O senhor Ministro das Finanças hoje não compareceu na AR, anda ocupadíssimo com o trabalho nas costas do povo. E no entanto é a única personagem que merece metade de uma linha de comentário sobre este governo ulltra-activista de contraparte da bem urdida (sob a alta supervisão de Cavaco Silva) e preparada herança “socialista” de José Sócrates. A qual não foi posta em causa. Como Obama não questiona Bush.
Vitor Louçã Gaspar fez carreira, (e continua a fazê-la), como funcionário desta União Europeia. Imperturbável, ser neo-liberal não o ofende – como alguém disse, se as televisões quiserem ganhar audiência devem fazer um concurso-show com um prémio de 10 mil euros para quem conseguir irritar o homem. Com a sua novilíngua codificada nos números do economês global, Gaspar vai ficar na história mais por aquilo que não diz. Disse o essencial na Univ. de Verão do PSD: que todos estes crescentes planos de austeridade se destinam fundamentalmente a colocar Portugal de novo “com acesso aos Mercados” a breve prazo (2013)
Existe uma grave crise na capacidade do chamado Estado-nação soberano (1), que está em transformação devido à imposição de politicas de organizações supranacionais a favor da Sociedade de Accionistas Globais cujo número não excede os 300 milhões de pessoas – uma ínfima Burguesia transnacional (2) numa população mundial de 6,96 mil milhões – escravizados em massa pelas elites dos regimes nacionais de cobrança de impostos desproporcionais em relação à possibilidade de obtenção de rendimentos de subsistência. É esta a génese dos “Mercados” do ministro – na sua lógica dos pistoleiros que ao melhor estilo do far-west fazem a sua própria lei. A corja pseudo-empresarial (sem preocupações sociais nas empresas) que se acoita por detrás desta Besta define inimigos apenas de forma ideológica: todos aqueles que rejeitam o modo de vida norte-americano.
Há espera de uma gratificante festa nas orelhas por parte dos donos trabalham e passam a vida a ganir por um sistema de Estados-satélite ou Estados submissos ao Império. Para já beneficiam do medo e do terror causado na pequena burguesia alvo do marketing de consumo de massas mas que secularmente deposita em si as esperanças dos ideiais do Iluminismo do século XVIII – se não houver patrões quem é que paga os salários? Mas a vida até para os cães de fila está má, cada vez têm menos força para mijar para as botas que lambem, doravante as dos falcões do Pentágono e da NATO: os Estados Unidos como país nacional e entidade politico-económica em 1945 representavam 40% da produção industrial global de produtos manufacturados – em 2005 representavam apenas 22,4% (3) e, com o agravamento da crise a partir de 2008 essa percentagem caiu a pique. Há aqui uma acção concertada dos agentes da burguesia transnacional para a desindustrialização da economia. Em todas as linhas, menos numa: a produção de material de guerra. É desta confraria que o recém chegado “socialista” A.J. Seguro (ou o clone F.Assis) com o seu discurso liofilizado é também sócio (4). A conquista de mercados por acções “apartidárias” das forças armadas banalizou-se: a Europa procura a saída da crise do Euro na invasão da Líbia, mas os bancos europeus para serem admitidos como partners no negócio precisam de se refinanciar com dólares impressos pela Reserva Federal norte-americana, um consórcio de bancos privados controlados maioritariamente por interesses judaicos
A lógica da pequena elite que governa os “Mercados” é tão irracional e representa no século XXI o mesmo papel que profetas, místicos e clérigos representaram no século IV ao erigir as riquezas da Igreja católica sobre os escombros do demolido Império Romano às mãos dos bárbaros. A grande herança cultural do Ocidente é a das tribos germânicas do norte da Europa que triunfaram historicamente (5), não é a das imagens icónicas de santinhos de que os bispos fizeram Arte – para melhor controlar pelo medo a Deus multidões de sub-humanos secularmente escravizados na Europa do Sul.
Se alguém, mil novecentos e trinta anos depois, ainda reindinvicava a “saudação romana” como mote para equilibrar essa entidade dúbia que são “as Finanças da Nação”, então na reconversão para o regime “democrático” Vitor Gaspar é agora sem nenhuma dúvida um dos arcebispos desta Igreja. O grande ministro do concílio de Pedro (o insignificante passos coelho) é um assumido funcionário da nóvel classe da burguesia transnacional – que se opõe e resolve através da compra de governos a seu favor a contradição com a pequena e média burguesia que ficou aprisionada dentro das fronteiras nacionais. Vitor Gaspar é funcionário de gentinha armada ao pseudo-empresário tão imberbe como o merceeiro Alexandre Soares dos Santos. (6) Na verdade este patrocinador das campanhas eleitorais de Cavaco Silva é uma mera rodinha dentada na engrenagem da concentração e tomada de posse dos Mercados pelas grandes empresas multinacionais. Quando tudo estiver acabado (a “crise”) o tecido económico até aqui ocupado pela pequena e média burguesia terá sido destruído. O “Mercado” (os tais 300 milhões de accionistas que contam) será a partir daí dominado em regime de monopólio pelas grandes cadeias de empresas com actividades transnacionais, quer dizer, do que se vai vendo disto, quando o panorama na comunicação social está exposto exclusivamente a patrões e merceeiros está tudo fodido.
“Fuck Your Money” na gíria da elite de negócios yankee (traduzido em linguagem crua “recontrafoder o dinheiro” que se conseguiu extrair do sistema) é uma metáfora para dizer que o colocaram num sítio onde está ao abrigo de cobiças, seja de um eventual credor armado em esperto, do simples litígio com um ex-cônjuge, ou, mais importante, do Fisco (7). Este esquema de fuga e evasão fiscal começou obviamente com os capitais depositados nas caixas fortes dos bancos da Suiça, um paraíso no coração da Europa. Mas em 1932 um escândalo causado pela divulgação por funcionários bancários de uma lista de 1500 grandes fortunas de industriais e aristocratas que fugiam aos impostos (entre os quais os irmãos Peugeot) obrigou a Suiça a emitir um decreto em 1934 que punia com pena de prisão ou multa agravada "todo aquele que tendo conhecimento da identidade dos clientes no decurso da actividade profissional a revelasse a terceiros infringindo o sigilo bancário” (8). O artigo 47º dessa lei foi redigido para fingir que a lei foi introduzida para defender os judeus alemães que tentavam pôr os seus bens fora do alcance do regime Nazi. Porém, conhecidas que são as relações entre a Suiça e o Reich alemão nessa época, sabe-se que esses bancos se interessaram mais por “arianizar” a identidade e os depósitos dos seus clientes. (9).
Foi assim que se iniciou a génese dos paraísos fiscais, logo que no pós guerra se fundou o 1º off-shore em Nassau para depositar o dinheiro oriundo do jogo dos casinos da costa dourada da Flórida (10). Hoje o planeta das finanças off-shore conta, como muito bem sabem os homens de mão do presidente Cavaco (como o ex-conselheiro de Estado Dias Loureiro, ou o ex-presidente do PSD Duarte Lima) com centenas de locais com as mais diversas formas de isenção e encobrimento de capitais (11) e os tradicionais serviços da banca Suiça viu aumentada a sua influência para 376 bancos recenseados (12); como muito bem sabe o ex-ministro das Cidades de Durão Barroso que ainda responde em liberdade pelo seu nome: Isaltino Morais, ou o 1º ministro Sócrates re-empossado por Cavaco apesar das inúmeras suspeitas). Muitos desses paraísos fiscais, ou até países criados para o efeito com direito de voto na ONU (como Nauru ou Vanuatu) negam, à revelia das tentativas de controlo da fraude, corrupção e terrorismo, qualquer colaboração com autoridades nacionais. Na lista negra dos mais importantes estava o Estado de Israel (13). Mas não é de corrupção, banditismo ou terrorismo de Estado que tratam estas listas. Os negócios e movimentação de capitais da nova burguesia transnacional são considerados actividades capitalistas honestas. Estão isentos de controlo (14) e, como é evidente, o mal dos muitos que estão à rasca é o bem dos poucos que sacam fortunas.
notas
(1) "Globalização, Democracia e Terrorismo", Eric Hobsbawm, 2007 (recensão)
(2) “O Capitalismo Total", Jean Peyrelevade, 2005, pag. 54 (NovaVega)
(3) ONU Industrial Research Update
(4) De facto os Globalistas com ambições a um governo único mundial investem sempre nos dois lados das entidades em aparente conflito, mas que mais não fazem que revesar-se alternadamente no Poder.
(5) Ver: a Ética Protestante e o espírito Capitalista em Max Weber (wikipedia)
(6) Este dono de uma cadeia de supermercados afirmou em entrevista à SIC que "o povo polaco", antes dele chegar a esse mercado, "era muito atrasado porque não sabia o que era uma Banana!" Actualmente toda a Polónia já percebe de economia bananeira – por exemplo, os estaleiros de Gdansk onde começou a revolta anti-comunista são hoje propriedade privada de um magnata oriundo da Ucrânia, vinte anos depois um dos povos mais pobres do antigo Pacto de Varsóvia.
(7) “O Dinheiro Secreto dos Paraisos Fiscais” de Sylvain Besson, Editorial Caminho, 2006, pag. 67. (recensão)
(8) Idem, obra citada, pag. 68
(9) Nicholas Faith, “Safety in numbers: The Mysterious World of Swiss Banking”, 1983 (recensão)
(10) ler: Biografia do chefe da máfia judaica americana Meyer Lansky (wikipedia)
(11) List of offshore financial centres
(12) Paolo Bernasconi, “Le Secret Bancaire Suisse”, 1995
(13) FATF Blacklist
(14) Da problemática da Dívida Pública (Resistir)
(15) Gravura: “The brutal tectonics of neoliberal globalization"
.
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
Pesquisar neste blogue
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário