Leonardo Ralha no CM: “Faltam movimentos que defendam ideias e entendam o futuro do País e do Mundo por oposição à modorra do “Centrão”, à ineficiência dos que temem ser de direita e ao desapego à realidade dos que ficam mais à esquerda”, afinal ambos do mesmo lado, digo eu.
A escolha do actual estado de coisas foi democrática. A grande maioria tem votado sempre ora no Psd ora no PS. Os eleitores não têm de que se queixar. Bem se sabe que os directórios escolhidos para os partidos do sistema não cumprem os programas com que se apresentam às escolhas. Há trinta e picos anos que as pessoas comuns sabem que é assim; contudo parece existir um prazer mórbido em perpetuar a almejada esperança que do céu caia, sem trabalho, esforço ou militância, benesses e mordomias iguais ou parecidas àquelas que caem como por milagre nas contas bancárias dos políticos e gestores que assaltaram o poder público. Como a interpretação desse sonho tarda a converter-se em realidade, talvez até nunca venha a converter-se, as odiosas culpas no cartório da falta de comparência do milagre, recaem sobre “os comunistas”. Se a CGTP junta 200 mil pessoas descontentes, a culpa é dos comunistas, se a Fenprof é obrigada a esconder qualquer sinal de filiação partidária e mesmo assim reúne o consenso da esmagadora maioria dos professores, a culpa é dos comunistas. Se o Pcp junta 50 mil numa manifestação convocada unicamente no seu próprio nome, a culpa é deles mesmos. Afinal, apesar da mal amanhada tergiversação ideológica, “os comunistas” parecem ser uns fulanos importantes: Assim sendo, até tomando como bitola o revivalismo das acções policiais pidescas, estamos como dantes:
"Paira um espectro pela Europa — o espectro do Comunismo. Todos os poderes da velha Europa se aliaram para uma santa caçada a este espectro, o Papa e o Czar, Merkel e Sarkozy, radicais franceses e polícias alemães. Onde está o partido de oposição que não tivesse sido vilipendiado pelos seus adversários no governo como comunista?" (ler mais)
O Manifesto Comunista na Era da Internet, explicado em vídeo - mais actual que nunca!
(legendado em português)
“Besta de Estilo” de Pier Paolo Pasolini
Fragmento III, Paris
Fragmento IV – o coro em Praga
“Besta de Estilo” de Pier Paolo Pasolini
Fragmento III, Paris
Vivo um sentimento de profundo ou desesperado rancor, de desilusão tão silenciosa quanto definitiva, de humilhação que não degrada apenas o velho que sou, mas degrada, por reflexo, toda a minha juventude. Este rancor, esta desilusão, esta humilhação derivam do facto de não ter vivido como Aliocha, embora tivesse podido ser capaz. Os sentimentos tão fortes, puros, violentos, que me agitavam em jovem em relação aos outros, não soube gastá-los sem interesse, como Aliocha; e não soube fazer deles segredo, revelando-os apenas aos que por eles se interessavam verdadeiramente. Não soube, assim, perder-me no silêncio, no pequeno lugar numa cidade qualquer que a vida me reservara. Quis investir com interesse esses meus sentimentos e num círculo de pessoas mais vasto. Desejei-o por ingenuidade. Acreditei que os meus sentimentos, assim fazendo, se iriam nobilitar ainda mais e sobretudo, sinceramente, engrandecer. Tornaram-se, porém, infinitamente mais pequenos e mesquinhos. E o meu rancor, a minha desilusão, a minha humilhação deveram-se àquilo precisamente que tornou pequenos e mesquinhos os meus sentimentos: a literatura.
Fragmento IV – o coro em Praga
Sala de Conferências (União de Escritores). Observadores ocidentais presentes: o que faz da conferência de imprensa de Jan algo de menos asceticamente comunista, etc.
Há algo de mundano, como nas apresentações de livros em Roma ou em Paris (sem o afluxo “ateniense” dos análogos encontros londrinos ou, melhor ainda, nova-iorquinos) em que o “demos” está presente, na forma de jovens com sede de cultura (actualmente algo irreverentes)
A última obra de Jan é uma reescrita de uma obra clássica de Vladimir Janácek; nela se fala de um crítico que reconstrói a Identidade de um pintor desconhecido, através de uma sequência obscura de descobertas de quadros novos e novas atribuições – como num policial puramente intelectual.
Este enredo, no livro de Jan, repete-se porém três vezes, em três momentos diferentes da história: um contexto rico (agrário, feudal: fascista); um contexto popular; e, por fim, um contexto pequeno-burguês. A relação de classe (entre descobridor e descoberto) é sempre especular: pois o patrício descobre um grande pintor popular; o pobre descobre ao contrário um grande pintor de família nobre; o pequeno burguês descobre, por fim, um grande pintor pequeno burguês (desaparecido nos campos de extermínio).
Neste último caso temos, porém, uma infracção da simetria: aí se insere a radical transformação do mundo que se deve à sociedade de consumo (que unifica o Oriente ao Ocidente): por isso a Identidade do grande pintor pequeno-burguês – reconstruída pelo crítico pequeno burguês através de deduções e trazida da sombra do desconhecido para a luz da história – sofre uma alteração interpretativa bastante anómala, em relação às duas primeiras vezes. A Pesquisa fica suspensa, perturbada…
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