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sexta-feira, novembro 20, 2009

História da Arte, da Indústria e da Finança

a banalidade da vida sob a oligarquia Czarista. 1881
"Manhã de Execuções em Steltsy" Vasily Ivanovich Surikov
Galeria de Estado Tretiakov, Moscovo

(clique na imagem para ampliar)

Marc Chagall, "o Anjo Daniel"
Catedral de Mainz, Alemanha

América do Norte, 2009. Deslocando-nos para noroeste pelo vale do Hudson a cerca de 40 minutos do centro de Manhattan existe uma capelinha na pequena localidade de Pocantico Hills que é uma completa surpresa para o desprevenido visitante. A Union Church adquire notoriedade pelo vitral sobre a porta de entrada encomendado em 1954 a Henri Matisse e por um outro conjunto de 7 vitrais no interior da igreja sob o tema biblico de “o bom samaritano” do antigo testamento que foram desenhados posteriormente por Marc Chagall. A história de como foram ali parar estas preciosidades é, sem tirar nem pôr, a história do próprio século XX, do seu desenvolvimento económico e politico, e de como no rasto emocional que a Arte encomendada vai deixando, existe todo um mundo subterrâneo, invisível.

A igreja foi mandada construir por John D. Rockefeller Jr. no começo dos anos 20 e os vitrais por Nelson Rockefeller em homenagem à matriarca Abby Aldrich Rockefeller (1874-1948). Situa-se numa propriedade que cobre 14 quilómetros quadrados que tiveram como uso original albergar a residência de campo da família Rockefeller, tendo para o efeito ali sido construído um palácio com 40 quartos. Por alguma razão a localidade de apoio junto ao lago contíguo foi baptizada de Valhalla, o mítico nome do castelo dos deuses na mitologia germânica - os Rockefellers são originários da localidade alemã de Ehlscheid, Segendorf no Palatinato. Foi ali que nasceu o primeiro ascendente conhecido da familia, Gotthard Rockenfellder cerca de 1590, emigrando os descendentes para a América durante o século XVIII onde viriam a adquirir fortuna. Seria contudo no virar para o século XX que a família se tornaria ainda mais multi-milionária, com a expansão industrial assente sobre a energia petrolífera e a fundação da Standard Oil Corporation (hoje um conglomerado liderado pela Exxon-Mobil) que rapidamente atingiu o monopólio global.

Marc Chagall, O Judeu Verde, 1912

Em 1961 o então presidente do Chase Manhattan Bank visitou Paris em viagem de negócios e a sua mulher Peggy espantada com a virtuosidade da cor de uma exposição destinada à sinagoga Hadassah da Universidade Hebraica do Centro Medico de Jerusalem sonhou encomendar os vitrais para Pocantico Hills. Noutra viagem a Cannes na Riviera francesa em 1963, no âmbito da reunião anual do Grupo Bilderberg, Peggy encontrou-se finalmente com o artista na sua morada em Vence. Chagall tinha sido um dos últimos artistas judeus a serem salvos pelo Comité de Resgates de Emergência, uma associação fundada com fundos dos Rockefellers a partir dos anos 30 até finais da II grande guerra

Moishe Zakharovich Shagalov nasceu em Vitebsk, hoje na Bielorrússia em 1887. Estudou em Paris ligando-se ao mundo de fantasias da linguagem modernista, derivada do fauvismo e do cubismo, fazendo parte de grupos de artistas que integraram Blaise Cendrars, Max Jacob e Apollinaire e aos pintores Delaunay, Modigliani e La Fresnay. Quem resistiria ao século de Picasso? ao apelo de uma pintura que cada vez os proletários compreendiam menos e cada vez a burguesia pagava mais cara?

Marc Chagall, "Passeio Público"
1917. Museu do Estado Russo, São Peterburgo

Em 1908 Moishe Shagalov assumiu o cargo de director da Academia de Arte de Petrogrado e durante a I Grande Guerra, foi nomeado Comissário das Artes de Vitebsk, ali permanecendo até 1922, No período de refluxo da Revolução Russa, em plena guerra civil, entrou em confronto com Kasimir Malevich, acabando por se demitir do cargo, decidindo voltar a Paris onde tinha estudado antes. Moishe Zakharovich Shagalov, um judeu convicto, um russo branco contra revolucionário expatriado, assume então a ocidentalização do nome para Movsha Shagal, popularizado de imediato para Marc Chagall. Enquanto na Rússia se lutava por uma sociedade nova, a tribo artística de Paris celebrizou-se por levar uma rica vida de putas et chateau noveau salvo percalços dramáticos de penúria como a Mimi das mãozinhas geladas em La Boheme, decerto uma divertida invenção de Puccini em 1896 (aqui por Pavarotti e Cotrubas noLaScala), que permite um breve intermezzo na leitura para nos distrairmos um pouco do essencial noutra forma de Arte:



Chagall, A Guerra, 1915

Fugidos da miséria, das perseguições religiosas, do anti-semitismo, por fim dos horrores da 1ª grande guerra de 1914-18 e das subsequentes convulsões sociais entre o fim do século XIX e o principio do século XX muitos milhões de russos, eslavos, prussianos, alemães, húngaros e ucranianos da região centro-nordeste da Europa, , emigraram para a América, até à entrada em vigor da lei de limitação da imigração de 1924. A grande maioria eram judeus, o que não é surpreeendente, uma vez que segundo dados demográficos da época 73,8% - ou seja 9 010 milhões de pessoas - da população nessas regiões era de etnia semita, enquanto nos Estados Unidos, depois de estabilizado o ciclo, os judeus viriam a constituir 13,5% da população judia no mundo, ou seja 1 milhão e 522 mil pessoas a viver nos EUA.

Operárias judias no Garment District NY manifestam-se
pelo fim da escravatura de crianças nas fábricas

Desde 1840 mais de 16 milhões de imigrantes, maioritariamente originários da Irlanda, Escandinávia, Alemanha e Itália tinham aumentado a população dos EUA para um total de 82 milhões de habitantes em 1900. É nesta primeira vaga que chegam os alemães Rockenfellers que fundam a indústria petrolifera, e as famílias judias Guggenheim que monopolizam a indústria mineira e o ramo americano dos judeus alemães Rothschilds de Frankfurt que monopolizam o negócio de crédito bancário. A história dos judeus nos Estados Unidos foi influenciada pela 2ª vaga de imigração a partir da Europa. Se a 1ª vaga se tornou milionária nas indústrias primárias, a 2ª vaga, em busca de oportunidades económicas teve de enfrentar o mesmo clima de anti-semitismo que continuou a prevalecer; muitos tornaram-se mercadores e donos de lojas, mas a maioria enfrentou duras condições proletarizando-se numa sociedade sem quaisquer direitos. Foi o medo desta massa imensa de operários e o receio que ali viesse a acontecer o mesmo que acontecia na revolução bolchevique na Rússia que levava a uma descomunal campanha anti-comunista nos EUA

Milicias civis anti-greve contratadas pelo patronato.
1914. A viatura está equipada com uma metralhadora

Para se compreender o que era a luta de classes na América do Norte é preciso invocar o ataque aos trabalhadores mineiros da Colorado Fuel & Iron Company propriedade dos Rockefellers e de outras companhias de cobre (dos Guggenheim) ou da Rocky Montain da francesa Josephine Roche que haveria de deixar a administração para se tornar governadora do Estado do Colorado. No dia 20 de Abril de 1914, cerca de 1200 trabalhadores tinham decretado greve e estavam paralisados nos seus alojamentos em Ludlow. Sobre um qualquer pretexto as brigadas armadas do patronato conjugadas com as forças da guarda nacional entraram pela localidade e dispararam indiscriminadamente sobre os operários e as suas famílias. O episódio ficou conhecido como o Massacre de Ludlow. De um modo geral exemplificou a ausência de contratos de trabalho e o clima de repressão generalizada que percorria toda a América nessa época.

Guggenheim Museum, NY, 1959

De acordo com o jovem hegeliano Bruno Bauer, os objectivos religiosos são incompatíveis com a ideia de "direitos do Homem." A emancipação política verdadeira, para Bauer, requer a abolição radical da religião. Marx argumenta que Bauer está equivocado na sua suposição de que num "estado secular" a religião não iria desempenhar um papel proeminente na vida social, e como exemplo refere a persistência da religião nos Estados Unidos. Observando este estado concreto das coisas, ao escrever em 1843 sobre a questão judaica Marx chegaria à conclusão que os judeus se integrariam sempre nas sociedades destino das suas migrações, como antes tinham feito na Prússia e depois na Alemanha. Numa perspectiva de classe, os ricos sim, integram-se, porém a grande massa dos deserdados pobres que aspiram à emancipação são perseguidos e excomungados como uma ameaça séria à capacidade de acumulação capitalista. Com a vitória da Revolução Proletária russa, o clima geral era de alarme perante a possibilidade da doutrina Comunista vir a destruir a oligarquia instalada. É neste contexto que nos Estados Unidos devem ser encarados os escritos anti-semitas do industrial Henry Ford publicados entre 1919 e 1927 no The Dearborn Independent, jornal que também tinha publicado anteriormente “Os Protocolos de Sião”. Os artigos foram mais tarde reunidos e publicados num único livro pelo Ku Klux Klan a organização racista que dominava os Estados do Sul em nome da defesa da Bíblia, da Bandeira e da Constituição ultra liberal e que em meados da década de 1920 reclamava ter 4 milhões de membros.

""Soldado Ferido"", Movsha Shagal
1914 Galeria Tretiakov, Moscovo

Quando a União Soviética conseguiu finalmente estabilizar-se o assunto desapareceu do mapa. Prosseguiu por outros meios através do Movimento Sionista que tinha sido fundado em 1898 em Basileia na Suiça por Theodor Herzl, um notável rabbi húngaro que foi prontamente apoiado por toda a oligarquia norte americana, com os capitais dos Rothchilds, Guggenheims e Rockfellers a assumir uma importância decisiva da ideia da fundação de um Estado Nacional independente para os judeus. Duas grandes guerras depois, na mesma rua de Basileia apoiando a expansão do Estado Religioso de Israel seria fundado o International Credit Bank (ICB) dirigido pelo dr. Tibor Rosenbaum que mais tarde haveria de escandalizar as ingénuas virgens honestas europeias do pós-guerra perante os continuados escândalos de corrupção. Actualmente a verdadeira questão não é a questão judaica; é a natureza do Poder e da Corrupção instalada pela doutrina Sionista

(continua um dia destes)
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