Sérgio Godinho, em “Arranja-me um emprego”
As Ovelhas vão pedir a intervenção do Lobo
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«Tu precisas tanto de amor e de sossego/ Eu preciso dum emprego/ Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso/ Por exemplo o Paraíso»
«Se meto os pés para dentro, a partir de agora/ Eu meto-os para fora/ Se dizia o que penso, eu posso estar atento/ E pensar para dentro»
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recrutados para gerir a falência do sistema
Durante a ditadura “o espírito de quartel reinou soberanamente nas escolas. Ali se desfilava a marcar passo, obedecendo aos vigias, a quem só faltava o uniforme e as divisas. A configuração do edifício obedecia à lei do ângilo recto e da estrutura rectilinea. Deste modo se empregava a arquitectura a vigiar os desvios de comportamento, graças à rectidão duma austeridade espartana.
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Raoul Vaneigem – Desmilitarizar o Ensino
Até aos anos 60 a instituição educativa continuou modelada por estas virtudes guerreiras, segundo as quais os jovens deviam ir morrer nas fronteiras, de preferência a entregarem-se aos prazeres do amor e da felicidade. Semelhante prescrição caíria hoje no ridículo, mas apesar da mutação iniciada em Maio de 1968 e do descrédito em que se vê o exército numa Europa sem combates (com excepção de algumas guerras locais em que desdenha intervir), seria excessivo pretender que caiu em desuso a tradição da imposição vociferada, do insulto ladrado, da ordem sem réplica e da insubordinação que a isso constitui apropriada resposta.
A quase absoluta autoridade de que o mestre se vê investido está mais ao serviço duma expressão de comportamentos nevróticos do que da difusão de um qualquer saber. A lei do mais forte sempre fez da inteligência uma das armas da estupidez. Há muitos, sem dúvida, que mostram má vontade perante o facto de apenas terem direito a ficar calados. Mas enquanto uma comunidade de interesses não puser no centro do saber as inclinações, as dúvidas, os tormentos e os problemas que cada qual vai sentindo no dia a dia – ou seja, naquilo que compõe a parte mais importante da sua vida – só a sobranceria e o desprezo poderão transmitir mensagens, cujo sentido não nos diz verdadeiramente respeito enquanto seres de desejos”
(continue a ler "Aviso aos alunos do básico e do secundário")
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