«Há mais fundamentalistas nos Estados Unidos que no Médio Oriente» (Oliver Stone)
1.
Niall Ferguson, conhecido agente imperialista da linha dura de Kissinger: “Portanto, quem ganhou em 2004 com a invasão do Iraque no contexto da “
declaração da guerra permanente contra o terrorismo” que já tinha sido o pretexto para a invasão e destruição do Afeganistão?
Pode dizer-se que foi a ciência militar de Clausewitz. Os Estados Unidos procuraram
alcançar os seus objectivos políticos pela guerra, que a sua colossal superioridade económica e militar assegurava ser rápida e capaz de cobrar poucas vidas norte-americanas: só houve 91 mortes em combate entre o começo da guerra a 20 de Março e a declaração de vitória do presidente Bush no convés do USS Abraham Lincoln seis semanas mais tarde.
A guerra foi diferente da dos anos noventa.
Depois de muitas conversas sobre “choque e terror”, os bombardeamentos aéreos prévios foram breves e selectivos e a maior parte dos combates ficaram a cargo das forças terrestres, de elevada mobilidade, que avançaram para as principais cidades e depararam apenas com focos de resistência inconstantes. Saddam foi apeado. Depois de uma caçada ao homem que durou nove meses, acabou por ser encontrado num buraco camuflado. E ficou a saber-se que andara a fazer bluff: as buscas iniciais encontraram poucos vestígios, se é que encontraram algum, de armas de destruição maciça ou mesmo de locais onde elas pudessem ser fabricadas. Mas
Saddam foi a principal vítima do logro. Se se tivesse limitado a dizer a verdade aos inspectores em vez de tentar enganar a CIA, podia ter sobrevivido e deleitar-se com uma boa velhice no meio do espalhafatoso dos eus muitos palácios repelentes. E, aliás, até as suas armas convencionais se revelaram praticamente inúteis porque a maioria dos homens que as empunhavam optaram por fugir em vez de lutar.
A guerra contra o Iraque acabou assim por ser mais uma guerra de intenções humanitárias que ninguém antecipara. Na ausência de montes de armas de destruição maciça bem visíveis, as atenções voltaram-se para o segundo objectivo proclamado pela Coligação, que
era a libertação do povo iraquiano da tirania” (pp 272/3)
2. Oliver Stone, premiado realizador de cinema e o historiador Peter Kusnick, tidos como críticos do centenário imperialismo norte-americano, mas na verdade defensores de uma linha soft cujo ícone principal é a dupla de Clintons, o pacifista Carter e outros seres mitológicos, escrevem a “História não Contada dos Estados Unidos” sobre a ascenção e queda do imperialismo, obra considerada indispensável por Mikhail Gorbachev, o pacifista da soft-troika que lançou na miséria milhões de russos, colocando os restantes sob o jugo da máfia capitalista global (dos quais a Rússia se está a gora a livrar com Vladimir Putin)
Outros notáveis dizem ser esta “a mais importante narrativa histórica dos últimos cem anos”, apontando factos da politica excepcionalista dos EUA não divulgados pelos media corporativos, como se não houvesse mais vida para além deles e os crimes do imperialismo não fossem de há muito conhecidos. Sobre as luzes e as sombras do império contam os autores as características únicas que permitem aos EUA moldar o mundo e a forma como as suas acções são interpretadas pelas outras nações. Munidos das mais recentes descobertas obtidas de documentos desclassificados e de investigações de prestigiados académicos, Stone e Kusnick revelam episódios escondidos, chocantes, mas agora documentados. Até aqui tudo estaria no domínio de teorias da conspiração? a saber: 1. os bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagazaki foram militarmente desnecessários e moralmente indefensáveis 2. foram os Estados Unidos e não a União Soviética que mais contribuíram para a perpetuação da Guerra Fria 3. a preferência dos EUA por ditadores de direita em muitos países traduziu-se pelo afastamento do poder de lideres eleitos, pelo treino e armamento de milícias assassinas, e ainda pelo lançamento na pobreza de milhões de pessoas. 4. os fundamentalistas islâmicos financiados pelos EUA que começaram a combater os soviéticos no Afeganistão, vieram depois ameaçar os interesses dos americanos e dos seus aliados. 5. os Estados Unidos usaram repetidamente o argumento da ameaça de uma guerra nuclear e estiveram muito perto de a gerar".
Concluindo, sabendo-se ao que vem Niall Ferguson,
e a parte não vem no livro de Oliver Stone: desde "a ajuda à independência" de Cuba para a transformar num protectorado em 1898 até a invasão da Libia e da Síria em curso desde 2013, passando pelo genocidio de meio milhão de comunistas na Indonésia na
década de 60,
os EUA já invadiram ou bombardearam 151 países (o novo filme de
Michael Moore intitula-se
"Quem é que vamos invadir a seguir?). São mais os países do mundo em que os EUA já intervieram militarmente do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para
mais de oito milhões de mortes causadas pelas guerras imperiais dos EUA só no século XX. E por detrás desta lista escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de estado e patrocínios a ditadores e grupos terroristas. Segundo
Barack Obama, laureado do Nobel da Paz, os EUA têm neste momento mais de 70 operações militares secretas a decorrer em vários países do mundo. O mesmo presidente
que criou o maior orçamento militar de qualquer país do mundo desde a Segunda Guerra Mundial, batendo de longe George W. Bush.