, o valor é de 11,44 mil milhões de euros.
1,71 mil milhões de euros é quanto o Estado já transferiu para o Citigroup. Com esta transferência, os 1,76 mil milhões de euros pagos do início pelo Citigroup estão quase saldados.”

a partir daqui tudo o que vier é lucro. É o que se pode chamar um bom negócio para o Citigroup, um gigante financeiro afundado na presente crise. Para investigar pelos cidadãos que não têm representação parlamentar, resta saber quais foram as contrapartidas não divulgadas do negócio feito entre o Governo de Durão Barroso para camuflar o défice e uma das principais correias de transmissão do sistema que o levaria à colocação na Presidência Europeia.

Ontem o Correio da Manhã tentou, mais uma vez, obter um esclarecimento de Manuela Ferreira Leite sobre a substituição dos créditos incobráveis – que obrigou o Estado a dar ao Citigroup receitas de anos posteriores a 2003 – mas as tentativas foram infrutíferas.O mesmo aconteceu com o CDS-PP.

“Para Francisco Louçã, do BE, "este é o momento para dizer ao País quando é que isto acaba. Vamos forçar a questão em Setembro". Honório Novo, do PCP, recorre à ironia: "Já que Manuela Ferreira Leite não quer explicar as alternativas para os investimentos públicos, ao menos que queira explicar os contornos deste mau negócio com o Citigroup.O socialista Vitalino Canas diz que "vai ser um assunto importante nos próximos tempos: não por Manuela Ferreira Leite ser líder do PSD, mas porque é um assunto que na altura foi polémico e que suscitou dúvidas ao PS, que quer esclarecer os contornos do negócio e o impacto financeiro para o Estado"
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terça-feira, julho 15, 2008

Baptista Bastos: Esboço do português médio

"O chinfrim em torno do futebol e seus escândalos tem anestesiado a mente, já de si avariada, do português médio. (eis a grande questão: "Paulo Bento tem o perfil adequado para adjunto de Alex Ferguson?"). O português médio é aquele que ouvimos nas televisões dizer, em directo, coisas absurdas, num idioma cada vez mais primário. Sabe os nomes de todos os futebolistas, de todos os treinadores, das transferências escabrosas, das classificações de todos os clubes do mundo" (ler o resto)
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domingo, julho 13, 2008

o estado da Nação

e "a grande recessão"

Um ex-ministro francês costumava insistir: “enquanto falamos, há seguramente um bebé em vias de nascer numa clínica algures. Sobre os seus ombros, logo que começa a respirar, ele terá já uma dívida de 15 mil euros”. É verdade “que o recém nascido francês herda uma dívida pública, mas ele herda também activos públicos: estradas, patrimónios vários, escolas, maternidades, hospitais, equipamentos desportivos, etc... Evocar uma sem evocar as outras é pouco rigoroso

Foram decisões políticas sobre as moedas e as finanças – tomadas pelos governos na história recente do sistema monetário mundial – que determinaram, mais do que qualquer outra coisa, a distribuição dos ganhos e das perdas, dos riscos e das oportunidades, entre os Estados nacionais e entre as classes sociais.
Susan Strange, in “Casino Capitalism

A parte da dívida na riqueza nacional aumenta sempre de forma significativa, porque ela é inerente à própria natureza do capitalismo. No final do século XIX o rácio andava perto dos 100 por cento e um pouco menos em vésperas da Primeira Guerra Mundial. É o crescimento demasiado fraco que gera o endividamento. É então necessário aos capitalistas, in extremis, implementarem acções de destruição de activos, para que por fim se possa reiniciar um novo ciclo de crescimento em parâmetros um pouco diferentes para que se continue perpetuamente a iludir as massas populares.
Na zona Euro a parte da dívida no PIB eleva-se em média a 66,4 por cento, mas em Portugal em 2007 esse valor atingia 86,6% chegando hoje segundo o gúru neoconservador Medina Carreira a 100 por cento. Em Itália o nivel de individamento é ainda pior: 104%, mas lá está, o país, um dos G8, é um dos mais ricos em activos. O nivel de endividamendo dos Estados Unidos é de 62,2 por cento, enquanto que o Japão, obrigado pelo centro capitalista a pagar a crise global que eclodiu na Ásia em 1994 atinge agora os 180 por cento! não tendo recuperando ainda da chamada “década perdida”. É para uma conjuntura deste tipo que parece agora encaminhar-se a Europa: quanto maior o valor da dívida, maior os lucros recolhidos em juros pela Banca central global – um negócio privado construido dissimuladamente sob a capa da Reserva Federal americana.

(o clássico mais célebre é o "empréstimo Giscard" contraído sob a forma de títulos do tesouro que foram indexado ao ouro. Dos 6 mil milhões de francos emprestados para resolver a crise petrolífera de 1973, o Estado acabou por reembolsar até 1988 um total de 80 mil milhões de francos (o montante inicial mais juros).

"Dog Game"
O sistema financeiro que conhecemos esgotou uma modalidade de rapina, desconhecida pela grande maioria do povo, mas que nos afecta a todos nós, apesar de não sabermos verdadeiramente como funciona. A situação vivida hoje pelo sistema financeiro global reactualiza as palavras de um dos mitos do capitalismo, Henry Ford, que disse certa vez: “É bom que o povo não entenda o nosso sistema bancário e monetário, porque se entendesse, acho que haveria uma revolução o mais tardar amanhã de manhã” – sem dúvida, a questão só se resolverá expulsando a Oligarquia da tomada de decisões e do controlo das operações.

O espantalho da dívida pública

“Questões chave sobre as finanças do Estado. Cada vez que um governo pretende contrair as despesas sociais, argumenta com o nível demasiado elevado da dívida pública. O défice da caixa de aposentações (depois dos activos trerem sido desviados pelo governo Barroso/Bagão Félix) serve para legitimar o prolongamento do tempo de trabalho, o défice da Saúde serve para justificar a redução das comparticipações de medicamentos para certos tratamentos prolongados. A dívida pública é real, mas será tão ameaçadora quanto alguns afirmam ser?” – um artigo de Bruno Tinel e Franck Van de Velde, para ler no “Le Monde Diplomatique

Concluindo: por questões de segurança e higiene pública o poder do Pentágono/Wall Street, de facto a obra de globalização financeira do Sionismo, deveria, como solução para a “crise”, ser supervisado por uma autoridade de concorrência global que obrigasse todos os rafeiros nomeados por Washington a usar identificação mesmo quando os pobres bichos não estão a ganir e parecem inofensivos,

sábado, julho 12, 2008

Potosi, "A Mina do Diabo"

Faz 450 anos que se exploram as minas de prata de Cerro Rico na Bolivia.
Calcula-se que desde então ali tenham morrido 8 milhões de pessoas. Hoje em dia, cerca de 5 mil indígenas, agrupados em cooperativas, continuam escavando os resto de minerais que restam na mina de Cerro Rico. Conhecem-na como "a montanha dos homens” – trata-se de uma crença antiga que considera que o Diabo, representado por centenas de estátuas construídas nos túneis, determina o destino de todos aqueles que trabalham nas minas, a troco de ganhos miseráveis, sempre na esperança de encontrarem um grande filão. Órfãos de pai assumem as responsabilidades do cabeça de família e repartem o tempo entre o trabalho e a frequência da escola. O documentário conta a história de Basílio Vargas, um menino de 14 anos e de seu irmão Bernardino de 12; ambos trabalham na mina; e Basílio sabe que a escola é a única possibilidade de escapar ao seu destino.

Através do olhar destas crianças, vamos conhecer o mundo dos mineiros, fiéis devotos da religião católica, mas que rompem os seus laços com Deus quando entram na mina.
Premiado no Festival de Chicago, nomeado como Melhor Documentário para o European Film Award, seleccionado para Festival de Los Angeles (AFI), menção especial no German Camera Award, premiado no Festival de Roterdão, vencedor do Tribeca Film Festival, prémio Humanitário no México, 1º prémio no Woodstock Film Festival, prémio "Espírito da Liberdade" em Jerusalem, "A Mina do Diabo" reuniu até agora 1 milhão de euros doados às crianças de Potosi. Confortáveis no sofá, meia dúzia de trocos distribuídos, aqui ficamos nós de consciência tranquila:


falado em espanhol - La mina del diablo (parte 1 de 3)
(continua - ver parte 2 e 3 aqui)

quinta-feira, julho 10, 2008

globalização

Uma mirada no Horror

“Não foi divulgado o seu nome. Apenas que tinha 12 meses, que a sua mãe era nigeriana e que se encontra em estado muito grave, desnutrida e com queimaduras na pele provocadas pelo combustível quando se mistura com a água salgada. É o único bebé que sobreviveu a seis dias de inferno no mar, a caminho do paraíso. A barcaça, que transportava 10 crianças e 38 adultos a bordo, partiu sexta feira passada da costa africana. Porém o motor falhou. O GPS também. No domingo acabou-se a água e a comida. Outras quatro crianças, de menos de quatro anos, morreram no alto mar, nos braços das suas mães, e foram despejados borda fora junto com os cadáveres de outros seis adultos. Na quarta feira chegou a salvação para os restantes: um iate de recreio cruzou-se com a barcaça e deu a voz de alarme”.

(ler mais por Ignacio Escolar - director do jornal espanhol El Público – que mantém um blogue pessoal com comentários abertos e sem censura)

o Museu Maritimo de Barcelona expõe duas "pateras", que vão sobrando para memória futura, das centenas que vão dando à costa, na trágica epopeia moderna dos refugiados económicos que é devolvida aos europeus na ressaca das "descobertas" que proporcionaram as desigualdades construidas pelo saque e desenvolvimento desigual

quarta-feira, julho 09, 2008

em defesa da Banca


quando se tornou impossivel ocultar a grande crise capitalista em marcha desde Agosto de 2007, os banqueiros centrais do sistema na Reserva Federal dos Estados Unidos, as primeiras medidas que tomaram foi no sentido de uma baixa progressiva das taxas de juro, que se situam hoje próximo dos 2 por cento. Na Europa, condenada a pagar a crise global, o sentido da sucursal financeira do FED, o BCE tem vindo a tomar decisões no sentido inverso: a alta das taxas de juro, que estão hoje nos 4,5 por cento. E o que diz Barroso e a mando de quem?

A propósito da decisão do aumento de juros determinada pelo BCE, Durão Barroso diz que “os politicos não devem interferir nas decisões das instâncias financeiras”; Não se aprende nada. Voltemos a estudar as obras teóricas e as evidências factuais dos dois séculos anteriores:

O sistema-ouro não era neutro, mesmo em relação aos paises do “núcleo central”, que competiam entre si nos campos económicos e colonial, favorecendo em última instância, o poder financeiro da City, a peça essencial da supremacia ou hegemonia britânica. Esta caracteristica foi outra fonte geradora da instabilidade do padrão-ouro, não tendo relação directa com a desigualdade entre classes, mas sim com a distribuição desigual da riqueza entre as nações.
Karl Polanyi faz uma radiografia dessa nova realidade focando o papel cumprido na estabilização europeia pelas redes transnacionais e as suas conexões com ahaute finance”: “uma instituição sui generis peculiar do último terço do século XIX que funcionou nesse periodo como o elo principal entre a organização politica e económica do mundo” Às vezes a Pax Britannica mantinha esse equilibrio através dos canhões dos seus navios; mais frequentemente porém, ela prevalecia puxando os cordelinhos da rede monetária internacional, uma vez que, orçamentos e armamentos, comércio exterior e matérias primas, independência nacional e soberania, eram agora funções da moeda e do crédito”.

A rede de poder da “haute finance adquire um lugar completamente diferente como instrumento do novo capital financeiro, que, segundo Rudolf Hilferding, aprofunda a compulsão expansiva da burguesia e aumenta o seu carácter agressivo ao envolver o poder dos Estados numa competição por novos “territórios económicos”, que transcendem as fronteiras nacionais, sem jamais se transformar “num império universal, apesar de ser este, o ideal sonhado do capital financeiro, segundo Nikolai Bukharin, quando percebeu que essa nova forma de associação entre o capital e o poder politico transformou a competição intercapitalista também numa competição politica entre Estados e simultaneamente transformou o capital inter-estatal numa espécie de mercado ou espaço preferencial de competição capitalista entre os grandes conglomerados económicos:
“Cada uma das “economias nacionais” desenvolvidas, no sentido capitalista da palavra, tranformou-se numa espécie de “trust” nacional de Estado (...) porque esses grupos vão buscar o seu último argumento na força e na potência do Estado, porque a sua capacidade de combate no mercado depende da força e da coesão da nação, dos seus recursos financeiros e militares”

in "Estados e moedas no desenvolvimento das nações"
José Luis Fiori (org.) Edit. Vozes

O livro retoma o tema esquecido e propõe-se o estudo das relações entre Estados, as moedas e o processo de desenvolvimento das nações. Os autores procuram avivar a memória dos interessados no desenvolvimento quanto à centralidade do valor do dinheiro na organização do sistema mundial, e mostram, de forma inequívoca, como, nestas últimas décadas, o poder militar e político do Império

se converteu no verdadeiro avalista em última instância do valor do dinheiro. Os ensaios aqui reunidos permitem reconstruir a chegada ao cenário actual do Império e desvendar o que é novo e o que é uma etapa de um padrão de desenvolvimento mundial que, ao longo dos séculos, não se moveu no sentido de homogeneizar e universalizar a riqueza capitalista e o bem-estar material"

clique na imagem para ampliar

terça-feira, julho 08, 2008

“O resgate de Santa Ingrid” pelo sionismo global

Por cinco resumidas linhas de um artigo de Jorge Almeida Fernandes (Público 6 de Junho) ficámos a saber o mínimo - que “os americanos asseguram a intercepção das comunicações” sendo também pública “a presença de dezenas de especialistas israelitas, como Ziv, através de uma empresa, a Global CST, que aconselha as forças especiais”

Embora a versão impressa não mencione a questão, a versão online do mesmo jornal referiu a existência de conselheiros israelitas implicados na libertação de Betancourt, ou que os militares colombianos contratam apoio de empresas israelitas. “Estas unidades são aconselhadas por mais de mil boinas verdes americanos, instrutores israelitas e membros das SAS britânicas. Israel vende há vários anos à Colômbia aviões de combate, “drones” (aparelhos aéreos que voam sem transportar piloto) e sistemas electrónicos de detecção. “Fornecemos meios sofisticados às forças especiais para combaterem a guerrilha”, disse por seu lado Israël Ziv. Segundo este antigo chefe de operações do Exército israelita, a sua empresa “está profundamente implicada” na ajuda às forças especiais colombianas. O porta-voz do Ministério da Defesa israelita, Shlomo Dror, não quis confirmar nem desmentir a notícia, invocando à AFP que “o ministério não pode dar qualquer informação sobre a acção dos conselheiros militares israelitas”.

Esta empresa, a Global CST (Comprehensive Security Transformation), que tem apenas 10 empregados, obteve um contrato de dez milhões de dólares (6,37 milhões de euros) na Colômbia, após autorização do Ministério da Defesa para ajudar as forças especiais na luta contra as FARC, conta ainda o “Haaretz”.


Curioso como a versão impressa do Público (8 de Julho) na versão para cegos seja diferente e bastante mais concisa:
“A ajuda israelita - Ex-militares e empresas envolvidos.
O envolvimento israelita na operação de resgate de Ingrid Betancout e dos restantes cativos na quarta-feira terá sido muito mais profundo do que foi inicialmente dado a conhecer. A imprensa hebraica de ontem noticiou que homens e empresas do país deram uma mão que terá sido decisiva (...) o empenho nacional na missão mobilizou dezenas de peritos da companhia Global CST, propriedade do ex-chefe de planificação do Estado-Maior, general Israel Ziv, e do general de brigada e antigo responsável dos serviços de informação militares, Yosi Kuperwasser (...) A Global CST é uma empresa privada, mas a relação entre os dois lados corre através de uma agência do Ministério da Defesa de Israel, que deve aprovar todas as actividades fora do seu território (...)

A participação israelita na missão de Guaviare foi também assunto no Yediot Aharonot, o jornal com mais tiragem do país. Mas aqui já aparecem palavras como "treino" e "criação de estruturas operacionais". O diário explica, por outro lado, que as estreitas relações entre os dois países não são novidade nenhuma e que, durante a aplicação do Plano Colômbia, o quadro da ajuda dos Estados Unidos ao seu principal aliado na América do Sul, Washington achou apropriado que Telavive vendesse a Bogotá aviões, armas, know how, sistemas de informação e assessoria técnica.

Mas, longe da imprensa corporativa, onde se pode apreender melhor a verdade alargada dos factos e interpretes é no blogue de Ayman El Kayman “Coupsdedent” no post intitulado “Ingrid e Freddy, Nicolas e Bruno, Israel e Yossi”. Óptimo para enquadrar a história.

Quando Sarkozy ascendeu ao poder foi automático o reconhecimento que tinha sido o lobie Sionista que se tinha apoderado do país (1). A partir desse momento esperavam-se os maiores esforços postos na libertação de Bettencourt, para que o efeito mediático pudesse ser capitalizado para esconder a regressão social imposta em França. Demorou cerca de 14 meses de árduas congeminações secretas. Sarkozy e Carla há três semanas rumaram a Israel. No regresso o chefe do Estado Maior das Forças Armadas francesas general Bruno Cuche “demite-se” e é substituído pelo basco Elrick Irastorza homem próximo do presidente com longo currículo do comando de incursões belicistas na África de expressão francesa.

O chefe supremo das Forças Armadas da Colômbia Freddy Padilla de León, um General pára-quedista formado em estratégia nas escolas de Washington com a “tese de licenciatura", Terrorismo e Desinformação: duas armas, uma só estratégia de subversão para desestabilizar o país”, recebe a medalha mediática de herói pela “libertação” da franco-colombiana; apesar de ser o que mexeu menos na bola.
A armada colombiana sob supervisão do glorioso Tsahal, da Mossad, do Shin Beth e do Aman tem uma folha de serviços arrepiante: Israel Ziv é um general de brigada do Estado Maior, veterano da guerra civil do Líbano, da Cisjordânia e Gaza que dirigiu pessoalmente o assassinato do Sheik Yassine e de numerosos civis, crianças incluídas; é chefe honorário do COS (Comando de Operações Especiais) . Kuperwasser foi chefe do AMAN, o serviço de informações do Tsahal e existe ainda um terceiro general envolvido, Amos Ben Avraham veterano da unidade de elite Sayeret Matkal.

(1) Danielle Bleitrach: "A americanização da França e da Europa: um caminho até ao fascismo?"
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