“Apelar aos trabalhadores sem ter ideias estritamente cientificas ou uma doutrina construtiva, especialmente na Alemanha, equivale à vã e desonesta travessura de apregoar que se pressupõe um profeta inspirado de um lado e do outro apenas asnos boquiabertos (…) pessoas sem uma doutrina construtiva não são capazes de fazer coisa alguma, e de facto nada realizaram até agora excepto fazer barulho, atiçar chamas perigosas e levar à ruína a causa que abraçamos” (resposta de Marx a um opositor na Liga Comunista em 1846)
Marx cita o caso particular da Alemanha, onde o estádio de desenvolvimento tecnológico já tinha criado uma ampla maioria de operários, na época uma classe revolucionária capaz de agir com sucesso na transformação social em direcção ao Socialismo. A Rússia de 1905-1917 não era um país industrializado, não tinha uma classe operária em número significativo, excepto na urbana Petrogrado. Daí a célebre pergunta colocada pelo jornalista americano na entrevista a Lenine no Instituto Smolny: “e propõe-se fazer tudo isso com mais de 90 por cento de mujiques analfabetos? Na verdade em todo o restante e vasto território russo seriam precisos quatro anos de guerra civil e vencer um cerco feroz das potências imperialistas a partir do exterior. Lenine, perante o legado feudal czarista iria “rever” e actualizar o conceito marxista de organização do Partido Comunista a partir da radicalização da ala esquerda da social-democracia: “Todo o Poder aos Sovietes!”. Foi legitimo e teoricamente certo, marxista, que uma minoria liderasse o processo revolucionário até à vitória, adquirida pela conquista progressiva do povo trabalhador para o partido e para causa comunista.
Ponto. 98 anos 98 no futuro, Portugal, perante as classes sociais em presença e a divisão internacional do trabalho vigente, supunhamos que temos um bando de profetas inspirados, aka grosseiros, politicamente analfabetos, sacanas e civicamente malcriados (obviamente há excepções), fazendo um barulho proselitista dos diabos debitando aqui o mesmo discurso de 1917 com destino a supostos asnos boquiabertos?. Poderão montar com relativo sucesso um soviete exclusivo entre eles na Avenida do Brasil, mas não vão conseguir sair à rua, excepto para beber a bica, se entretanto não falirem.
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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quinta-feira, novembro 26, 2015
sobre o Socialismo na era dos Call-centers e do Trabalho Indiferenciado
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2 comentários:
Não alinho nas tuas bocas, mas vamos a factos, um partido comunista deve ser o representante da classe operária ou não? Se sim, onde está a contradição entre o PCTP/MRPP e a teoria marxista??? Também entras em contradição quando concordas com a acção do partido bolchevique dirigido por Lenine, que conseguiu impor a Revolução com o apoio de outras forças, mencheviques, socialistas, camponesas, legado sempre reivindicado pelo PCTP/MRPP.
A luta por um governo democrático e patriótico, a saída do Euro e o não pagamento desta dívida, são reivindicações deste partido e que foram lançadas pelos tais profetas que falas.
Se o partido irá conseguir impor-se como partido operário, não sei, mas o que neste momento o que existia, mesmo com a toda fraseologia dominante não conseguiu, mesmo com puro seguidismo.
E já agora Lenine, sempre teve uma linguagem muito forte e muito mais "grosseira" com os seus adversários...
rien de faire, "bocas"? estás a falar de quê?
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