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Muitos no Afeganistão falam de jazidas de urânio no deserto da província meridional de Helmand, região onde o controlo e a exploração estariam no centro de uma dura disputa entre forças norte-americanas e britânicas. Porém por agora esta história não teve nenhuma confirmação.
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O projecto do gasoduto afegão, sem dúvida, não é abandonado. Os três países envolvidos voltam a estudá-lo a partir de 2002, e em Abril de 2008 firmam um acordo com a Índia que prevê a abertura do oleaduto em 2018 (previsão excessivamente optimista, segundo os analistas do sector). Para financiar o projecto (7.600 milhões de dólares) conta-se com o Banco Asiático de Desenvolvimento (de que os Estados Unidos e o Japão são os principais accionistas). As empresas petrolíferas interessadas são estado-unidenses, britânicas e canadianas. Embora importante, parece arriscado identificar este projecto – de muito difícil realização e superado por outras rotas – o motivo da ocupação continuada do Afeganistão pelas tropas ocidentais.
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Sem dúvida, segundo muitos analistas militares, a vontade norte americana de controlar o Afeganistão deve ser lida, sobretudo, como chave de contraposição à China, considerada pelo Pentágono como a maior ameaça potencial à hegemonia militar e económica mundial para os EUA, não apenas na Ásia mas também no Médio Oriente, em África e na América Latina. Uma ameaça que se tornou mais real depois da criação, em Junho de 2001, da Organização de Cooperação de Shangai (OCS), que reúne a China, Rússia, as Repúblicas da Ásia Central, e brevemente, talvez incluindo o Irão. E que no futuro, dada a sua integração gradual com a Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), a aliança politico- militar liderada pela Rússia, poderia estender a sua influência até à Europa Oriental (Bielorússia) e ao Cáucaso (Arménia), convertendo-se, para todos os efeitos, numa aliança contraposta a uma NATO liderada pelos EUA. Um Afeganistão debaixo do controlo americano é uma faca apontada nas costas da China, em particular pela sua aproximação de Xinjiang, uma região ríquissima em petróleo e desestabilizada pelo nacionalismo Uigur (com sustentação tradicional da CIA). A importância geoestratégica do Afeganistão é inegável e tem desempenhado certamente um papel importante na decisão dos EUA de ocupar o país e estabelecer aí bases militares permanentes.
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Não é nenhum segredo que o auge da produção de ópio e heroína nos anos 70, no chamado Triângulo Dourado (Laos, Birmânia e Camboja) foi dirigido pela CIA (1), que com o produto das operações de tráfico de droga financiava as suas operações anti-comunistas no Sudoeste Asiático (2). O mesmo sistema – igualmente bem conhecido – foi adoptado pela CIA nos anos 80 na América Latina, para financiar com o produto da cocaína, a guerrilha anti-sandinista dos Contra na Nicarágua (3), e no Afeganistão, com as receitas obtidas com a heroína, a resistência anti-soviética dos Mujahedins (4)
No Afeganistão o negócio continuou também nos anos 90 e incrementou-se com a chegada ao poder dos Talibans, com o conhecido apoio da CIA. Até ao ano 2000, quando o mulah Omar, a fim de obter apoio internacional para o seu regime, decidiu proibir a produção de ópio, que em 2001 caiu para níveis próximos de zero!!
Uma produção que no Afeganistão “libertado e controlado pelos militares e serviços secretos dos EUA se reaviva a ritmo intenso desde 2002 (quando os talibans ainda não haviam regressado) pulverizando todos os recordes históricos e transformando em poucos anos este país da Ásia meridional no principal produtor de heroína do mundo (93 por cento da produção mundial). Uma situação que as forças armadas dos EUA presentes no Afeganistão se têm negado sistematicamente a enfrentar, afirmando que este “não é o seu trabalho” e deixando-o em mãos do governo marioneta de Kabul. Segundo um número cada vez maior e mais heterogénio de especialistas e pessoas bem informadas, a CIA haveria sub-contratado a produção e preocessamento da heroína ao narco-Estado encabeçado por Karzai, protegendo pela sua parte as rotas de evacuação por via terrestre (Paquistão, Irão e Tajiquistão) e gerindo directamente os despachos por via aérea para o exterior.
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O jornalista russo Arkadi Gubnov, do jornal Vremya Novostei, fez pública uma informação proporcionada por uma fonte dos serviços secretos afegãos, e escreveu: “cerca de 85 por cento de toda a droga produzida no Afeganistão é transportada para o exterior pela aviação norte americana”. No Verão passado, o general russo Mahmut Gareev, ex-comandante das tropas soviéticas no Afeganistão, declarou ao canal Rússia Today; “Os estado-unidenses não fazem nada contra a produção de droga no Afeganistão porque ela lhes proporciona, pelo menos, 50 mil milhões de dólares por ano. Não é mistério nenhum que os estado-unidenses transportam a droga nas suas aeronaves militares para o estrangeiro”. O jornalista norte americano Dave Gibson, do NewsMax, citou uma fonte anónima dos serviços de informações dos EUA afirmando que “a CIA sempre esteve envolvida no tráfico mundial de drogas, e no Afeganistão simplesmente levam a cabo o seu negócio favorito, como fizeram durante a guerra do Vietname”
O economista russo Mikhail Khazin disse numa entrevista que “os estado-unidenses estão a trabalhar no duro para manter o tráfico de estupefacientes no Afeganistão através das garantias de segurança qua a CIA dá aos traficantes de drogas locais” “Os Estados Unidos não se opõem ao narcotráfico afegão para não pôr em causa a estabilidade de um governo apoiado pelos principais traficantes de droga no país, começando pelo irmão de Karzai” escreve o famoso jornalista norte americano Eric Margolis no Huffington Post. “
“O que sucedeu no passado na Indochina e na América Central indica que a CIA poderia estar implicada no tráfico de drogas afegãs numa medida maior do que a que já sabemos (6) Em ambos os casos, os aviões da CIA transportavam drogas para o estrangeiro em nome dos seus aliados locais, e o mesmo pode estar a ocorrer no Afeganistão. Quando a história desta guerra estiver escrita (7), a sórdida participação de Washington no tráfico de droga afegã será um dos capítulos mais vergonhosos.
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notas:
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(2) George Herbert Walker Bush foi director da CIA entre 1976-77; vice-presidente de Ronald Reagan entre 1981 e 1989; e por fim o 41º presidente dos EUA (1989-1993)
O último acto de Bush durante seu mandato foi decretar o perdão dado a seis ex-altos funcionários do governo implicados no processo Irão-Contras nos últimos dias do seu mandato, em 24 de dezembro de 1992, ilibando entre eles o ex-Secretário da Defesa Caspar Weinberger e o ex-embaixador dos EUA nas Honduras e depois embaixador dos EUA no Iraque , John Negroponte.
(3) Air America: linha aérea norte americana estabelecida em 1946, propriedade da Agência Central de Informações (CIA) e gerida pela sua Divisão de Operações Especiais, responsável pelas actividades secretas da Companhia, desde 1950 até 1976. Para mais informações sobre a participação da CIA e da Air América no tráfico, leia-se Alfred W. McCoy: “The Politics of Heroin in Southeast Asia, 1972.
(4) ver Herbert Bush e a União soviética na Wikipedia
(5)Durante a guerra do Vietname a CIA foi atingida por uma série de revelações, incluindo as baseadas nas investigações da Comissão Frank Church sobre actividades ilegais não autorizadas da Agência. O problema foi “resolvido com” a colocação de George Herbert Bush como director-geral da CIA nos anos 1976/77.
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(7) A biografia oficial do pai do 43º presidente, George W. Bush (2000-2008), foi muito convenientemente apagada das ligações à CIA. Aconselha-se vivamente a leitura da biografia não oficial elaborada por William Tarpley onde se explicam as ligações da família Bush com os sectores mais sórdidos da extrema direita europeia desde o fim da II Grande Guerra.
(Fonte original do post: "Enrico Piovesana – Peace Repórter – “Cosa si nasconde dietro la guerra in Afghanistan?”)
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1 comentário:
excelente
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