Pesquisar neste blogue

terça-feira, novembro 26, 2013

Eanes, o 25 de Novembro, o sequestro dos Media, os lucros da facção Militar vencedora ao aliar-se ao Complexo Industrial-Militar norte-americano

Uma semana antes do golpe vivia-se um clima de grande agitação social. Ao nivel do poder lutava-se por posições no campo estratégico e táctico, alguns militares que haviam sido os vencedores no 11 de Março foram levados para os calaboiços, junto com civis de esquerda, quando esta ainda merecia o nome. É neste parêntesis que estala a crise no jornal "O Século", cuja direcção e redacção são destituidas como reaccionárias em votação da esmagadora maioria dos trabalhadores do jornal - que por seu turno pretendiam entregar a chefia a Roby Amorim, um prestigiado jornalista afecto à linha politica do Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP).
 O jornal duraria apenas mais dois anos, encerrado em 1977 com uma cínica parangona escrita por Ramalho Eanes e um editorial que filosofava sobre o abate do jornalismo competente e honesto, atribuindo as causas, enfim, "a coisas da condição humana"...

Comemora-se os 38 anos do golpe de estado reaccionário que assassinou a Revolução dos Cravos. Não deixa de ser sintomático que Ramalho Eanes, um dos autores do golpe seja homenageado nesse preciso dia numa cerimónia que contou com a classe dominante em peso, tais como o patrão da Sonae, a Mota Engil, a oligarquia política, certas individualidades do "sistema", enfim, os "vencedores", aqueles que mais beneficiaram com a contra-revolução instaurada a 25 de Novembro de 1975. Uma das priomeiras medidas de Eanes quando se apanhou General foi a de transferir o Fundo Militar do Ultramar que geria as verbas envolvidas nas campanhas militares da guerra colonial (geridas até aí pelo Estado) para o âmbito restricto do Estado Maior General das Forças Armadas (onde o Estado, por exemplo, pela mão do ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, não metia o bedelho)

O envolvimento de Portugal no escândalo do tráfico de armas "Irão-Contras", Camarate (1), e o capitulo censurado e apagado da "investigação" oficial norte-americana (2)

Rumsfeld, Ford, Cheney, Reagan, Herbert Bush, Ford, Rumsfeld, Bush, Cheney
Robert Parry no seu livro “Neck Deep: The Disastrous Presidency of George W. Bush" faz novas e fundamentadas revelações sobre o escândalo Irão-Contras (1983-1988) concluindo que este foi o programa piloto para os Neocons usurparem os Governos através do buraco negro das Vice-Presidências não eleitas – que representam o partido da Guerra, das Corporações e de toda a espécie de patifes com mundovisões de extrema-Direita. Nesta entrevista, o autor realça as provas apresentadas pela própria CIA quando esta agência governamental admitiu tolerar o tráfico de droga trocada por armas a partir da Nicarágua. O que em tempo lhes valeu o acrónimo CIA, Cocaine Import Agency. Ironias aparte, é de salientar os efeitos de tudo isto a longo prazo, verificando que tanto o criminoso Dick Cheney (vice-presidente de George W. Bush) como o comparsa Donald Rumsfeld já eram chefes-de-gabinete dos presidentes Gerald Ford em 1975 e de Ronald Reagan em 1981. Recorde-se que Ford foi o presidente cujo primeiro acto foi perdoar a Nixon as consequências do processo criminal por envolvimento no caso Watergate; e Reagan o presidente que afirmou pela boca de Cheney “que os défices orçamentais não interessam para nada” (deve ter sido daqui que o nosso José Sócrates encornou a sua filosofia); então estratégia económica inaugural do Neoliberalismo, (politica que já havia sido testada com êxito em 1973 no Chile de Pinochet)

Ramalho Eanes foi o primeiro peão de brega a aceitar colocar Portugal na órbita de interesses de assassinos transnacionais, negociando com o Pentágono, por uma década, o alinhamento com a estratégia da Nato - o que coloca os portugueses na qualidade de contribuintes liquidos para as guerras do Império, ou seja, na prática os Estados Unidos cobram-nos um imposto directo como súbditos. Com que interesses corporativos concretos nos cobrou anos a fio de austeridade  não sabemos. Só sabemos que Eanes recusou um  milhão de euros graciosamente oferecidos pelo PS que lhe eram devidos em retroactivos de reforma como general. O que significa que não está na mesma condição miserável de 3 milhões de portugueses, com outros tantos a caminho da pobreza. Portanto Eanes, o homem de mão do golpe militar de 25 de Novembro de 1975, o mandatário da candidatura de Cavaco Silva (3) à presidência da República, quando se entrega à técnica aprendida com os jesuitas de Navarra de se comover em público e chorar lágrimas de crocodilo na sua homenagem... só nos pode dar vontade de rir.
(1) o Affair Irão-Contras, a Revolução Islâmica e a Crise dos Reféns norte-americanos, explicada pelo insuspeito New York Times 
(2) Muito oportuno, "Eanes diz existirem documentos nos EUA que podem trazer luz sobre Camarate", mas não indica as fontes de que dispõe para produzir tal afirmação. Terá sido o secretário de Estado George Schultz na Base Militar de Andrews ou George Herbert Bush que então era director da CIA, de seguida foi vice-presidente de Reagan, e depois Presidente tendo nessa qualidade recebido a Cavaco Silva em visita particular? (uma honra concedida a muito poucos)
(3) a levar em linha de conta:
"Os elogies de Eanes a Cavaque há exactamente três anes.."

Sem comentários: