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segunda-feira, janeiro 22, 2007

Conhecimento, Universidade e o cinema da Não-Ilusão

Sigamos os festejos de fim de curso, a apoteose triunfal do jovem idealista recém formado em Harvard no final do seculo XIX, protagonista da saga “As Portas do Céu” (“Heavens Gate”, Michael Cimino, 1981) que, poucos anos mais tarde, se vê dramaticamente lançado na luta fraticida pela conquista de espaço vital no Oeste americano. Supunhamos que, por entre a balbúrdia de negociantes, batoteiros, agiotas sem escrúpulos, prostitutas, rendeiros foragidos da fome, administradores públicos corruptos, fazendeiros racistas, o nosso herói consegue hibernar por 100 anos e acordar neste nosso primórdio do século XXI; abrindo os olhos estremunhados, está de volta – e o que vê ele? – Homens e mulheres afadigam-se falando ininterruptamente por pequenos aparelhos metálicos presos nas orelhas. Os putos sentam-se em sofás esgrimindo miniaturas de atletas em ecrans electrónicos esverdeados. Os mais velhotes tentam enganar a morte aplicando aparelhómetros de metal ou plástico dentro das carcaças. Passando por aeroportos, hospitais e centros comerciais, toda uma panóplia de sinais lhe desviam a atenção. Sente-se atarantado. Mas quando o nosso rapaz, agora cem anos mais velho, entra de novo numa sala de aula, ele reconhece onde está: “Isto é uma escola!” – o professor satisfaz-lhe a curiosidade: sim, apenas os quadros em vez de ser feitos de ardósia, são estes monitores, “agora usamos toda esta parafernália tecnológica para termos possibilidade de ver e estar de volta a 1900

Sim, hoje, a moderna capacidade de repetição das imagens, trabalhando-as sobre a História dá-nos a possibilidade de vermos o passado sempre como presente e não como “reconstituição”; ou como sugere João Mário Grilo no seu fabuloso ensaio, a possibilidade de fazermos o “Cinema da Não Ilusão

Efectivamente, lá fora, hoje mesmo, em Janeiro de 2007, continua a estar presente a mesma balbúrdia de negociantes, pistoleiros sem escrúpulos, prostitutas, jogadores compulsivos, rendeiros foragidos da fome, administradores públicos corruptos, fazendeiros racistas e cow-boys alugados como mercenários, todos juntos tentando a golpes de força desbravar novos territórios, conquistando-os tal como o general Custer, ontem os tinha conquistado aos selvagens. E como, voltando à escola:

constata-se que a principal prioridade na ocupação do Iraque como baluarte fortificado de dominação de todo o Médio Oriente, é justamente a construção de uma super- universidade *, não em Bagdad onde a zona verde se apresenta com o odioso ónus da ocupação, mas a salvo mais a norte nos terrenos mais pacíficos de Sulaimaniya.


Visto pelo lado contrário, da construção versus destruição, compreende-se assim que os alvos dos maiores atentados no Iraque sejam agora os representantes da cultura que se pretende destruir: o assassinato cirúrgico e sistemático de professores universitários, como os 29 mortos na semana passada no massacre de al-Mustansiriya, de bibliotecários e cientistas, na mesma senda do premeditado saque inicial em 2003 dos museus e do património histórico. A universidade de al-Mustansiriya acolhe 24.000 estudantes em três facultades e já tinha sido alvo de outro ataque massivo no ano passado.

No seio dos novos colonos do século XXI a mentalidade que se pretende deixar como herança, depois do extermínio dos índios, continua mais actual do que nunca:
Torcida pelo show-biz logo desde pequenina, a filha de Steve Irwin, (a América é pátria de acolhimento e a maior concentração de heróis de sempre) decerto preparada para vir a ser uma boa aluna nestas coisas de universidades clássicas, junto com a mãe Terri no National Press Club, declarou esta semana na TV (where else?), na inocência dos seus 8 anos, taxativamente: “O meu pai era um guerreiro indomável e eu irei continuar o seu trabalho











Lista dos docentes universitários assassinados no Iraque desde o inicio do periodo de ocupação
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1 comentário:

Anónimo disse...

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