Pesquisar neste blogue

quinta-feira, maio 24, 2012

Ladri Di Biciclette

Depois de muitas tentativas goradas, no catastrófico cenário de destruição do pós-guerra em Itália, Antonio Ricci consegue um emprego como colador de cartazes,

para o qual é condição indispensável , possuir uma bicicleta, mas ele e a sua família, há meses na miséria, tinham empenhado a sua única bicicleta. Assim que conta à mulher a perspectiva de emprego, esta decide penhorar os lençóis de sua cama para poder levantar a bicicleta para o marido poder trabalhar. Mas, para piorar a situação, no seu primeiro dia de trabalho, a bicicleta é roubada, simbolicamente no preciso momento em que colava um cartaz de uma starlette do cinema americano



Ladrões de Bicicletas, um filme de Vittorio di Sica de 1948, é a história desse pobre pai de família desempregado que, sem a bicicleta que é o seu instrumento de trabalho, perderá o emprego e voltará à condição de desempregado sem futuro previsível. A bicicleta assume-se como metáfora da tecnologia que se interpõe entre o individuo e as suas condições vitais de sobrevivência. Torna-se necessário submeter-se ao fetiche do uso dos meios de produção que não possui nem controla para que o operário tenha acesso ao trabalho assalariado. A burguesia coloca o proletariado em disputa entre si: “se você tem uma bicicleta, eu também tenho!, o emprego pode ser meu!”. Marx e Engels na Ideologia Alemã descreveram a situação: “Esta contingência apenas é engendrada e desenvolvida pela concorrência e pela luta dos indivíduos entre si. Assim, na sua imaginação, os indivíduos parecem ser mais livres sob a dominação da burguesia do que antes, porque as suas condições de vida parecem acidentais; mas, na realidade, não são livres, pois estão mais submetidos ao poder das coisas



Face à fatalidade Ricci decide então denunciar o roubo junto à polícia, que não o leva a sério, aconselhando-o que a procure ele mesmo. Com o seu pequeno filho Bruno ao lado, ele começa então a difícil tarefa de localizar a bicicleta pelas movimentadas ruas de Roma. Nessa caminhada desfila então aos olhos do espectador de forma documental o verdadeiro estado das coisas no país inteiro: a crise económica, o desemprego, a superstição, a miséria e a promiscuidade. No final, num momento de desespero, Ricci tenta roubar uma bicicleta da porta de uma fábrica, sem sucesso, sendo preso e humilhado à vista do pequeno Bruno...

"Ladrões de Bicicletas" é uma obra única de puro realismo, um documentário rodado ao vivo com amadores. Genuíno, descrevendo situações do dia-a-dia, de personagens comuns vividas por actores não-profissionais, filmado nas ruas, sem recursos nem efeitos de estúdio. O cenário é o da fome, da penúria - a vergonha da criança por ser pobre é confrangedora – é o ser humano face à perda de dignidade, impotente perante situações de irracionalidade. Óscar de melhor filme estrangeiro é uma obra prima incontornável. Um dos grandes clássicos do cinema. Passa hoje na Cinemateca. Mas, para quem não puder ver em formato de sala, há uma versão completa no you-tube
.

2 comentários:

Anónimo disse...

FIXE!!!
A realidade não supera a ficção.

Anónimo disse...

Uma conversa que passou por aqui há uns meses, sobre o oiro negro:

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=petroleo-gas-natural-nao-fosseis&id=010115090803

http://sandcarioca.wordpress.com/2012/05/22/renascimento-do-petroleo-promete-mudar-mapa-geopolitico-da-energia/