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segunda-feira, março 06, 2006

a propósito de cucos,

,,, uma pequena parábola do leitor António Sarmento, do Porto, publicada num jornal esta semana,

O cuco que não queria comer as couves


Era uma vez um cuco que não queria comer couves. Chamou-se o polícia para prender o cuco. O polícia não quis prender o cuco. Chamou-se o juiz para obrigar o polícia. O juiz não quis obrigar o polícia. Chamou-se a lei para obrigar o juiz. A lei não quis obrigar o juiz. Chamou-se o deputado para mudar a lei. O deputado não quis mudar a lei. Chamou-se o cidadão para mudar o deputado. O cidadão não quis mudar o deputado. E o cuco fugiu sempre a dizer: couves não hei-de eu comer! Acabou por ser o cidadão a comer as couves, porque não estava para ter o trabalho de mudar o deputado.
Em que país se teria passado isto? Quem adivinha? Diria que esse país poderá ser o nosso e que as vítimas e simultaneamente os culpados somos nós. Não precisamos, pelo menos por enquanto, de mudar os deputados (?). Mas precisamos de que estes mudem a lei. Para que alguns advogados não brinquem com a justiça, através de artimanhas que permitem protelar ou até inviabilizar o justo castigo dos seus clientes. Para que os juízes possam em tempo útil despachar os processos e restabelecer a confiança nos tribunais. Para que a polícia possa perserguir e trazer a julgamento aqueles que atentam contra segurança e a vida dos outros.
E precisamos de desenvolver em nós próprios uma cultura de responsabilidade para que possamos exigi-la também aos outros numa reacção em cadeia. Para que cada um cumpra o seu dever sem pretextos e sem complacências. Exigir isto não é muito. Mas, se todos o fizermos, o clamor chegará aos políticos e eles perceberão que têm que fazer alguma coisa, qualquer que seja o quadrante cromático em que se situam. Afinal somos nós os responsáveis por muito daquilo de que nos queixamos. Porque estamos tão calados e quietos?
Porque não conhecíamos a história do cuco?

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