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quinta-feira, novembro 19, 2015

pela última vez, o Ocidente

Em vez da guerra é hora de reexaminar as políticas ocidentais de destruição imperialista. Se estamos em guerra, então porque é que o pânico não afecta os negócios financeiros e a Bolsa de Paris tem o melhor desempenho da Europa? Certo é que as empresas multinacionais fabricantes de material de guerra exibem cada vez mais o seu tenebroso esplendor. Desde que Benoît Challand e Chiara Bottici publicaram na Routledge em 2010 “O Mito do Choque de Civilizações” subsistiu a pergunta: se teria sido provado mais uma vez a máxima de Hegel: “a Filosofia, como a coruja de Minerva, só começa o seu voo ao anoitecer, quando a realidade já completou o seu curso durante o dia inteiro” - ao contrário da coruja, os falcões da politica securitária neo-fascista globalizada que vai tomando forma em nome do keynesianismo militar, parte do principio que todas as pessoas, sem distinção politica ou de cadastro criminal, devem ser presas ontem por um alegado crime que presumivelmente irão cometer amanhã


a tese do "choque de civilizações" produzida por encomenda a Samuel Huntington durante a administração Herbert Bush e publicada em 1996 e o seu "sucesso na capacidade de vender manipulação” ficou a dever-se, obviamente, mais ao seu apelo imaginativo do que à sua capacidade analítica para compreender a complexidade do mundo em que vivemos. Huntington fez um desenho de séculos de estereótipos e teorização orientalista e ocidentalista , romanceando o mito de um confronto entre o Islão e o Ocidente por forma a dar ainda um apelo mais emocional ao choque que se seguiria a 11 de Setembro de 2001. A intenção, e o resultado consumado, da combinação das duas narrativas era que as pessoas não iriam perceber as acções dos indivíduos e grupos que actuam fora de um conjunto mais ou menos complexo de motivações; em vez disso, os leitores-alvo perceberam que civilizações inteiras se chocam umas com as outras. Como tal, apesar das suas falhas empíricas, ou talvez precisamente graças a essas falhas teóricas, o mito do choque de civilizações transformou-se numa profecia auto-realizável: as pessoas acreditam que tal coisa existe e, assim, é deste modo que se tornou real. Se o problema em causa era um grupo jihadista atacando simbolicamente lugares sagrados no coração do capitalismo de acordo com a lógica da metonímia (a parte tomada pelo todo do Ocidente), tendo como contraparte ataques militares defendendo os nossos valores ocidentais, a lógica é entre dois blocos imaginários: as Civilizações, todas elas sendo destruídas no seu conjunto.

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