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terça-feira, maio 06, 2008

o comércio da Língua Portuguesa

Um conjunto de figuras de relevo ligadas aos mundos da cultura, politica e economia, subcrevem um texto contra o Acordo Ortográfico: Lobo Xavier e Rosado Correia do CDS, Eduardo Lourenço colaborador da FLAD, José Pacheco Pereira, Maria Alzira Seixo, Mário Cláudio, Paulo Teixeira Pinto (Opus Dei), Vasco Graça Moura, Vitorino Magalhães Godinho e Zita Seabra, etc. – as ideias base do manifesto são as seguintes:
“recusamos deixar-nos enredar em jogos de interesses, que nada leva a crer de proveito para a língua portuguesa. O uso oral e escrito da língua portuguesa degradou-se a um ponto de aviltamento inaceitável, etc.(...) a transcrição de palavras de outras línguas e a sua eventual adaptação ao português devem fazer-se ponderando cuidadosamente normativos (ou pareceres?) científicos internacionais” – ainda bem, porque assim evitar-se-ia que na própria notícia viesse referido “petição online” ou que o próprio manifesto se divulgue numa plataforma informática intitulada “petitions” (não há ninguém em Portugal que construa um sítio em linha internete, ou não há ninguém disposto a pagá-lo, uma vez que o objectivo é a hegemonia e a invasão cultural?) – então o interesse destes cavalheiros, como diriam os brasileiros, não é defender “porra nenhuma”, apenas se arrogariam ao privilégio exclusivo de escrever um português excelsamente puro (o deles, o estranho dialecto das élites reaccionárias) para o que contam com a revolução editorial em curso, em que os mega grupos empresariais internacionais têm vindo a comprar praticamente todas as grandes editoras nacionais.

Não é coisa que venha para ficar, mas Graça Moura diz que “é um fenómeno inevitável” – concorrer com a Bertelsmann (do Paulo Coelho) vender tijolos embonecados pelo grafismo hipnotizante novo rico do Grupo Leya (na verdade uma sucursal do grupo espanhol Planeta) terá a ver com palavras alinhadas segundo folclóricos critérios de imagem – mas nada a ver com a batalha das ideias, por isso o ex-gajo da inefável TVI, (esse mesmo, o Paes do Amaral) recusa que a Leya que adquiriu a Dom Quixote, a Texto, a Asa, a Caminho, Novagaia, e outras africanas para divulgação de cultura neocolonial, etc. participe em termos de igualdade na Feira do Livro – querem vender, em espaço àparte ricamente decorado, capas novelísticas com apelativas caras conhecidas da televisão e outras merdices, mas os portugueses ávidos de cultura vão continuar a virar-se para as pequenas editoras independentes, onde as ideias veiculadas em livros são as rainhas da festa – está no nome, a vedeta da feira é o Livro.

O medo que leva as élites (como se diz dos signatários do Manifesto: cultural, politica e económica) a tentar evitar o imperativo ético da memória encobrindo a luta de classes, se as palavras são tão poderosas como napalm (Dorothy Day) assim têm muito a temer, principalmente em termos de abertura livre às edições brasileiras – veja-se pela amostra do texto abaixo, um tema impossivel de ser tratado pelos sonsos monopólios editoriais num tipo de sociedade essencialmente indiferente e parasitária:

A irresistível intimidade entre religião e miséria

O único diferencial realmente indiscutível entre o processo de desenvolv- imento do Brasil e outros paises socialmente subdesen- volvidos e os Estados Unidos da América é a predominância do catolicismo nos primeiros e do protestantismo no segundo.
As teses mais populares para explicar a descomunal desigualdade entre o progresso dos países do terceiro mundo com o centro capitalista não resistem a um exame rigoroso. A tese clássica segundo a qual os anglo-saxónicos se iam instalar e “construir uma nova civilização” na América enquanto os ibéricos apenas queriam “explorar” a terra, na verdade reforça a hipótese que as duas culturas já eram diferentes no que se refere ao uso das riquezas disponíveis. A tese “racista” também não resiste ao problema de se definir porquê os anglo-saxónicos decidiram limitar a miscigenação enquanto os ibéricos a praticavam sem restrições. Afinal foram os europeus “vencedores” e “senhores” que impuseram a mistura ou não de raças, e não os índios nativos ou os africanos escravos.
Descartando-se outras hipóteses bizarras só nos sobra a religião como diferencial realmente importante. Mas por quê os protestantes seriam mais propensos para o desenvolvimento econômico? Com certeza isso não se explica por discussões bizantinas sobre o culto aos santos ou à virgem Maria. Então a explicação de Max Weber para o maior sucesso económico dos luteranos, calvinistas e outros protestantes, seria o facto de que eles acreditam que ganhar e poupar dinheiro são virtudes que agradam particularmente a Deus. Os católicos seriam mais displicentes porque a Igreja considera o lucro como pecado. Nesse caso, os católicos considerariam correcto trabalhar apenas o suficiente para ter como se sustentar. A constante falta de excedentes, provocaria o quadro crónico de miséria, tão nosso conhecido na América Latina.
a “iluminação” de Lutero foi buscar a solução à epístola de São Paulo aos romanos (matéria das suas aulas entre 1515 e 1516). Lê-se no 17º verso do primeiro capítulo: “Pois ai está à justiça de Deus revelada de fé em fé como está escrito, o justo viverá da Fé”. – é exactamente aí que radicam as razões do nosso atraso, na Fé que nos conduziu submissamente ao destino de sustentar descomunais elites improdutivas. O que é particularmente injusto.

(este é um resumo “traduzido” e adaptado do brasileiro, cujo original pode ser lido integralmente aqui)
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