Robert Mugabe
Porque é que a postura politica do Ocidente perante Angola é diferente da do Zimbabwe? – e porque é que Angola merece todas as deferências e atenções, desde Sócrates (uma nova linha de crédito) a Sarkozy (a absolvição do “Angolagate”), passando pela visita de vassalagem de Jerónimo de Sousa? – petróleo e ditaduras friendly, amigas e subservientes ao parlamentarismo burguês, parecem ser dois factores que casam sempre muito bem. Até sectores insuspeitos, assumidos como de esquerda, como “Le Monde Diplomatique” branqueiam a ditadura angolana: na resenha da história recente de Angola, publicada (na caxa “A paz conquistada a alto preço”) os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 desapareceram da cronologia! E aí morreram dezenas de milhares de pessoas, demasiadas para serem apagadas da memória.
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Hoje Mugabe, ao aceitar conferenciar com a oposição, voltou a trocar as voltas aos comentadores comprometidos com a ingerência no país. Um dos países que apoia Mugabe é Angola, e aí, por outras razões, pois em Angola aproxima-se um período eleitoral. O país vai pela primeira vez enfrentar eleições que deverão ocorrer em 5 e 6 de Setembro de 2008. O edificio da Comissão Nacional de Eleições, construido em Luanda por portugueses, está quase pronto.Em Angola, existe na prática uma situação de partido único e o homónimo de Mugabe, José Eduardo dos Santos, bem como o partido de governo, MPLA, não escondem que a “democracia na economia neoliberal” é um vento que desagrada profundamente aos dirigentes angolanos instalados no poder. A queda de Mugabe, poderia ser vista em Angola como um prenúncio do que está para vir. Há 16 anos, as eleições angolanas despoletaram o reacender de uma cruel guerra civil. Será natural que não seja possível, com ardilosas manipulações de papelinhos, alterar a Constituição que consigna a independência nacional. No Zimbabwe, o presidente nacionalista avisou claramente que se não ganhasse as eleições, o seu partido pegaria em armas para ganhar se necessário na ponta das espingardas o que não conseguísse com o voto – uma astuciosa arma financiada pelos interesses estrangeiros.
Em Angola, a situação não é muito diferente.
O MPLA, como a ZANU de Mugabe não sairá do poder, não sairá de Luanda, não deixará os lugares na administração pública, que justificam a sua existência com facilidade. Luanda quer a todo o custo que o Zimbabwe seja um bom exemplo. Se Mugabe perdesse as eleições, isso poderia afectar o MPLA em Setembro. Os dois partidos têm raízes idênticas e as mesmas referências históricas. Os dois partidos transformaram-se em organizações que vivem do Estado e sugam o Estado. E sem esse poder suportado pelo completo controlo da comunicação social e da economia (tanto em Harare como em Luanda), o futuro não estará garantido para as elites governantes do MPLA e da ZANU. Embora ligeiramente diferente, em Angola o caminho será o mesmo. O regime corrupto do MPLA dificilmente sairá do poder, enquanto houver dinheiro para comprar a oposição. Não é previsível que o partido que governa em Luanda perca as eleições de Setembro de 2008 (porque a vitória está garantida pelo completo controlo da máquina de comunicação social), não é dificil prever que à medida que as desigualdades sociais forem aumentando em Luanda e no resto do país, e à medida que o povo começar a perceber de que a sua miséria não tem nada a ver com questões externas ou com a exploração dos brancos, mas sim com a corrupção que grassa como uma doença incurável no partido do poder, então o MPLA terá problemas sérios. O partido de Eduardo dos Santos, não teria outra hipótese que não seja a conseguir à bala, o que está condenado a perder nas urnas. A vitória de Mugabe, dita fraudulenta pelo Ocidente ávido de ingerência e dos lucros pelo controlo económico, garante para já que o «exemplo» está garantido, intimidando os angolanos. Mas a procissão ainda vai no adro, e o que vier a ocorrer no Zimbabwe, é da maior importância para o futuro dos países vizinhos.
dados adaptados de “Mugabe, o Zimbabwe e Angola”
publicado na “Revista Militar.net”
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