"Pela fé, abel ofereceu a deus um sacrificio melhor do que o de caim. por causa da sua fé, deus considerou-o seu amigo e aceitou com agrado as suas ofertas. e é pela fé que abel, embora tenha morrido, ainda fala"
Hebreus, 11,4,
Livro dos Disparates
e o senhor disse a
caim: «Porque estás zangado e de rosto abatido? Se procederes bem, certamente voltarás a erguer o rosto; se procederes mal, o pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo»
”
a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”, o maior embuste alguma vez vendido à Humanidade “é um mau exemplo, trata de perseguições, incesto, assassínios”. Terá
Saramago razão apenas nestes pontos? então e o resto, a fraude monumental? – dito de outro modo,
a Biblia é uma colecção de histórias romanceadas pelos Poderosos que inventaram Deus para controlar a mente e o corpo dos que não se submetem à servidão
“The Bible?
it is full of interest. It has noble poetry in it [and]
a wealth of obscenity.” (Mark Twain) - procurem então os simples e bem intencionados a poética, ou a parte divertida dos textos, que as há em abundância, e passemos ao making-of do Livro, porque mais urgente é decerto
compreender a obscenidade Na colecção de manuscritos que vêm compondo a Bíblia os primeiros conhecidos datam do ano em que o
bispo Eusebio de Vercelli (283-371) os mandou garatujar. Tinham então, nessa época, este aspecto
deveras incisivo e concludente:

Estes escritos primitivos, inspirados em contos de tradição oral chamados “
as Boas Novas” (traduzindo: os “Evangelhos”) foram passados a caracteres escritos cerca do ano 180 DC, e começaram a ser chamados
Codex Vercellensis estando guardados na Catedral de Vercelli, perto de Milão. Fazem parte da colecção de manuscritos conhecidos por “
Vetus Latina” o nome dado a textos em latim antigo mais tarde compilados na versão da
Bíblia de São Gerónimo (382-405 DC) que, finalmente, constituem o
modelo standart usado pelos cristãos falantes de línguas latinas no Ocidente. Se visitarmos a Igreja Ortodoxa Bizantina, na Grécia, na Turquia ou na Rússia, existem outras fontes e ícones mitológicos para a mesma presumível passagem de um personagem chamado Cristo pelo planeta.

Existe um herói análogo na
mitologia helenista da Sirach que inspirou a escrita da epopeia do argonauta
Jason. Porém num intervalo de oportunidade, como dizem os gestores contemporâneos,
o nome do velho Jesus faz a sua aparição em cena:
No principio do século V a versão definitiva da dita Bíblia passou a ser conhecida por
a Vulgata, cuja escrita foi comissariada pelo
Papa Dâmaso I (366-384 DC) – um patrício (posteriormente
passado a Santo) que ficou também famoso pelo cognome 'matronarum auriscalpius' por ter convertido as “grutas sagradas” de Roma em bordéis – tudo isto durante o processo da cisão entre o Concilio de Niceia (325 DC) e o Concilio de Constantinopla (381 DC)
São Gerónimo no seu escritório; uma tela encomendada
pela ICAR a Domenico Ghirlandaio nos bons tempos do
Renascimento quando ainda havia rentabilidade no negócio

Mas foi a re-escrita da chamada
Bíblia do Rei Jaime (
King James Bible) em Inglaterra no século XVI (
1611) que incluía “os evangelhos” considerados apócrifos pela reaccionária Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), que veio trazer um novo incremento à lenda que transmitia a mensagem humanista da passagem de (Jesus) Cristo pela Terra.
Expurgada da palha esotérica de origem latina, a interpretação que foi dada pelos padres anglicanos aos preceitos de conduta advogados pela prática do cristianismo era de tal forma poderosa que, muitos consideram, foi a perspectiva de prática efectiva desses mandamentos que conduziu directamente à
primeira grande revolução social na Europa:
a Revolução Inglesa de 1640 liderada por Oliver Cromwell na distribuição de terras aos deserdados dos feudos e na contenção aos privilégios dos novos burgueses
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