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domingo, janeiro 14, 2007

Num pequeno livro sobre a missa televisiva Pierre Bourdieu desmonta os mecanismos da censura invisivel que se exerce sobre o pequeno ecrã e revela alguns dos segredos da fabricação das imagens e dos discursos da televisão; explica como este meio de comunicação, dominando o mundo do jornalismo, alterou profundamente o funcionamento de universos tão diferentes como os da arte e da literatura, da filosofia e da politica, da justiça e da ciência, submetendo-os à lógica das audiências. (que votam)














Ser
, dizia Berkeley, é ser percebido,

mas para os politicos neocon do establishment é "ser-se visto na televisão"; e isto é igualmente válido para os ideólogos que lhes redigem os discursos - pouco podendo contar com a sua obra para existirem na continuidade, eles não têm outro recurso senão aparecer com a maior frequência possivel no ecrã e, portanto, escrever a intervalos regulares, e tão curtos quanto possivel, “obras” que, como observava Gilles Deleuze, têm por função principal assegurar aos seus autores convites para aparecerem na televisão. É uma pescadinha de rabo na boca.

As grandes cadeias de “informação” são propriedade dos grandes interesses multinacionais – a NBC é propriedade da General Electric, a CBS é propriedade da Westinghouse, a ABC é da Disney Corporation, a TF1 é detida pelo sr. Bouygues dono da maior construtora francesa, a SIC é propriedade do representante português do Grupo Bilderberg, já para não citar o magnata Murdoch que é dono de tudo o resto.
É evidente que há muitissimas coisas que os Governos não farão se sentirem que os interesses de toda estas individualidades, que afinal lhes financia os seus partidos, possam ser minimamente beliscados por “noticias” ou opiniões desalinhadas.
São factos tão gritantes e grosseiros que a crítica mais elementar se apercebe deles, mas que escondem os mecanismos anónimos, invisíveis, por meio dos quais se exercem as censuras de todas as ordens que fazem da televisão um formidável instrumento de conservação da Ordem (deles).

Só o que é visivel existe. O que não aparece na televisão não existe

O programador da RTP, o beato Nuno Santos, inaugurou o seu mandato sendo recebido oficialmente pelo Papa). Obviamente é um homem de mão que cumpre directivas. Desaparecendo a oportunidade dos Partidos, (mesmo com os seus discursos condicionados), e das associações da Sociedade Civil sem representação parlamentar, usufruirem do serviço público em horário nobre, desaparece a Politica do espaço público. Imagine-se até a simples probalidade deste post poder alguma vez ser recitado em directo nalguma tv como principio de um qualquer reality show – ou, mais concretamente, note-se a miserável politica de transmitir o “Ouro do Reno” (uma produção milionária do Teatro São Carlos paga pelo sponsor exclusivo: o Millennium BCP da Opus Dei) às duas e tal da madrugada de um domingo. Seria mesmo com a preconcebida intenção? para que o menor número possivel da vulgar plebe visse a peça televisionada? – no entanto a magistral encenação de Graham Vick existiu - e, por acaso, até era um poderoso libelo contra a guerra e os poderosos que a determinam. Sim, ninguém pode dizer que, em Portugal, a Politica não existe.Claro que estas coisas existem! Mas, para ser vistas apenas pelas élites, os poucos que frequentam o São Carlos, que são parte integrante e/ou suportam o Poder – pessoas insusceptiveis, portanto, da possibilidade de serem corrompidos – ao contrário dos muitos, que não se podem dar ao luxo de serem noctivagos para ver a RTP, porque têm de ir vergar a mola logo bem cedinho às segundas feiras de manhã,



para aprofundar o tema, de e sobre Pierre Bourdieu:

* "Sobre a Televisão"

* "a TV precisa de um contrapoder"

* "A ciência do real"
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