em “O quase fim do mundo”
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"A declaração que V. Publicou o mês passado a justificar o seu papel na tragédia do 27 de Maio de 1977 é um documento tão cheio de omissões em relação aos factos que refere que eu não posso deixar de tomar uma posição crítica.
Ao protestar a sua inocência em relação aos horrores e à exterminação generalizada de militantes do MPLA nesse período, V. Diz ter-se limitado a desempenhar funções dentro de uma Comissão nomeada pelo Bureau Politico, cuja tarefa era “(...)seleccionar entre os depoimentos dos detidos(...) os que seriam mais elucidativos para serem transmitidos pelos orgãos de informação”. E deixa subentendido que qualquer outra responsabilidade que se lhe queira assacar, de participação na repressão ou em algum tribunal, é uma acusação desprovida de verosimilhança, fruto simplesmente de uma grande confusão com outras pessoas e entidades que funcionaram também no Ministério da Defesa em Luanda (onde se centralizaram as questões respeitantes ao 27 de Maio); visto o seu trabalho jamais se ter confundido com o que se passava e decidia noutros espaços. E termina por desejar que as instâncias superiores do MPLA venham em sua defesa e o ilibem de qualquer suspeita" (ler mais)
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É sabido que o Poder, qualquer Poder, no dia seguinte à tomada de posse, se converte ao conservadorismo. Para perseguir os objectivos consignados pelas aspirações das massas, traçam-se programas e estratégias que deixam de ouvir essas mesmas massas. Regra geral é assim que nascem as ditaduras, pelo saneamento à esquerda de todas as vozes que opinam que não deveria ser assim. O Poder, ainda que se intitule popular, e por isso, deveria ser constantemente desafiado e posto em causa para que não haja desvios. É neste ponto que se desenvolvem as diplomacias secretas, acontecem as purgas e se extirpam todas as ideias "prejudiciais" de esquerda. Para que a direita, a longo prazo e em formatos cada vez mais odiosos, tenha condições de retornar ao Poder.
«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.» (ler mais)
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José Manuel Fernandes, que fez a apresentação do livro (o que é meio caminho andado para se perceber que o conteúdo não será muito esclarecedor) também agora se pronuncia: “o 27 de Maio0 de 1977 provocaria sempre uma tragédia, saísse quem saísse vencedor da luta que opôs o desconfiado e manhoso Agostinho Neto ao arrebatado e radical Nito Alves. Quem vencesse mataria com a mesma frieza, utilizando os mesmos esbirros, pois esses não servem senão quem manda e no momento em que manda. É assim que vemos irmãos mandar prender e executar irmãos, companheiros de luta ignorarem apelos de elementar clemência, homens de cultura servir como torturadores” (…) e conclui, trigo-limpo-farinha-amparo: “a utopia fatal do comunismo tinha essa lógica: justificava os maiores horrores em nome de um futuro radioso a que líderes iluminados nos conduziriam. Ela funcionou nas prisões de Luanda, como nas de Moscovo, Pequim, Saigão ou Praga; ou Havana. (…)” possivelmente até em Abu Graib, Guantanamo ou na afegã Pul-e-Charkhi e muitas outras, mas JMF é omisso nesta questão. Certo, também não explica a velha e a actual conivência de Cavaco Silva e Durão Barroso e do novo pau-mandado do PS com a ditadura em Angola. Mas o que tem esta lógica a ver com Pepetela, aliás o ex-ministro Artur Carlos Pestana, o inquisidor de presos, torturados e assassinados sumariamente sem culpa formada e sem um julgamento legal, e o facto do historiador Carlos Pacheco ter sido banido das páginas do "Público"?
e, para concluir, ninguém será julgado?
* mais informação em "Associação 27 de Maio"
* ver as "Treze Teses em Minha Defesa" de Nito Alves
actualização:
* Autora de "Purga em Angola" apresenta queixa-crime por difamação contra viúva de Agostinho Neto
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1 comentário:
SOU ANGOLANO, COMECEI OS MEUS ESTUDOS DESDE 1991. HOJE CONTINUO A ESTUDAR MAS INFELIZMENTE NUNCA ME FOI ENSINADO A HISTORIA DE ANGOLA. O QUE EU PENSAVA SER HISTÓRIA DE ANGOLA INFELIZMENTE ERA SIMPLESMENTE UMA ADAPTAÇÃO DO MPLA SOBRE O QUE SE PENSA SER HISTÓRIA DE ANGOLA. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO PARECIA PARA MIM UM HERÓI, MAS HOJE EU SEI. ELE FOI O MAIOR ASSACÍNO QUE ANGOLA JÁ TEVE, O QUAL MESMO MORTO CONTINUA MATAR.
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