as Palavras podem ser usadas como instrumentos que provocam mortos. Traduzir essas Palavras, significa dar voz a todas as presumiveis vítimas que não se podem expressar através delas.
A organização do Festival prescindiu este ano do patrocinio da RTP sob a alegação que o Canal 2 do serviço público de televisão não cumpria o acordo, isto é não exibia as quotas de documentários previstos no contrato. Fez bem. Contra o que seria uma obrigação natural, saiu a RTP2, mas ficaram, entre outros, o jornal da Sonae e o grupo BES, o que decerto obriga a organização do DOCLx a assumir e seleccionar entre as obras a concurso as que têm uma certa visão que integre objectivos da politica oficial que se pretendem sejam atingidos.
O documentário que é exibido hoje à noite, "Bassidji" (repete dia 21 no Londres) nessa óptica "é um Irão como nunca o vimos", isto é, até os próprios detractores do regime se obrigam a reconhecer que o país que vemos hoje é "o Irão dos rockers e dos rappers; dos "Green Days" (a liberdade de criação e expressão); o Irão da esperança e da derrota (que permite Moussavi); enfim, um pais moderno, o Irão de Ahmadinejad. Não se pense contudo que será o trabalho de sapa da comunicação dos Media estrangeiros que vão conseguir destruir um regime que é, em última análise, controlado pelas instâncias de base populares eleitas segundo os preceitos constitucionais. Não se faz ideia do que virá dentro do documentário de Meharan Tamadon, mas os "Bassidji" são isso mesmo, os guardas da vontade maioritária do povo sob a forma de milicias organizadas. E a existência de uma "anormalidade" destas é uma coisa que os ricos que aspiram ao controlo da propriedade totalmente privatizada não suportam.
Tendo em vista a abertura, por qualquer meio, do Irão ao Mercado Livre por forma a que possa ser explorado pelas Corporações que subordinam os governos ocidentais, os Media induzem as opiniões públicas a pensar que o Irão é um país “terrivelmente diabólico”. Assim, existem crenças instaladas na mente de quem é bombardeado constantemente por falsidades. Lidas no sitio “Information Clearing House” aqui ficam traduzidas algumas dessas mentiras:
* Crença: o Irão é uma sociedade militarizada repleta de armas perigosas e uma ameaça crescente para a paz mundial
* Realidade: O orçamento militar do Irão é de pouco mais de 6.000 milhões de dólares por ano. A Suécia, Singapura e a Grécia têm todos orçamentos militares maiores. Além disso, o Irão é um país de 70 milhões de habitantes, de modo que os seus gastos per capita na Defesa são ínfimos quando comparados com esses países, já que são países com uma população muitíssimo menor. O Irão gasta menos com as suas forças armadas que qualquer outro país da região do Golfo Pérsico, com excepção dos Emiratos Árabes Unidos, que alberga o Comando Militar Regional e a 5ª Esquadra Naval dos Estados Unidos
* Crença: o Irão ameaça Israel com um ataque militar que o “limpe do mapa”
* Realidade: Nenhum dirigente iraniano em funções executivas fez qualquer ameaça de actos agressivos de guerra contra Israel, já que isso contradiria a doutrina internacional de “nenhum primeiro ataque” à qual o país aderiu. O presidente do Irão apenas disse explicitamente que o Irão não constitui uma ameaça para nenhum pais, Israel incluído.
* Crença: mas o presidente Mahmud Ahmadinejad não ameaçou com a célebre frase “limpar Israel do mapa”?
* Realidade: Ahmadineyad citou o ayatola Komeiny quando disse “este regime de Ocupação de Jerusalém deve desaparecer nas páginas do tempo” (in rezhim-e eshghalgar-i Qods bayad as safheh-e ruzgar mahv shavad). Não foi uma promessa de fazer rolar tanques, de invasão ou de lançamento de mísseis. Esta é uma expressão de esperança em que o regime que ocupa a Cidade Santa caia por si mesmo, como sucedeu p/e com a URSS. Não é em absoluto uma ameaça para matar ninguém (tanto mais que o plano de partilha da Palestina previsto nas resoluções da ONU em 1948 previa Jerusalém como cidade património cultural administrada por uma força de paz internacional)
* Crença: ¿ espera lá!, mas não são os iranianos negacionistas do Holocausto?
* Realidade: Alguns são, outros não. O ex-presidente Katami criticou Ahmadinejad por questionar o empolamento dos números do Holocausto, que qualificou como “crime do Nazismo”. Muitos iranianos educados no regime têm perfeita consciência dos horrores propagandeados. Em todo o caso, apesar do que implicam essas acções de propaganda, nem a negação do Holocausto (por mais malévola que seja) nem os insultos e ofensas contra Israel são a mesma coisa que existir um compromisso de um ataque militar contra esse país.
A acreditar no crescente tom de ameaças, é o contrário que se aproxima mais da verdade: será Israel mais uma vez a cumprir a tarefa de testa de ferro num ataque ao Irão em nome da defesa dos valores democráticos, isto é, os do Mercado livre “ameaçado pela Al-Qaeda”, outra falsidade que o “Observer” inventou
.
Sem comentários:
Enviar um comentário