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sexta-feira, abril 29, 2011

Portugal visto pelo vizinho do lado. Contra o eleitoralismo, o apelo à revolta dos Indignados

“Há uma parte do eleitorado que quer ser enganada” (Miguel Relvas) ou “a abstenção é a maior aliada de Sócrates” (Paula Teixeira Pinto "BCP" da Cruz) são desabafos que levam estas duas personagens a pensar que os abstencionistas não compreendem a natureza do que lhes está a acontecer? Pensarão estas aventesmas que a presumível intenção de voto dos que se abstêm é propriedade integral do PSD?

Silvio Navalón Mañalich no Rebelion:

“Mais perto de nós, afogado na especulação está Portugal. Um país cada vez menos soberano nas mãos dos poderosos sem rosto. Uma economia debilitada pela construção de uma Europa em que as pessoas são meras marionetas do capital. Tudo começou desmanchando a sua actividade produtiva nos anos 80 para acabar dependendo por inteiro dos países mais fortes da vizinhança, incluindo a Espanha. Condenou-se Portugal a ser um receptáculo de turismo nórdico e ponte para se chegar às suas antigas colónias, tanto em África como no caso do Brasil. Não têm faltado corruptores, corrompidos e especuladores que têm ganho dinheiro à custa disso e que enformam uma sociedade profundamente dualista.

Em Portugal continua a haver ricos e muitíssimo ricos, pobres quanto baste e muito pobres. Um país cujo sistema fiscal se afirma por “zorros” que assaltam sempre em detrimento da maioria e a favor de um punhado de poderosos. Recorde-se que o IVA está nos 23% com a quase certeza de subir para os 25%. Isto demonstra as claras injustiças redistributivas dos impostos indirectos
É certo que nestas circunstâncias, os gastos sociais têm sido e são uma boa parte das despesas do Estado. Porém ninguém imagine que o são pelo que recebem os seus cidadãos, que são os mais afectados. O salário mínimo interprofissional situa-se abaixo dos 500 euros e o nivel de pensões mínimas em 375 (embora não seja cumprido, porque há milhares de pensões entre 200 e 300 euros). Os sistemas de Educação e Saúde públicas não são nenhum luxo, a maior parte das auto-estradas são pagas e não existem comboios de alta velocidade.
Apesar de tudo isto, os três planos de austeridade aprovados, o quarto falido e os presumíveis ajustes da Troika apontam sempre para os mesmos. Assalariados em geral, funcionários públicos em particular, pensionistas… deixam boa parte da população num nivel de subsistência para que sejam devolvidos os juros de uma dívida que não criaram nem da qual disfrutaram.
Outro capitulo é o interesse pelas privatizações. Recorde-se aqui que as empresas públicas (a petrolífera GALP, a eléctrica EDP, a gestora de aeroportos ANA, a linha aérea TAP e as telecomunicações PortugalTelecom) representam uma bom negócio para serem compradas a preço de saldo… e abutres não faltam. São os mesmos abutres que tornaram possível a dívida privada de Portugal que atinge os 220 % do PIB, à frente da dívida pública que é de 97,2 % nas últimas revisões. Quer dizer que os especuladores se baseiam na quantia da dívida que eles mesmo criaram para subir os juros dos empréstimos a Portugal e desste modo desmantelar as prestações sociais, desregular os direitos dos trabalhadores, privatizar para que se atinja a cobrança de juros e lucros. Trata-se de uma redonda manobra especulativa. O Banco Central Europeu cede-lhes o dinheiro a 1% e eles estão a cobrar a cerca de 10% e de caminho fazem com que as riquezas de um país cuja população se rendeu tenha sido desmantelada e não tenha capacidade de resposta
Efectivamente a construção europeia significava perda de soberania dos Estado membros em algumas questões, por forma a conseguir uma unidade politica, social e económica. A Europa dos mercados impôs-se a si mesma e aqui não existem poderes que possam enfrentar a plutocracia. A moeda única tem sido um claro despesismo para os países periféricos. Agora o que se apresenta para Portugal é a perda total da sua soberania. É um autêntico golpe de estado.

(…) o que fica aqui assinalado não deixam de ser indícios. Jogam contra o medo, na clara desconfiança no papel da democracia e na falta de meios de comunicação, todos eles na mão do arco de governabilidade. A chave para que se produza uma inversão é a da participação democrática dos “indignados”. Se existe uma transferência de votos e votam todos os que se propõem abster-se, poderia ocorrer algo similar ao que se está a passar na América Latina” (fonte original)
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