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quinta-feira, maio 15, 2008

60 anos de realidade histórica Israelo-Palestiniana

Os campos de refugiados árabes Palestinianos

Há 60 anos atrás, um pequeno rapazinho de 12 anos foi testemunha da destruição da sua família inteira. O seu nome é Fahim Zaydan e vivia na aldeia árabe de Deir Yassin na Palestina sob mandato britânico, a qual foi atacada no dia 9 de Abril de 1948 (sob o comando de Menachem Begin) por grupos armados do Irgun e por milicias dos grupos terroristas Stern Gang (ou Lehi, um resquicio do nazismo), ambas forças paramilitares ilegais aliadas à extrema direita do movimento Sionista que praticava actos subversivos contra as forças de ocupação da Grã Bretanha, enquadrados pelo “exército regular” da Agência Judaica, o Haganah. Os homens armados entraram de rompante na aldeia, montaram as metralhadoras e começaram a disparar indiscriminadamente contra a população civil. Todos os habitantes que sobreviveram ao ataque inicial foram então forçados pelos paramilitares a sairem das suas casas e a abandonarem a aldeia.

Como esta, centenas de outras povoações árabes foram ocupadas e a sua população expulsa. Tinha acontecido o mesmo em Jaffa, também em Abril, quando 50 mil dos seus habitantes árabes tiveram de fugir, aterrorizados pelo bombardeamento da artilharia do Irgun. Os Estados Árabes apenas intervieram em 15 de Maio de 1948 em auxilio de alguns milhares de combatentes palestinianos mal armados constituidos por voluntários do incipiente Exército de Libertação de Fawzi Al-Qawuqji, apostados em impedir que Israel e a Transjordânia dividissem entre si o território destinado ao futuro Estado da Palestina segundo o Plano de Partilha das Nações Unidas de 29 de Novembro de 1947.
Em apenas alguns meses, várias dezenas de massacres e de execuções sumárias foram recenseadas; 531 aldeias (num total de mil) destruídas ou reconvertidas para acolher imigrantes judeus; onze centros urbanos etnicamente mistos foram esvaziados dos seus habitantes árabes. Os palestinianos de Ramleh e de Lydda, cerca de 70 mil pessoas, incluindo crianças e velhos, foram expulsos em apenas algumas horas em Julho de 1948 segundo instruções de David Ben Gurion. Estes factos são referidos nas memórias (posteriormente censuradas) do ex-ministro Yitzhak Rabin à época oficial superior encarregado com Ygal Allon da operação de limpeza étnica.

Desde esse momento inicial da fundação de Israel, 750 a 800 mil árabes alojados em tendas e em grutas vaguearam pelo deserto descrevendo círculos, impedidos de retornar à sua terra, aquela que era a sua terra prometida onde eles e os seus avós tinham nascido. Acabaram por se fixar precariamente em “campos de refugiados” nos paises vizinhos onde ainda hoje permanecem.
A “transferência” (um eufemismo usado oficialmente para designar a expulsão) dos árabes autóctones (que na época eram duas vezes mais numerosos que os judeus, a maioria imigrante recente por via do Plano alemão Havaara) para fora das suas fronteiras obsecava os espiritos dos dirigentes sionistas. O Fundo Nacional Judaico apoderou-se de 300.000 hectares de terras propriedade de árabes no essencial entregues aos kibutzes. A 11 de Dezembro de 1948 a Assembleia Geral da ONU votou a resolução sobre o “direito ao regresso, ao mesmo tempo que o Governo Israelita publica a Lei de Emergência relativa à “propriedade dos ausentes” que legaliza a anterior disposição de Junho sobre o “cultivo de terras abandonadas”. Depois da depuração étnica e as atrocidades cometidas, a espoliação dos bens, tudo isto sob o enorme silêncio da comunidade internacional.

Estima-se que entre os habitantes originais de há 60 anos e os seus descendentes a população total que reclama o direito de regresso ultrapassará hoje 2,5 milhões de árabes. É deste material humano formado no ressentimento que se alimenta aquilo que a propaganda pró-sionista chama a “Jihad Islãmica”. Sobre isto, e o facto natural de os partidos genuinamente palestinianos ganharem sistematicamente as eleições (o Hamas e o Hezbollah), sabendo que o tempo joga também sistematicamente a seu favor Ehud Barak afirma que “Israel não tem parceiro para a Paz

São estes os factos ocorridos, “a vitória”, de que Israel celebra agora os seus 60 anos; vamos então deitar uma vista de olhos sobre o tipo de país que Israel realmente é – este é um filme a preto e branco, feito antes do Partido da Guerra Israelita ter tido sucesso em subverter o aparelho partidário dos Estados Unidos e os meios de comunicação, desde a imprensa aos audiovisuais. Quando se ouve a frase “campos de refugiados palestinianos” é este o significado, ano após ano, depois de centenas de milhares de Palestinianos, alvos de intimidação e violência, terem sido ilegalmente expulsos das suas terras para dar lugar ao nascimento da “nova nação” de Israel

Sands of Sorrow” (1950) – Um povo convertido pela força e pelo terror em vagabundos sem-abrigo
28min,33seg


Foi a isto que chamaram o "conflito israelo-árabe". Apenas com a roupa que traziam no corpo e os parcos haveres que conseguiram carregar, os refugiados pensaram que se trataria de uma situação provisória, porém, pouco a pouco, ela converteu-se em permanente. Os palestinianos foram deixados ao abandono sem comida, água, sem cuidados médicos, condenados à morte. Ainda assim continuando posteriormente a ser alvo de perseguições e massacres, como o de Sabra e Chatila durante a invasão do Líbano em 1982 comandada por Ariel Sharon, desencadeada com pretextos que depois se revelaram falsos.

“Guerra é Guerra” dizem os historiadores pró-sionistas, nomeadamente quando acrescentam, não sem cinismo, que “Ben Gurion deveria ter prosseguido a expulsão até ao último palestiniano” (Benny Morris). É sobre este crime primordial, sem reparação até aos nossos dias, que o editorialista do Público, no mesmo dia da pompa e circunstância da visita de Bush, despudoradamente opina que: “o minúsculo Estado de Israel, recém nascido e mal armado, conseguiu derrotar os diferentes exércitos invasores e expandir as suas fronteiras para lá da linha de partilha proposta pelas Nações Unidas”. É preciso ter lata!
A guerra de 1948 não foi, como aqui ficou demonstrado, e ao contrário do que se disse, um combate de “David contra Golias” – Segundo correspondência enviada em Fevereiro de 1948 a Moshe Sharrett, três meses antes da guerra israelo-árabe (e da data da independência), Ben Gurion admitia que “nós estamos em condições de ocupar toda a Palestina, não tenho sobre isso qualquer dúvida" (algumas semanas antes tinham recebido entregas macissas de armamento feito chegar, via Praga, pela União Soviética). O que não o impediu de proclamar constantemente que Israel estava ameaçado por “um segundo holocausto” (!!!)

Fontes
O Pecado Original de IsraelDominique Vidal (ligação)
The Birth of Israel, Myths and Realities(ligação)
Israel Confrontado com o seu PassadoEric Rouleau (ligação)
Le Monde Diplomatique” edição de Maio 2008 (ligação)
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