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terça-feira, outubro 27, 2009

Orwell e os Intelectuais

Descobrir o caminho da alternativa socialista de poder? Certo, mas, como algum ladrilhador resolveu, por ordem superior, escarrapachar num corredor do metro: “Quando eu nasci os livros que haveriam de salvar o mundo já estavam todos escritos. Só faltava mesmo era salvar o mundo...”

"O mundo (não todo, mas uma boa parte) vive hoje em estado de hipnose e o hipnotizador é Barack Obama (...) E o que se passará depois da hipnose?" (Boaventura Sousa Santos)

Recentemente o respeitável almocreve da Petas resolveu atribuir uma espécie de prémios de mercado eleitoral pelos melhores bloggers no apoio às principais forças em presença nas últimas eleições. Nesse concurso, o melhor apoiante da CDU foi o Carlos Vidal (5 dias), Medeiros Ferreira melhor apoiante do PS; João Gonçalves como apoiante do PSD ex-aquo com a troupe do Blasfémias; e, melhor Blogger votante no BE o Zé Neves (5 Dias). Neste universo restrito há porém uma lacuna a preencher: os apoiantes daqueles 40 por cento dos que não votam nem têm blogues de apoio; Assim sendo, verifica-se que esta coisa da blogosfera é um mundo que vive 40 por cento de candeia apagada, obscuro nas cavernas intelectuais das elites com formação académica ou, nos antípodas, pelas bojardas mais soezes na falsificação das histórias que ocupam o senso comum. Não será grave, porque o que tiver que acontecer acontecerá condicionado a partir da rua repleta de assalariados (1), embora uma rua longinqua, grave tanto menos porque a utilização da internet em casa em Portugal se fica por 29 por cento da população, um atraso, como é costume enraizado em quase todas as nossas áreas de desenvolvimento. Ou como diria o Ricardo: “Onde fica Portugal? Na cauda da Europa. Não se sabe que bicho é a Europa, mas lá que tem uma cauda é garantido. E não há dúvidas nenhumas de que Portugal está nela sozinho” (Visão, 23 de Outubro)

a Culpa dos Intelectuais

«Vivemos num mundo onde ninguém é livre, no qual dificilmente alguém está seguro, sendo quase impossível ser honesto e permanecer vivo» (Orwell)

“todos condenamos a distinção de classe, mas são muito poucos os que querem seriamente aboli-las. Encontramos aqui o facto notável de que qualquer opinião revolucionária extrair parte da sua força de uma convicção secreta de que nada mudará (…) Enquanto se trata simplesmente de melhorar a sorte dos trabalhadores, qualquer pessoa decente está de acordo (…) Mas infelizmente não se vai longe quando nos limitamos a desejar varrer as distinções de classe. Mais exactamente, é necessário desejar que desapareçam, mas trata-se de um desejo que não tem qualquer eficácia a menos que nos demos conta do que implica. O que temos de enfrentar aqui é que abolir as distinções de classe significa abolirmos uma parte de nós próprios. Aqui me têm, um membro típico da classe média. É-me fácil dizer que gostaria de acabar conm as distinções de classe, mas quase tudo o que penso e faço é resultado dessas distinções de classe (…) Tenho de ser capaz de me transformar tão completamente que no fim dificilmente seria reconhecível como continuando a ser a mesma pessoa”

Divididos entre duas abóboras

“a ideia de Orwell é que os (pseudo) radicais invocam a necessidade da transformação revolucionária como uma espécie de símbolo supersticioso que acaba por conduzir ao resultado oposto, impedir que essa transformação realmente aconteça. Hoje o universitário de esquerda que critica o imperialismo cultural capitalista sentir-se-ia na realidade horrorizado perante a ideia do seu campo de estudos desaparecer. Adoptam por isso uma distância sarcástica em relação às nossas verdadeiras crenças” (Slavoj Zizek)

as opiniões de esquerda do “intelectual” médio são em grande parte espúrias. Por puro espírito de imitação troça de coisas nas quais de facto não acredita. Como exemplo entre muitos, pensemos no código de honra dos colégios internos caros, com o seu “espírito de equipa”, o seu “não se bate num homem caído” e todos os restantes chavões do mesmo género. Quem não se riu desse código? Quem, de entre os que se consideram “intelectuais”, ousaria não rir? Mas as coisas são um pouco diferentes quando encontramos alguém que se ri dele do lado de fora; é do mesmo modo que passamos as nossas vidas a dizer mal do nosso país (no caso, a Inglaterra), mas ficamos extremamente irritados quando ouvimos um estrangeiro dizer exactamente as mesmas coisas (…) Só quando encontramos alguém com uma cultura diferente da nossa, começamos a dar-nos conta do que são realmente as nossas crenças

George Orwell, The Road to Wigan Pier”, 1937

(1) leitura recomendada:
"da Insolência à Obediência - Alterações nas atitudes dos despossuídos (1900-1945)" Eduardo Cintra Torres
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