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quarta-feira, julho 31, 2013

a chamada “Primavera Árabe” está a ser sufocada pelas armas

Perto de 300 pessoas já foram mortas em actos de violência desde que o presidente eleito Mohamed Morsi foi destituído pelo golpe militar no Egipto a 3 de Julho, incluindo os seus 80 apoiantes mortos a tiro durante uma vigilia junto a uma mesquita no norte do Cairo no último fim de semana, o segundo assassinato em massa desde que Morsi foi deposto. Recorde-se que Morsi, líder da Irmandade Muçulmana, foi o mais votado nas últimas eleições, obtendo cerca de 1/3 dos votos expressos. A “crise”, segundo a Reuters (para inglês ver), estaria a “deixar Washington à beira de um ataque de nervos, uma vez que o Egipto recebe 1,3 biliões de ajuda militar por ano”, para cumprir a sua função de pivot aliado Árabe fundamental para a paz no Médio Oriente.

O Governo golpista diz que (apesar de ser o partido maioritário no país) os "protestos da Irmandade Muçulmana deixaram de ser aceitáveis". Os novos governantes do Egipto, “invocando a Constituição e a Lei”, declararam ilegais as duas vigílias levadas a cabo no Cairo por partidários do presidente deposto. Numa declaração televisionada, a junta provisória instalada pelos militares afirmou que os "actos terroristas" e a interrupção do trânsito decorrente das manifestações não eram aceitáveis e "representam uma ameaça à segurança nacional do Egipto" e o Ministério do Interior deu ordens para lhes pôr fim. A Irmandade Muçulmana mantém que os seus partidários vai continuar o protesto até que Morsi seja reconduzido no cargo. Levanta-se assim o espectro de ainda mais derramamento de sangue.

É neste cenário que a União Europeia envia a baronesa Ashton ao Egipto para avaliar as condições de detenção do presidente deposto – e volta dizendo que Morsi tem acesso aos Media – enquanto o exército egípcio nega o uso de balas reais para conter os protestos (sugerindo que os manifestantes atiraram contra si mesmos?), e políticos como o secretário de Relações Externas dos EUA, William Hague, saem a terreiro com pruridos de como se devem opor ao "uso da força". O que é certo é que não há uma condenação clara da Comunidade Internacional face à inversão das mudanças políticas produzidas sob a mira das armas.

A Arábia Saudita e outros países árabes do Médio Oriente, são o que são, e não são democracias, nunca foram atacados pelo vírus facebookiano das “primaveras árabes” (manipulando movimentos sociais, hordas sem organicidade e liderança, sem projecto nem objectivos politicos, que apenas podem produzir rupturas anárquicas) e não ameaçam, não se contrapondo, os interesses das grandes potências. Este é o motivo da deposição do governo Morsi e, ao invés, da ajuda aos rebeldes que actuam em países não submetidos à lógica dos mercados controlados pelos Estado Unidos. Neste cenário, as reformas estruturais não são alcançadas, antes grassando a destruição, o empobrecimento da população e a frustração, sendo a "primavera Árabe" exemplo eloquente desse desastre que consome qualquer hipótese de energia revolucionária. Líderes mundiais como Barack Obama prometeram de modo incessante conter os ditadores "que matam o seu próprio povo". Lembra-se de como David Cameron enviou prontamente jactos da RAF para ajudar a bombardear a Libia de al-Ghaddafi? A "proteção de vidas civis" sempre foi a primeira justificação para o uso dessa força letal, assim como o foi para o Ocidente afinal se declarar favorável às revoluções em todo o Oriente Médio e norte da África. Hoje esses mesmos líderes ocidentais permanecem em silêncio e cúmplices sobre os excessos de um exército que sempre foi a principal base de poder insustentável do déspota egípcio Hosni Mubarak.

Só falta a Síria... as imagens da destruição são impressionantes
Os grotescos assassinatos de egípcios comuns pelos seus próprios militares dizem tudo sobre as falsas promesas da Primavera Árabe. Apenas um ano depois das eleições democráticas que deveriam anunciar uma era de liberdade e estabilidade no terceiro país mais populoso da África, testemunha-se nada menos que uma chacina rotineira nas ruas. Os mortos e feridos por armas automáticas no Cairo ao tentarem demonstrar o seu apoio ao presidente eleito Mohamed Morsi – por homens armados que usam as suas armas contra civis desarmados – e controlam hoje uma cidade que, com as imagens de uma Praça Tahrir repleta e jubilosa, já foi um foco de esperança e optimismo.

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